30/11/04

Começo a ter cada vez menos paciência para...

  • ...situações dúbias;
  • ...politicamente correcto, o que quer dizer genéricamente...hipócrita;
  • ...moralistas de meia tigela;
  • ...tontinhos;
  • ...gente que se acha vítima de tudo...quando apenas o é de si própria e da sua estupidez;
  • ..."sábios" que mais nada sabem que não seja repetir ideias alheias, em geral de autores consagradas, como convém;
  • ...pomposos de meia tigela debitadores de palavras, meras palavras;
  • ...idiotas disfarçados de ingénuos;
  • ...vendedores de banha da cobra intelectualóide;
  • ...profundos que apenas planam na superfície;
  • ...fanáticamente tolerantes;
  • ...deprimidos e depressivos;
  • ...escritores que nada escrevem;
  • ...amadores que nada amam;
  • ...amantes sem paixão;

(...ele há mais, muito mais, mas...falta-me a pachorra para continuar a lista!:->)

...o que talvez queira dizer que começo a ficar cansada de toda a gente...

***...***...***
(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

24/11/04

...que mais poderei dizer senão que anda tudo muito inspirado...menos eu!:-(

  • «porque as respostas servem para tornar as “coisas” finitas»

in Neo-normal

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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

...se eu soubesse escrever, escreveria poemas destes...(?)

...quando me preparava para pedir autorização para "plagiar" este poema:

«(...)
Apesar de por vezes pensar
que posso sentir tudo,
não sei como me sustentaria
dessa substância chamada felicidade,
se não soubesse que tu ainda
sabes existir
como só tu sabes...»

...sai-me, a seguir, este:

«(...)

Enlaçamo-nos depois
quando o mundo se prepara
para acabar com a poesia
onde aflitos nos sabemos a afundar »

  • in SULturas

    ...e eu fico sem coragem para mais que não seja um simples linkar porque não quero perdê-los...


    ***...***...***
    (Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

23/11/04

23.11.2003...Faz hoje um ano!

»»»»(...)
...por falar em referências literárias, fazes-me falta!...lançaste-me às feras e depois abandonaste-me!...e agora que faço com as dúvidas?!?...na falta de solução abandonei os "teus livros"!, fujo deles como o diabo da cruz!, nunca mais leio Jack London; ou Bartleby...menos ainda Vergílio Ferreira, já para não referir o teu amado Montaigne que esse, sem ti, para mim é chinês!

(...)...não é amor...se amamos deus e o diabo???«««««


  • ...mantenho tudo!...menos a fuga às leituras...como poderia assim fazer?
Engraçadas estas "juras" que se fazem...melhor dizendo: engraçadas depois do tempo as retemperar de distanciamento e senso, bom ou mau pouco importa. Há, na realidade, uma mestria inigualável na forma como o tempo nos cura as feridas, daí tornar-se engraçado - depois do tempo passado! - olharmos para trás e percebermos o quanto somos "ridículos" nos nossos desesperos de abandono...


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

21/11/04

'Envelhecer é também passar da despesa do tempo à sua reinvenção no absoluto da memória.'

«(...)
Mas esta lição (ou condição) proustiana tem em Vergílio Ferreira as condicionantes contemporâneas de uma sociedade tardo-capitalista, aquela em que a redescrição metafórica do que foi não pode já competir com os meios tecnológicos de representação (cinema, TV, vídeo, etc.) e por isso constrói a afectividade do acontecimento puro: " Não bem o seu corpo esbelto como um voo de ave, mas só esse voo. Não bem a sua juventude eterna mas a eternidade. Não o gracioso dela mas a graça " (Em Nome da Terra , 1990).

Claro que há ainda romance, e até na sua dimensão mais consensual e acidentalmente romanesca, que é a da história de amor. Mas se, na sequência da tradição, também aqui o amor é aquilo que só se sabe depois, diferentemente dela, este depois não é a origem reencontrada mas um frágil presente que se sustenta apenas da escrita do nome amado, como em Cartas a Sandra, (...)»


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

O 'optimista céptico'

«Portugal está inspirador para escrever uma ópera bufa...Isto está tristemente cómico...Eu estou espantado...»

