31/05/04

Saudade...!?

“É ridiculamente ridículo que tu não entendas Nimrod e o seu trono de papel alto edifício tombado junto ao lago os escombros dos cisnes sombras perseguem a criança no seu sono brinquedos almofadas querubins e papoilas de volta às voltas e ao eterno retorno outra vez a criança nos braços oscilando o peso do seu passo de gigante agiganta-se em mim no silêncio que sente o caminhar dos teus passos eu sou o que observa a espera a observação que as coisas mexam enquanto tu caminhas no teu caminhar sonâmbulo de sono que acorda acordando antes de se ir deitar outra vez”.

Ricardo [disakala]

[...ainda tenho este texto no arquivo das msgs!;-)]:-* ...naquela altura "estas" palavras eram minhas!, apropriei-me delas como sempre o faço com todas as que me soam a qualquer coisa familiar e intíma... já dita, já lida...no fim pouco me importa quem diz, importa-me, afinal, o que eu leio...quais as consequências ainda desconheço, mas acho que já pouco (me/nos) importa...

Frase do dia: “Nada, nunca se é nada, apenas se vai sendo ”.

...esta é uma frase q dizes "por ouvir dizer", ou já concluiste de saber feito!?

27/05/04

Em resposta à suposta ignorância e estupidez de Eu(zinho) ...:->

"Quanto à estupidez ali zurrada pelo animal “quid novi” em questão [foi este o (teu) nick q usei para identificar a resposta ao post], começa com os seguintes argumentos : “eh eh eh eh”; “treta deste texto”; “bla bla bla”; “pardais ao ninho”; “paleio soviético” (?!). Por si só isto já bastava para derrubar Atlas ele mesmo, mas continua : “Retirar (isolar) Nietzche do seu (dele) tempo é mesmo de aprendiz... Nietzche só existe no "universo" germanico pós austro-húngaro em que o mundo girava à volta do umbigo imperial. Mas, até isso (essa noção de super-homem centrado no império) veio por água abaixo com o atentado de bem sucedido ao Chico José... 9 milhões de mortos depois, Nietzche é uma gargalhada no caminhar da humanidade. Pos isso, só sorrio com as atoardas deste calibre ...”

Será interessante reparar que o javardo nem sequer sabe escrever o nome do filósofo em questão, (erra-o 3 vezes em 5 linhas, não é distracção), o que vem provar, em reforço asinino do que diz, o quão familiarizado está com a sua filosofia. O que está ali vomitado é um absurdo absoluto, como bem disse o Vasco, pois a filosofia é uma corrente contínua de pensamento que se vai aperfeiçoando, que bifurca, que se reúne novamente, através de vários autores. Por muito diferentes que sejam as ideias dos presentes daquelas dos que os antecederam, umas não seriam possíveis sem as outras. Se é óbvio que o tempo e o lugar em que vives são importantes para a determinação do que pensas, também é sobretudo verdade que o que pensas não se limita ao tempo e ao lugar em que vives. Porque nesse caso, da Vinci apenas seria apreciado e compreendido por italianos e durante o Renascimento, Pessoa por portugueses, Kant por alemães, etc. Aquele absurdo cresce em intensidade quando se torna relativo a Nietzsche. Existem autores que são considerados universais porque os assuntos de que tratam são, como é óbvio, universais e intemporais. Isto é verdade em literatura como em filosofia. Ora do que trata a filosofia de Nietzsche? Segundo Deleuze, (para quem não sabe, Gilles Deleuze foi somente o analista mais respeitado e conceituado de Nietzsche), o projecto geral de Nietzsche consiste nisto : introduzir em filosofia os conceitos de sentido e de valor. No meu texto não falei de outra coisa : de sentido e valor. A definição de super-homem é essa mesmo : aquele que se substitui a deus na criação de uma nova tábua de valores. Agora pergunto eu : como é que isto se relaciona com o universo germânico? Com o império Austro-Húngaro? Super-homem centrado no império?! (De onde é que se deduz isto?) Nove milhões de mortos depois? (O Holocausto? E Nietzsche com isso? Vou ter de explicar isto outra vez?) Como vemos, não existe relação alguma. E os conceitos de sentido e valor, têm alguma relação connosco? Sentido e Valor terão algum significado para as gerações vindouras? Serão estes assuntos determinantes para a Humanidade? Ouso pensar que sim.

