23/01/04

Os meus mortos II

Eu amo os MEUS mortos !!!
E os MEUS mortos são MEUS porque eu lhes consegui dizer : ADEUS !

O dizer "olá" a quem nasce e "adeus" a alguém que fisicamente deixou de existir é a base da aprendizagem da vida.

A vida tem duas componentes essenciais : o nascimento e a morte. Simples , né ?

O nascimento só é completado com o baptismo (leia-se "baptismo" como acto de recencear), isto é, com o NOMEAR, o dar um nome , dar uma individualidade/personalidade a um novo ser….A partir daí é todo um percurso em que a admissão da morte anula a lacuna na relação que temos com a vida …

O saber que a morte é o auge da vida , torna-nos tão humanos que tememos a morte pelo que não fizemos … pelo que fica de nós por partilhar… pelo que omitimos… É esse o medo que deveríamos ter: o medo de não termos sido capazes!

Todos os seres humanos e religiões têm os seus ritos e rituais para estas "apresentações" e "despedidas" ao e do mundo"…mas a cultura "moderna", esvaziada da ritualização, criou o vazio da compreensão destas fases da vida…
Transformar o físico morto em lembrança viva é o que conta. E, para isso, o dizer ADEUS, o olhar o morto, é importante para o recordar… Porque, afinal, recordar mais não é que o fazer passar de novo pelo coração… E só recorda quem pode dizer adeus…

Porque, meus amigos, "escapar" a um problema (o fingir que a morte não aconteceu…) é, para o senso comum, uma cura básica… No entanto, o resultado dessas "escapadelas" é o ficar cada vez mais ignorante… da vida… e da morte dos que amamos…

Eu quero recordar !!!

JR 03/jun/98
Mestre na Vida com Doutoramento Em Mortos Amados

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