...mas, porque te espantas, Jorge?!?...tens andado a "dormir", pá...;-)

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15/11/04

"Todas as Cartas de Amor são Ridículas"

Love by Ingrid Sehl



Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.


Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos

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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

...já ñ me lembro onde fui buscar isto...há uns anitos atrás!;-)

«No consultório, idêntico e banal a todos os outros consultórios, o médico sentara-se e pronunciara a imaginativa frase:
“Então o Sr. começou a consumir a partir de que idade?”
“Bem... devia ter 12-13...”
– respondi, obrigando a memória um esforço mais difícil do que o esperado.
“E começou com coisas leves, não foi? Tem ar de isso...”
– foi a resposta-pergunta autómata do médico. Irritou-me o ar disso, ao q respondi:
“Acha ?”.
“Sim, jovem, você é um caso idêntico a uns poucos que por aqui têm passado”
- disse com uma certeza que nada tinha de arrogante, mas que tudo tinha de certeza.
“Aliás” – continuou –
“começou bem mais cedo... não foi?”.
“huuuu... sim, se contarmos com...”
– mas fui interrompido pela análise certeira –
“...se contarmos com os habituais álbuns aos quadradinhos...os Disney...que no seu tempo chamavam-se Disney Especial ou Almanaques...produto de origem brasileira e com preço em Cruzeiros... Cruzeiros... toda a gente agora julga que isso é uma viagem de barco oferecida pelos hipermercados”.
“Depois”
– prosseguiu com um entusiasmo estranho –
“começou com a enfadonha Enid Blyton e derivados... já apanhou a produção nacional...A Colecção Uma Aventura...meteu-se por aqueles clássicos supostamente para jovens...tem ar de ter lido Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo, Ivanhoe, A Ilha do Tesouro...”.

Eu, já havia ultrapassado a fase da surpresa e entrara na do tédio. Observara-o durante esse período...o típico médico barbudo, por desleixo, de meia-idade avançada, corroído pelas atitudes contrárias aos conselhos que dava aos pacientes: garrafas cor-de-chá da Escócia e pauzinhos de fumo de Cuba.

Havia parado com a descrição e feito uma pergunta:
“Quando é que você começou a consumir coisas deprimentes? A ficar angustiado com o que consumia?
”Rebolei os olhos na direcção das minhas sobrancelhas, na idiota tentativa de fazer accionar o meu apático cérebro.
“Hummm... comecei a pensar em certas coisas e a ter as minhas primeiras risadas amargas (efeito do produto) com a “inocente” Mafalda... lembra-se dos álbuns da Dom Quixote?”.
“Ó homem”
– interrompeu, novamente, naquele estilo típico das profissões pseudo-liberais –
“... isso não era nada! Ah! Ah! Ah!”
– parou de rir subitamente e disse, com ar sério –
“Agora você está de tal maneira q já há muito q não dá vazão... já só os compra... é bem feito... começou a ler os espessos germânicos... Mann, Hesse, Musil, Remarque ou o larilas do Zweig...e nunca mais os acabou...e meteu-se logo nos russos...Dostoievski, Gorki, Tolstoi, Puchkin, Goncharov, Soljenitsin... por Deus, homem, você só os compra...já nem os consome! Mas sabem o q é q dizem de si, homem? Dizem que você até consumiu os discursos do Andrei Gromiko!!!! Tenha controlo sobre si... E é para isso que eu aqui estou! Para te ajudar, rapaz.”