Quanto ao conceito nietzscheano e schopenhaureano de Vontade, é tão-só a pedra basilar do conceito moderno e psicanalítico de inconsciente, portanto, também nada tem de universal, não é verdade? Como todos sabemos, só os alemães é que têm inconsciente, assim como só eles se preocupam com sentido e valor.

Quanto ao facto de ser aprendiz, sempre fui, sou-o e sempre serei. Tenho 12 anos de estudo afincado de Nietzsche na carola mas reconheço que todos os dias aprendo algo novo, todos os dias ponho em questão o que sei. Isto permite-me, se não outra coisa, pelo menos não dizer baboseiras daquele género.

Nietzsche é o autor mais lido (pelo menos o mais comprado, é sempre bom tê-lo na estante; também fica sempre bem ler duas ou três linhas para as regurgitar sem se perceber o que significam) e o mais incompreendido da filosofia. A culpa é muito dele, claro, que escreveu de modo a ser ruminado como aconselhava; esqueceu-se, ao dizer aquilo, que a maior parte da humanidade ao seguir o seu conselho foi efectivamente de joelhos para o prado. E lá ficou, aparentemente.

Tenho de dizer que estou farto de lançar pérolas a porcos. Quando não compreendo alguma coisa, calo-me, ouço e tento aprender. É o que acontece nestes fóruns quando falam de assuntos que não domino. Mas Nietzsche, filosofia em geral, conheço e domino perfeitamente, salvo alguns autores, obviamente, cujas ideias não aprofundei por não me interessarem."


DeusExMachina, 27.05.2004 04:49, num fórum sapista...

****

...o q, muitas vezes, os pavões não entendem é q ao fim de muitos anos a bater nas mesmas teclas - e já são mesmo muitos anos, né, Eu(zinho)!? - já não apetece andar pr'aqui - em fóruns, em especial! - a dar milho aos pardais [ou a lançar pérolas a porcos:->] e só apetece, mesmo!, largar umas bojardas!!!... para depois ficar a ver os pavões furiosos por se lhes cortar as vazas para poderem continuar a pavonear-se...os outros, os q gostam mesmo de partilhar, esses não ficam tão enfurecidos com a ignorância alheia...:->

...depois, quem estuda (mesmo q não ande a apregoar q o faz!:->) há tanto tempo qualquer filósofo (ou outra matéria) já aprendeu(!) q não é num qualquer fórum da treta - como os sapistas! - q se pode (e deve! e consegue!) discutir entre iguais q é onde e como se deve tratar da coisa filosófica!... se é q se está de boa fé e não a pavonear o rabo!...ou em mera conversa da treta...q é para o q servem os fóruns sapistas!:->

...qt a filosofias e filósofos, por mim, fico-me pelas leituras...dos q gostam de partilhar!, pq de pavões estou eu cheia!!!:->

Em tua honra, Eu(zinho) ...eheheheh

Lucretius, De Rervm Natvra, Liber Secvndvs

Suave, mari magno turbantibus aequora ventis
e terra magnum alterius spectare laborem;
non quia vexari quemquamst iucunda voluptas,
sed quibus ipse malis careas quia cernere suavest.
suave etiam belli certamina magna tueri 5
per campos instructa tua sine parte pericli;
sed nihil dulcius est, bene quam munita tenere
edita doctrina sapientum templa serena,
despicere unde queas alios passimque videre
errare atque viam palantis quaerere vitae, 10
certare ingenio, contendere nobilitate,
noctes atque dies niti praestante labore
ad summas emergere opes rerumque potiri.
o miseras hominum mentes, o pectora caeca!
qualibus in tenebris vitae quantisque periclis 15
degitur hoc aevi quod cumquest! nonne videre
nihil aliud sibi naturam latrare, nisi ut qui
corpore seiunctus dolor absit, mente fruatur
iucundo sensu cura semota metuque?
ergo corpoream ad naturam pa