Apesar de perturbado, incomodara-me mais a minha despromoção de homem para rapaz, do que aquilo que eu já sabia. Mas ele continuava, qual Pe. António Vieirado alto do púlpito, de verve incontrolável:
“ Primeiro umas recomendaçõezinhas: o Sr. não passa em ruas com livrarias!”
Aí saltou-me um incontrolável “Mas”.
“Homem não há mas nem meio mas...”
– havia sido promovido! –
“... o que é que aconteceu da última vez que você passou numa rua com uma livraria?”.
“Bem... olhei a montra... e...”
-interrompido outra vez, pelo Dr. Coito –“
E entrou! E o q é q você disse à empregada? Vá lá diga...”
- e respondi eu de tal forma em surdina, que não se ouviu, pelo que tive de repetir:
“... Perguntei à empregada quanto custava toda uma estante de livros..”.
“Pois!”
– atalhou ele novamente –
“mas quem no seu perfeito juízo quer comprar uma estante cheia de livros?!?!”.
“Mas era a estante dos norte-americanos... que mal faz um F. Scott Fitzgerald?”
– argumentei eu.
”Muito já viu o tamanho de Belos e Malditos ou de Terna é a Noite e não me venha falar do dissimulado do Lewis Carroll... mas em frente . Segunda recomendação: não se encontra com outros dependentes. Já foram uns quantos capturados quando conspiravam numa cave soturna para roubar um expositor, como é o caso do meu próximo cliente, dependente em cd’s, e apanhado a empurrar o expositor de música pop britânica pela porta da Valentim de Carvalho a fora... lembre-se disso! Agora a receitazinha: vai tomar a seguir às refeições uma leitura de Jackie Collins e uma de Paulo Coelho. Antes do adormecer leia umas quantas páginas de Susana Tammaro (que tem umas capas bonitas)e ao acordar Margarida Rebelo Pinto.”
“Qual livro Sr. Dr?”
“Homem, Sei lá.”
“Como? Ah! Já percebi, q coincidência!”
“E gradualmente vai deixando de os ler... até passar só a ler os rótulos das garrafas de cerveja...
”Fez-se um silêncio de fim de conversa...ao q me lembrei de perguntar:
“E os pesadelos Sr. Dr.? Que faço com os pesadelos?”
“Os pesadelos?!! E com que é que você sonha?”
“Sonho que ando pelas ruas e encontro antigos colegas de escola...”
“Mas, homem, isso não são sonhos, isso é a realidade!”
“Ah!”
“Mas como estão eles?”
“Quem?”
“Os seus antigos colegas de escola... como estão eles?”
“Bem... elas, estão dando uso aquilo a q a mãe natureza lhes deu em favor da perpétua continuação da espécie e perpetuam-na... se antes pedíamos pelos raios solares para as desnudarem... hoje pedimos pelas mais fortes chuvadas e por uma ou outra cheia... Eles...passam os fins-de-semana a limpar peças de motores de automóveis e matam os tempos livres com Artes Marciais...nunca leram um livro.”
“E fazem bem, homem, porque é que você não se mete numas Artes Marciais tb, no karaté, no aikido?“
A própria expressão Artes Marciais parece-me uma contradição...desde quando é q dar um pontapé em alguém é Arte? E o objectivo do aikido é exactamente fazer o atingido dizer aikidoi...”
“Lá está você a desconstruir tudo... não devia ter lido esses russos e dos portugueses só devia ter lido o Júlio Dinis! Quem o mandou ler Lídia Jorge!? Olhe o que você precisa é duma viagem de férias... pq não vai a Ibiza ou a Cuba?”
“Mas, Sr. Dr. isso não são lugares para onde os finalistas e/ou licenciados dos mais diversos anos de ensino e cursos vão para arranjar sexo mais ou menos grátis, afastado dos olhares e moralismos indiscretos dos vizinhos e familiares? Doc , não passou o Sr. férias em Cuba o ano passado...como a maioria dos seus colegas?”
“Como?”
– interrogou-me o médico ligeiramente embaraçado e depois com confrangedora honestidade prosseguiu –
“Sim, passei férias em Cuba... e sim é verdade: estavam lá mais colegas meus do que na Consulta Externa... mas fui a conselho médico...talvez não saiba mas... eu era viciado em Vergílio Ferreira, já ia na terceira leitura de toda a sua obra, Conta Corrente inclusive...”.
Fez-se silêncio longo. O médico havia-me tocado com aquela confissão... era um de nós... dependentes! Levantei-me, cumprimentei-o e saí. Parei a meio da rua... olhei para trás, para o consultório... respeitosamente.Voltei costas e prossegui... sempre em silêncio...como se estivesse a ler um livro.»

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14/11/04

O Telemóvel

mudou o amor?

Eu compreendo Pacheco Pereira na sua aversão aos telemóveis - a Vanessa não. Também eu, muitas vezes, não quero ser encontrada - a Vanessa quer, quase sempre. Na quinta-feira à noite, apetecia-me discutir o artigo que Pacheco escreveu no PÚBLICO sobre o novo "big brother" em que o monstrinho se tornou, em diversos cambiantes, mas ela não me deixou entrar por aí.

- O telemóvel mudou o amor.

Eu pretendia iniciar um discurso politicamente correcto sobre a imunidade do sentimento a qualquer conversão tecnológica. O amor é o amor. Ponto final (talvez).

- A paixão, estou a falar da paixão. Da sedução.

Também tentei começar um discurso politicamente correcto sobre a distinção entre o amor e a sedução, mas, mais uma vez, ela não deixou.

- Era tudo muito mais difícil antes dos telemóveis. As mensagens escritas vieram modificar a situação, para melhor. A trabalheira que dava iniciar processos de sedução antes da mensagens escritas! Disso já ninguém se lembra, da terrível dificuldade de localizar o outro, conhecer-lhe os caminhos, identificar-lhe as rotas, procurá-lo em lugares onde não estava e incessantemente provocar encontros fingindo que não eram provocados. Hoje, a questão está simplificada e muito bem. A escrita estimula a sedução e torna as "tampas" menos dolorosas.

- Menos dolorosas?

- Queres comparar, não? Queres comparar a dor de uma "tampa" olhos nos olhos a uma "tampa" através de uma mensagem escrita? Isto é válido para quem dá e para quem leva. É mais fácil dar uma tampa por SMS: não se responde. Ou responde-se com uma banalidade qualquer. O outro não nos vê, só nos lê. Lida-se melhor com uma "tampa" lida do que com uma "tampa" falada. Acho eu. O que isto veio facilitar a vida aos tímidos, que é quase toda a gente menos eu!

Talvez ela tenha razão. Enfim, até há coisas que não se dizem - só se escrevem, porque a escrita suporta melhor o território da ironia, do disparate, da paráfrase, do implícito. A escrita defende-nos: ninguém é o que escreve e isso pode ser sempre alegado em nossa defesa (se for o caso).

Mas o telemóvel não mudou o amor, o amor não muda por causa dos avanços tecnológicos.

- Isso é que muda. O telemóvel veio trazer a omnipresença aos amantes: o poder, a qualquer hora, permanentemente, entrar em contacto com o objecto de paixão é uma bênção. Isso muda o amor. Ama-se mais, acho eu. Ou, pelo menos, abre-se essa possibilidade.

A Vanessa tem muitas teorias, eu poucas. Mas, lembrei-me agora, só o telemóvel permite que numa fila de multibanco em Lisboa um sujeito envie uma mensagem a dizer "amo-te" a um sujeito que se balança numa rede no Alentejo e que, no instante em que carrega no "send", veja um sinal de "mensagem recebida". Numa rede do Alentejo, balançando, o sujeito diz, ao mesmo tempo, numa maravilhosa e única simultaneidade, "amo-te" ao sujeito da fila do multibanco em Lisboa. Só o telemóvel, quando cumpre essa simultaneidade misteriosa, prova que tu estás a pensar em mim exactamente no mesmo momento em que penso em ti. Com o "mail" isto também é possível, mas raramente o levamos para a bicha do multibanco.

Por ANA SÁ LOPES, Jornalista, PÃO E ROSAS, Domingo, 14 de Novembro de 2004, in Público