uca videmus 20
esse opus omnino: quae demant cumque dolorem,
delicias quoque uti multas substernere possint
gratius inter dum, neque natura ipsa requirit,
si non aurea sunt iuvenum simulacra per aedes
lampadas igniferas manibus retinentia dextris, 25
lumina nocturnis epulis ut suppeditentur,
nec domus argento fulget auroque renidet
nec citharae reboant laqueata aurataque templa,
cum tamen inter se prostrati in gramine molli
propter aquae rivum sub ramis arboris altae 30
non magnis opibus iucunde corpora curant,
praesertim cum tempestas adridet et anni
tempora conspergunt viridantis floribus herbas.
nec calidae citius decedunt corpore febres,
textilibus si in picturis ostroque rubenti 35
iacteris, quam si in plebeia veste cubandum est.
quapropter quoniam nihil nostro in corpore gazae
proficiunt neque nobilitas nec gloria regni,
quod super est, animo quoque nil prodesse putandum;
si non forte tuas legiones per lo

ca campi 40
fervere cum videas belli simulacra cientis,
subsidiis magnis et opum vi constabilitas,
ornatas armis stlattas pariterque animatas,
his tibi tum rebus timefactae religiones
effugiunt animo pavidae mortisque timores 45
tum vacuum pectus lincunt curaque solutum.
quod si ridicula haec ludibriaque esse videmus,
re veraque metus hominum curaeque sequaces
nec metuunt sonitus armorum nec fera tela
audacterque inter reges rerumque potentis 50
versantur neque fulgorem reverentur ab auro
nec clarum vestis splendorem purpureai,
quid dubitas quin omnis sit haec rationis potestas,
omnis cum in tenebris praesertim vita laboret?
nam vel uti pueri trepidant atque omnia caecis 55
in tenebris metuunt, sic nos in luce timemus
inter dum, nihilo quae sunt metuenda magis quam
quae pueri in tenebris pavitant finguntque futura.
hunc igitur terrorem animi tenebrasque necessest
non radii solis neque lucida tela diei

...gentilmente cedido por DeusExMachina:-> (entretanto, se alguém quiser juntar a sua gentileza à do Ex e oferecer-me a tradução...:->)

25/05/04

"Meu Sonho"

Magritte

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar ?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.


Cecília Meireles , postado por Hermengardo num fórum sapista perto de si...;-)

Pergunta sem sentido!?!

Quando a escrita suplanta o escritor, transcendendo-o...que fazemos ao homem!??? Magritte

***«««»»»***
("... o surrealismo é um movimento de liberação total, não uma escola poética. Via de reconquista da linguagem inocente e renovação do pacto primordial, a poesia é a escritura de fundação do homem. O surrealismo é revolucionário porque é uma volta ao princípio do princípio." Octavio Paz)

***«««»»»***
Manifesto do Surrealismo

(André Breton - 1924)


24/05/04

"no tempo [(...)] em que as mulheres [(...)] preferiam os paranóicos..."


Salvador Dalí, O grande paranóico, 1936. Óleo sobre tela, 62 x 62 cm. Museu Boymans-van Beuningen, Rotterdam

Frase do dia: “Pode ser que sim, mas a verdade é que no tempo (e eu sei que esse tempo existiu) em que as mulheres (algumas) preferiam os paranóicos... aí sim seria mais fácil, mas agora é preciso fingir que somos todos sãos e que as máscaras e as lágrimas, ou o sangue na boca, realmente não existem e, além do mais, é porque tudo não passa de um percurso abecedariamente desconexo”., in disakala

...uuuuoooppppsss...e eu a pensar q eu é q era paranóica!!!eheheh... ok!, em todo o caso...rai'os parta!, eu continuo a ser desse tempo, caraças!!!grrrr

Ora bem...personagens, pessoas e máscaras q.b. :->

...eu (eu!) arrogo-me o direito de só me deter no aprofundar do conhecimento de pessoas que, duma forma ou de outra, me cativam...por pouco que seja!...positivamente. É claro que a medida deste positivamente é minha, muito minha. Pudera!, quem perde o tempo a conhecer "o outro" sou eu, neste caso.

...ora, vem isto a propósito de algumas personagens que se acham pessoas quando lhes convém ser consideradas, para voltarem ao estatuto de personagem quando lhes convém desconsiderar...