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13/11/04

Mais viagens de comboio

10 de Novembro

VIAJO DE COMBOIO
todas as semanas. Porto-Lisboa. Lisboa-Porto. São três horas de pura delícia que obedecem a ritual estabelecido. Entro em Campanhã, instalo-me no lugar. Descalço-me. As meninas da CP, que obviamente já me conhecem, não ousam servir-me um «sumo», ou um «guaraná». Passam directamente - e discretamente - para bebidas mais proteicas. Entre Campanhã e Aveiro, ponho as notícias em dia. Três jornais diários - dois portugueses, um inglês. Em quarenta e cinco minutos, eu e o mundo tratamo-nos por tu. Em Aveiro tudo muda: recosto-me na cadeira, desaperto levemente o nó da gravata e sei que, até Coimbra, não há incómodos. O telemóvel permanece confortavelmente desligado. Acordo em Coimbra. Foram quarenta minutos de ronco suave - ou, como dizem os americanos, «the beauty sleep». Faço dois ou três telefonemas (profissionais), mais dois (sentimentais) e mais um (puramente clínico). Entre Coimbra e, digamos, Santarém, vou tomando notas para artigos diversos. Uma frase. Uma ideia. Um assomo de delírio. E de Santarém a Lisboa, é o grand final: trinta ou quarenta páginas de uma biografia, de um romance, de um ensaio. Quando chego a Lisboa, com a Cavalleria Rusticana a soar triunfalmente no portátil, sinto que rejuvenesci vários anos e, mais, que aquelas três horas foram as três horas mais felizes da minha miserável semana. Sem falar da nobre arte do engate, que ganha no comboio uma dimensão de cinefilia. O bar. A inesperada companhia de viagem. Os corredores, onde se cai sempre para o lado errado. E, claro, as minúsculas e tremidas casas de banho, cujos lavatórios foram anatomicamente concebidos por Cupido lui-même. Pois bem. Este mundo vai acabar. De acordo com o optimismo do tempo, Porto e Lisboa estarão a duas horas de distância. Talvez menos. É o TGV. É a adoração orgásmica da velocidade e a ânsia doentia de chegar. A ejaculação precoce do executivo moderno, sempre pronto a trocar o avião pelo comboio - desde que o comboio, claro, seja rápido e asséptico. Esta gente vai invadir o meu paraíso. Bárbaros igualmente produzidos e vestidos, a beber «Ice Tea» (não vomitem), o cabelo empastado com resina - e uma obsessão patológica por «mercados», «montes alentejanos» e «as tetas» de uma galdéria qualquer. O TGV não me rouba apenas uma hora de prazer inofensivo. O TGV acabará por liquidar um dos últimos vestígios de genuína civilização.


in





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12/11/04

Encontros e Despedidas

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero


Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar


E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

(Milton Nascimento)


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Regressam Hoje, em Noite de São Martinho, as Tertúlias do Café Martinho da Arcada, em Lisboa, Após Um Interregno de Sete Anos. Quinta-feira, 11 de Novembro de 2004, in Público


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11/11/04

'Histórias do Telemóvel?'

« Por JOSÉ PACHECO PEREIRA
Quinta-feira, 11 de Novembro de 2004, in Público

A namorada - Onde estás?
O namorado da namorada - Estou aqui.
- Aqui aonde?
- Aqui... estou a estudar em casa.
- A estas horas, em casa? Mas que barulho é esse?
- A televisão.
- Parece o mar, estás-me a mentir. Põe lá a televisão mais alto, para eu saber se estás em casa e não na praia.


(...)

Claro que, como em quase todas as coisas, tudo se pode aceitar ou recusar, mas estas tecnologias vão colocar novos problemas em sociedades em que cada vez mais a "confiança" é testada num quotidiano espectacular, observado em tempo real ou quase real, sem fugas para espaços que não tenham sobre eles olhares, sem silêncios, nem discrições, obcecadas com uma falsa transparência que impede a espessura e o sentido. Já não é o Big Brother a olhar para nós, somos todos a olhar para todos. É a "aldeia global", mesquinha, pegajosa, que sabe tudo e espia tudo, toda contente com os aparelhos mágicos que tudo transmitem e tudo recebem. »

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10/11/04

'VENEZA AOS GATOS'




Lisboa às moscas e Veneza aos gatos...
(os pombos da bondade só conspurcam
a praça de S. Marcos)
...ao gato perna alta que não vem quando o chamas,
ao contrário da patrícia mosca
que não era para aqui chamada,
mas logo te soprou os últimos zunzuns
mal chegaste a Lisboa

O gato de Veneza não te dá pretextos
para miares o que te vai na alma,
nem os sacros temores da miaulesca
esfinge rilkeana.
Não é um gato é um perfil de gato
Tapando a saída da calleta.

O gato veneziano é um gato sem regaços
e sem selvajaria.
De Veneza o gato é sempre muitos gatos
que vão à sua vida...

...como tu, afinal, não vais à tua.

(De Veneza a Lisboa, num zunido,
já trazias a mosca no ouvido...)