...como será evidente - e se não evidente, pelo menos... conveniente, para mim! - a vida é demasiado curta para se perder tempo com personagens...depois, há ainda o tempo que se perde (perdido mesmo!) com pessoas...e, por fim, ao cabo duma carrada de anos a (des)construir máscaras certamento que já se sabe, relativamente bem, quando as personagens valem a pena e dão pessoas interessantes e quando as personagens não valem a pena e resultam em máscaras grotescas...

...é claro que nunca se sabe tudo e, por vezes, cometem-se alguns erros, mas...que ninguém leve a vida toda a cometer os mesmos erros, deixando-se defraudar por personagens que, à partida, nenhum interesse demonstram ter...melhor dar por perdido o tempo que se deu para conhecer uma persoagem que demonstrou, afinal, ser uma pessoa sem valor...do que dar por perdido o tempo conferido a uma personagem que já indiciava ser uma pessoa rasca!

...eu já não tenho tempo a perder...o tempo que ainda tenho preciso dele para investir naqueles que já comecei a conhecer... quanto aos outros, enfim...sempre têm as próximas vidas para demonstrarem que, afinal, eu estava errada...e será que estava mesmo? :->

"ITINERÁRIO"


"Impossível prosseguir Impossível ficar também Depois há a maneira de contornar o real Ter a dimensão de tudo em medida pesada Insustentável Retornar ao sonho Não desistir talvez Talvez nem a vida possa ser o motivo Alguém já me disse amor Agora não Há sempre um pretérito Nisso somos perfeitos e arrumados Ponto Não era disto que queria falar Tinha que falar O silêncio corroi e alarga-nos a agonia Também pode existir dor Recorre-se então aos analgésicos existenciais Nisso somos bastante taralhoucos e Pânico e Insónia e Depois fim-de-semana Viagem à esquina próxima Do vizinho aquele Outro Dia com absinto Noite com cerveja Rodopio Tonto imagino e encanto-me Esqueço-me tenho o mundo Este aqui fora Não é grande coisa este mundo Mas também não se pode exigir mais Assim plural de solidão Deve haver por aí uma fórmula que eu desconheço Mas serei assim ou apenas me inventei? Tenho um molho de esboços Incompletos para uma série de estilos de vida Herdei também uma insatisfação que não controlo Genes de gerações desconhecidas agrupadas por uma única química caótica Equação vazia da minha personalidade Tenho também um corpo usado e suas rotinas Muitos projectos de construção de alma Guardo contudo sentimentos para as ocasiões propícias Esperar Há grande virtude no tédio Ora merda E vício Nada mais resta Embebedar-me de gente Snifar socialidade e humanidades E talvez tu Desesperar com método Retornar sempre a estas quatro paredes da minha consciência onde cabe o meu quarto E o universo todo lá fora Refúgio de sonhos maiores E o sono que é uma benção Absolvo-me para todos os efeitos Eu sei que vocês me compreendem e vice versa Amanhã será Impossível prosseguir Impossível ficar também...

» embasbacado, 2004-05-24 (14:36)

23/05/04

"Tomem lá "Fahrenheit 9/11" e despachem George Bush"




"Fahrenheit 9/11", com que Moore regressa à competição de Cannes, depois de "Bowling for Columbine", é uma "assemblage" de materiais para melhor fazer uma campanha. Não é um documentário de investigação (embora utilize documentos que outros investigaram), é um instrumento político.

Moore aparece menos do que em "Bowling...", a recriação é menos rica e transgressora, porque não há tempo a perder. É juntar o mais possível contra George Bush: das ligações económicas dos Bush à família real saudita (Moore entrevista Craig Unger, autor do livro "House of Bush, House of Saud"), das ligações dos Bush com a família de Osama Bin Laden. Mais factos, segundo Moore, para queimar o Presidente: de como Bush fez sair dos EUA, nos dias a seguir ao ataque às Torres Gémeas, 24 membros da família Bin Laden. De como Bush, no momento em que a segunda torre foi atingida, visitava uma escola da Florida e lia às crianças "My Pet Goat" (há imagens, quando um assistente lhe segredou ao ouvido a notícia, parece hoje um momento de "candid camera") e continuou a ler mas começou a pensar: como apagar as ligações aos Bin Laden e à Arábia Saudita? Como prosseguir as verdadeiras intenções?