(Alexandre O’ Neill, Feira Cabisbaixa, 1965)



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08/11/04

'Para Cada Um Sua Verdade'


Por EDUARDO PRADO COELHO
O FIO DO HORIZONTE
Segunda-feira, 08 de Novembro de 2004, in Público

«Uma das coisas que mais impressiona é o tipo de perfil da nova geração da direita portuguesa. É evidente que em toda a Europa estamos longe dos Willy Brandt ou dos Mitterrand ou dos Mários Soares, ou dos Jacques Delors, de toda uma sequência de gerações que se distinguia pela qualidade política, a energia intelectual, a grandeza literária e a força dos ideais. Pouco a pouco, a lenta erosão da política no pântano económico conduziu-nos a novas gerações em que os políticos parecem de plástico e os discursos parecem de papelão. (...)»

*****
Que mais há a dizer desta nova geração de portugueses? Pelo menos desta geração que chegou ao poder...
Já não há rebeldes...Já não há heróis...Somos uma cambada de carneiros...

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'A Vida é um Milagre'

Dizia eu, há dias, que o Before Sunset me tinha marcado como há muito não acontecia, pois...este nem se fala! Um hino à ternura, aos afectos...ao amor fora de moda...

******

Quase seis anos depois de ''Gato Preto, Gato Branco'', Kusturica regressa com uma história de amor passada na Sérvia antes e durante a guerra da Bósnia. A personagem central é Luka (Slavko Stimac), um engenheiro sérvio de meia idade, que vai com a mulher e o filho para uma aldeia no meio do nada, para ajudar a construir uma linha de caminhos-de-ferro que transformará a região num local de turismo.

As suas principais preocupações são a carreira futebolística do filho Milos (Vuk Kostic) e o estado de espírito de Jadranka (Vesna Trivalik), a sua desequilibrada mulher, que não consegue lidar com o facto de a sua fama como cantora lírica ter desaparecido. É nesta micro realidade que esta família vive, alheada da corrupção que grassa na cidade e da eminência da guerra.

Quando o conflito bélico estala, a vida desta família começa a desmoronar-se: o filho é chamado para combater e a mulher foge com um músico húngaro. Com o sonho de rever o filho, que é feito prisioneiro, Luka aceita ficar com a guarda de Sabaha (Natasa Solak), uma refém muçulmana que pode servir como moeda de troca para recuperar Milos.

Mas o amor não conhece raças nem fronteiras e este rapidamente se apaixona pela sua prisioneira. Finalmente chega o dia em que para ter o filho de volta, Luka vai ter que entregar a amada...

Apesar da história ser mais linear do que o habitual não faltam neste ''Romeu e Julieta nos Balcãs'' (como muitos classificam o filme) uma galeria de personagens bizarras e muitas situações burlescas. Desta vez, o cineasta apresenta-nos uma cantora lírica com desequilíbrios mentais e físicos, um presidente da Câmara com um apetite voraz, um amante com queda para o boxe, ou uma burra com um desgosto de amor que espere indeterminadamente na linha de comboio até que uma locomotiva acabe com a sua vida. Tudo porque Kusturica acredita que o cinema quer-se ''bigger than life''. Ainda assim o ritmo de carrocel parece ter abrandado um pouco para dar lugar a um outro menos acelerado. E por falar em ritmo, este filme conta com uma excelente banda sonora, composta pelo realizador e pela No Smoking Orchestra, com canções que assumem o papel de ajudar a contar a narrativa.

De resto sobre o cinema de Kusturica já se sabe: ou se gosta, ou não...

in... ESTREIA ONLINE

site oficial


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  • Porque é que este sonho absurdo
  • a que chamam realidade
  • não me obedece como os outros
  • que trago na cabeça?
  • Eis a grande raiva!
  • Misturem-na com rosas
  • e chamem-lhe vida.
José Gomes Ferreira
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07/11/04

Ainda as viagens de comboio...

Lembrei-me daquela viagem que nunca se realizou. O querido J que tinha a minha idade (com dois dias de diferença) e desde os 14 fazia a ronda do InterRail - e eu dependendo da autorização paternal para poder sair de casa e do país (quando a maioridade ainda era aos 21, foi esse o último ano!) - tratou de tudo, do cartão de estudante Univ., quando eu ainda o não era; a carta para as Pousadas da Juventude; o percurso daquele ano e os argumentos que eu deveria apresentar, em minha defesa, para que me deixassem sair...com um grupo de rapazes!

É claro que me fazia uma confusão do caraças aquela "estória" de andar, pr'ai uns 15 dias no mínimo, de comboio sem saber muito bem, à partida, onde ia dormir...e tomar banho!, essa é que era a minha "malapata" com o InterRail...também ficou claro que J dourava a pílula de tal modo que me convenceu, claro! E com algum esforço e muitas contrapartidas, mais juradas que "pagas", lá obtive a tal autorização. Apesar de... vencidos, mas não convencidos!

Como comecei por dizer foi uma viagem não concretizada! Porque, pr'ai uns dois mesitos antes...apaixonei-me! De início ainda coloquei "como condição" nem sei de quê, um interregno para a viagem! Era uma coisa que eu há muito perseguia; era um sonho; era uma forma, também, de afirmar a minha autonomia face a sentimentos afectivos que me acorrentavam...já vem desse tempo a minha luta, eterna...Resultado? Viagem gorada e as correntes a acumularem-se ao longo da vida! Não sei se a viagem, tendo sido realizada, teria mudado a minha vida, a minha forma de lidar com os que me amam, mas ao certo sei que, ao deixar-me vencer daquela vez, ao deixar que os sentimentos me limitassem a liberdade, perdi a capacidade de enfrentar as chantagens afectivas que me manipularam desde sempre...até hoje! E, muito provavelmente, até ao fim...que burro velho não aprende línguas...:->


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Vila-Matas

«Enrique Vila-Matas, um genial escritor espanhol, passou esta semana por Lisboa. Na Casa Fernando Pessoa, apresentou um dos seus últimos livros "O Mal de Montano" (edições Teorema, para a semana nas livrarias), para uma sala meio-cheia. Ou meio-vazia, conforme as perspectivas. A assistência fez duas perguntas: o escritor Almeida Faria perguntou até que ponto as citações de outros presentes nos livros de Vila-Matas são fiéis ou adaptadas. Adaptadas, respondeu Vila-Matas. A outra pergunta não foi uma pergunta, mas uma daquelas intervenções à portuguesa, de homenagem e convívio. Se calhar é normal ter sido assim: às seis e meia da tarde, Lisboa é intransitável e um indivíduo só deve deslocar-se aonde é estritamente obrigado. Depois, o melhor que há a fazer com Vila-Matas é lê-lo. Talvez não se deva conhecer os escritores que amamos.
Antes da sessão da casa Fernando Pessoa, eu e a Maria José Oliveira entrevistámos Vila-Matas para o "Mil Folhas" do próximo sábado. Um dos livros mais deliciosos de Vila-Matas chama-se "Bartleby & Companhia" e alinha histórias de vários escritores que, em nome da afirmação de uma ideia superior da escrita, renunciaram a escrever. Bartleby é, originalmente, uma personagem de um conto de Herman Melville, um escriturário que quando interpelado para fazer qualquer coisa, responde invariavelmente:
- Preferia não o fazer. (...)»

«...Por ANA SÁ LOPES
PÃO & ROSAS
Domingo, 07 de Novembro de 2004, in Público


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

04/11/04

'so quietly deep in my heart'