Resposta, segundo Moore: inventando uma intervenção libertadora no Afeganistão, esquecer Bin Laden, e passar ao que verdadeiramente interessava: o Iraque, a instalação de uma máquina para os ganhos de uma economia de guerra.

"A administração Bush só podia ir para a guerra se convencesse a população americana que Saddam Hussein tinha uma relação com a Al-Quaeda. E foram bons a fazer isso", é a tese de Moore.

É a partir daqui que "Fahrenheit 9/11" quer ser a descrição em pinceladas largas dos tempos de um regime que instalou a "paranóia e a cultura do medo" para que os americanos aceitassem a intervenção no Iraque. Americanos (as populações economicamente mais esventradas, e etnicamente segregadas, de quem Moore quer ser paladino) que começam a dar-se conta da "mentira".

É aqui que "Fahrenheit 9/11" pode ter efeitos mais devastadores porque mostra imagens que os americanos não viram: segmentos de um país em flagrante decepção, com declarações de soldados no Iraque, testemunhos das famílias dos que morreram em combate e dos que regressaram a casa estropiados.

As imagens do Iraque foram captadas por "free-lancers", contratados por Moore ou a quem a ele comprou o material. A sua existência em "Fahrenheit 9/11" e o facto de nunca antes terem sido mostradas por cadeias televisivas americanas (soldados dizem: "Por que é que o George nos mandou para aqui?"; soldados americanos são vistos a humilhar iraquianos nas ruas) é, para Moore, a prova de que os media participaram na "mentira".

"É uma vergonha que só hoje estas imagens tenham sido vistas por espectadores. As torturas infligidas a prisioneiros iraquianos por soldados americanos passaram-se dentro de prisões, percebe-se porque é que demoraram a ser divulgadas. Mas o que mostramos no meu filme decorria a céu aberto, qualquer jornalista podia ter denunciado. O que é que penso desses actos de tortura? Se se perdeu a moralidade mandando homens para uma guerra com base numa mentira, como não esperar que a imoralidade leve à imoralidade?".

Que percurso pode fazer nesta competição um objecto tão desbragadamente político? Entraves éticos ou exigências de imparcialidade podem ser contrapostos — se se falar de "documentário" —, mas não fica esmorecida a singularidade de algo que não é muito diferente de um tempo de antena de campanha, o "timing" da apresentação e a veemência de quem o propõe.

É esperar para ver o que o júri presidido pelo apolítico Quentin Tarantino decidirá. A batalha de "Fahrenheit 9/11" é que não se esgota no que foi mostrado. Moore anunciou que a Miramax lhe deu dinheiro para encarar o filme como um "work in progress", para o actualizar sempre que necessário.

A Casa Branca quis impedir o filme

Segundo Moore, a Casa Branca tentou impedir que "Fahrenheit 9/11" fosse realizado. Provas? "O contrato com a Icon Productions [produtora de Mel Gibson] estava assinado, estávamos a rodar o filme, quando Ari Emmanuel, o meu agente, recebeu um telefone da Icon a pedir que os desvinculássemos do contrato. Porque é que a Icon, que tanto dinheiro fez com a distribuição na Austrália e na Nova Zelândia de 'Bowling for Columbine' e que tão interessada estava neste filme, subitamente pediu para desistir? Perguntem-lhes. O que nos disseram foi que alguém do Partido Republicano os avisara: 'Se produzem o filme, o Mel [Gibson, conhecido republicano] bem pode ficar à espera de convites da Casa Branca". Quem telefonou a Mel? "Perguntem ao Mel".

A Miramax veio preencher a lacuna, mas a Disney, a "casa mãe" que integra a empresa dos irmãos Weinstein, decidiu há semanas que em ano de eleições "Fahrenheit 9/11" não era apropriado para distribuição. "Perceberam que o impacto do filme num resultado eleitoral é maior do que pensavam". A Disney alegou uma clásula do contrato com a Miramax para impedir a empresa de Harvey Weinstein de distribuir o filme, a Miramax viu-se obrigada a comprá-lo à Disney. Agora procura-se distribuidor.

"Garanto-vos que o filme vai ser visto nos EUA, vai chegar ao maior número de americanos possível, e na data que prevemos, no Verão, antes das eleições e não depois delas". O que Moore quer dizer é que lançar o filme depois das eleições é contradizer a razão da sua existência: influenciar as eleições. Tem sido referido como data de estreia o 4 de Julho, feriado nacional.