«Estava farta de ser humana, de se cansar a provar quem era e de se cansar ainda mais a procurar alguém que a amasse assim, por nada. Escondia.-se nos números, ria-se dos poemas perdidos nos diários de menina. Sabia agora que a indeterminação atinge a raiz de todos os cálculos e já não esperava nada daquele congresso de informática. Podia começar a envelhecer comodamente. Do amor guardava os destroços costumeiros: hábitos ou hálitos decompostos pelas marés, lumes que se gastam comoe velas de circunstância. And suddenly.
Depois, só um poema de Sophia aberto sobre a mesa de cabeceira dela. 'Terror de te amar/num sítio tão frágil como o Mundo./ Mal de te amar neste lugar de imperfeição/ Onde tudo nos quebra e emudece/ Onde tudo nos mente e nos separa.'
Ela diz que quer esquecer, mas traz cada fragmento dele colado ao corpo como uma bóia de salvação. A memória mente ao tempo. Impartilhável, imortal, o cinema do segredo. Um filme encravado, ao arrepio dos dias, debaixo da pele.
Em horas de maior insuportabilidade ela acusa a dispersão do mundo. Porque é perigoso que o ódio ganhe a intensidade da paixão que o gera. Pode morrer-se de humilhação de odiar sem descanso(...)
Pelo menos consola pensar que há um tirano qualquer, uma força maior a moldar a maldade humana. (...)
Nunca mais houve ninguém. Aquele amor apagou o mundo. Quando, muitas lágrimas depois, ressuscitámos, estávamos sozinhos. O luto do grande amor torna-nos apenas numa pessoa. E ser uma pessoa é muito pouco para quem já foi nada. Para quem já deu tudo. Jurámos que nunca mais. Assim não. Nem pensar. 'Não te posso dar nada', dizem os amantes uns aos outros depois de terem dado tudo. O nada é aquilo que nos lembra aos outros, quando morremos de uma das múltiplas mortes que podemos ter para os outros. Agora contamos a história tim-tim por tim-tim. Mas sobra sempre um tuntun. E se ele voltasse? Sim. Se? Chiu.
Deixemos as meninas brincar com este baralho de papéis precários.
'É esta a carta que tu não vais ler. Se ao menos eu tivesse uma fotografia tua. Assim não te posso rasgar aos bocadinhos. If only. É soidade ou saudade que se escreve? Aqui ninguém sabe que tu existes. É por isso que não posso morrer aqui. Ninguém te dizia nada. Ficava sozinha de luz apagada.
(...)
Admirei-te sempre pelas outras coisa que tu eras sem alarde. Mas amava-te tanto e tão sem razão , so quietly deep in my heart, que não tinha mal fazer-me rendida quando tu me querias rendida. Ainda por cima era verdade. Se calhar foi essa verdade que te alarmou. Como é que se diz se calhar em português?
Querias que eu te sacudisse. Que eu te irritasse de vez em quando. Que eu fosse uma tough girl, une fille méchante ou lá como é que isso se diz na tua língua de fogo. Eu faria tudo por ti. Podia ter-te traído sem convicção. Podia até matar-te devagarinho, mansamente, numa daquelas conversas em que tu tentavas arrasar-me com os teus factos, datas e nomes. Quem é que quer saber da História de Portugal, país inclinado sobre a água? Mas tu precisavas dessas realidades confirmadas e eu não conseguia deixar de me comover com tanta e tão evidente vulnerabilidade.
Sentia já que te perdia, mas nada podia fazer a não ser pôr-te os trunfos todos na mão. Fiquei sem ti, claro. Mas amei-te com paixão e passion bastantes para a minha vida inteira. Fui em ti o melhor de mim. É esse o teu peso, a minha calada vingança.'
(...)
Apaixonaram-se pelas suas próprias sombras, pelos seus sonhos de si.»


A Instrução Dos Amantes, Inês Pedrosa


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01/11/04

"Somos romântico-realistas"...somos?

  • Before Sunset

Nove anos depois, eles encontram-se em Paris

«(...)
Nada se passa ("não há drama neste filme", reconhece Linklater), a não ser, o que é muito, a cumplicidade dos "esquecimentos" e da nostalgia, os ressentimento e fantasias, as mudanças de humor, aquilo que irrompe em turbilhão nas personagens e não consegue ser negado - mas que logo de seguida se acalma. A memória coloca a fasquia demasiado alta para a realidade.

Como é que acaba "Before Sunset"? Depois de um espaço para canções. Celine canta uma valsa a Jesse - Julie Delpy canta, na verdade; essa valsa está incluída no seu primeiro disco a solo, editado em França o ano passado.

E depois da valsa? Depende da perspectiva, depende da reserva de romantismo ou dos danos provocados pelo cinismo em cada um. Mas mesmo no pior dos casos, a memória sempre se encarrega de trabalhar os dados. "We'll always have Paris!" - não era isso que se dizia num filme romântico?, in Público »

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Está lá tudo! É perfeito!

Não sei se é romântico, não sei se é cínico. Não sei se eles acabam juntos - espero que não, a bem do amor! - ou se vivem mais um momento que alimentará as suas memórias eternamente. Não sei, nem isso interessa muito. O certo é que senti estar lá tudo! Como se alguém tivesse ousado ter(me) gravado conversas, ideias, dúvidas, sentimentos, medos, inseguranças, certezas, enfim...memórias!

Há muito tempo não via um filme que tanto me marcasse...


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