"Os meus filmes estreiam nos EUA em centros comerciais, não em salas de ensaio. É para o público em geral que faço filmes. Há dados que mostram que 70 por cento das pessoas que viram 'Bowling for Columbine' nunca na vida tinham visto um documentário. Quando faço um filme penso num filme para ser visto sexta-feira à noite, num centro comercial, com pipocas. Este é um filme sobre os tempos em que vivemos, sobre o que nos aconteceu a nós, americanos, depois do 11 de Setembro. Mas é um filme que deve divertir as pessoas que o vêem. É importante rirmo-nos em tempos como estes. Só que desta vez foi Bush que escreveu os diálogos que mais dão vontade de rir..."

Vasco Câmara, em Cannes
18 de Maio de 2004, in Público

"Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir"
Orwell, George


...nada de mais adequado ao presente momento no campeonato da minha vida...

TODA UNANIMIDADE
É BURRA


(Nelson Rodrigues)



in NO SILÊNCIO DA NOITE

Recordando a...

Não morreste...morreste-me

22/05/04

"Cristo-Diónisos"

Vamos lá ver se nos entendemos. A espuma que costuma saltar da sua boca quando entra nessas convulsões paranormais não me incomodam por demais. De facto, é-me totalmente indiferente vê-la rebolar nas suas próprias fezes e levantar-se exibindo-se convicta de que está coberta de ouro. Muito menos me incomoda que se rebole nas fezes de outrem e tenha a mesma atitude. Preocupa-me, irrita-me e sinceramente choca-me (mais do que possivelmente a chocará o que estou a escrever) que tente rebolar-se no ouro dos outros e o transforme em lia mental.

Eu explico-me. Tem citado Nietzsche, 1° - como uma espécie de místico; 2° - compara Dionísio com Cristo; 3° - faz do conceito übermensch um qualquer alucinado perdido não sei em que fusão transcendente.

1° - Nietzsche foi acima de tudo um desmistificador.

Nietzsche escreveu para espíritos livres, exactamente o contrário de si, escrava. O espírito livre é aquele que se libertou do dogmatismo, da crença na existência de um mundo ideal, da existência de deus, da esperança da felicidade, da solidez dos valores e que consegue mesmo assim, sobretudo assim, amar a vida. Nietzsche iniciou a genealogia, - mãe da psicanálise -, fundada na Vontade de Poder. O que é esta Vontade? Primeiramente é a realidade mais profunda de todo o ser (e esta realidade encontra-se nele, não numa qualquer transcendência : é instinto, pulsões, vontade, etc.) que deve ser entendida como relação complexa de múltiplas forças em interacção. Também é a vontade positiva, a vida, o dinamismo. Tornar-se-á por fim na dualidade de valores activo/reactivo, dinamismo/cansaço que encabeçam as novas tábuas da lei e substituem as oposições verdadeiro/falso, bem/mal. Voltando à genealogia, esta psicologia é ao mesmo tempo ontologia : se a vontade de um ser é a sua realidade mais profunda, analisar o que ele quer é analisar o que ele é.

2° - O Dionísio do Nietzsche tem muito de Cristo.(?!)

Com isto, se dúvidas restassem, expõe toda a sua ignorância, acompanhada como sempre exemplifica neste fórum, por uma boa dose de estupidez. Dionísio contra o Crucificado! Será que me entenderam? Esta frase diz-lhe alguma coisa? Certamente que não. O que leu de Nietzsche? A Origem da Tragédia? Ou nem isso? Nem era preciso ter lido nada, bastava conhecer os títulos das obras : parece-lhe que um homem que intitula um dos seus livros O Anticristo (classificando-se a ele mesmo) teria alguma vez comparado um dos conceitos fundamentais da sua obra com Cristo? A obra de Nietzsche é o oposto de Cristo! Foi construída em oposição total àquilo que Cristo significa. Quer que lhe explique o significado de Dionísio?

Dionísio : N’AOT, obra principalmente artística e filológica, era a ebriedade, a loucura, o irracional, (mas humano, entende? nunca transcendente, não existe transcendência em Nietzsche), a realidade da vida que para ser suportada tinha de ser coberta pela ilusão de Apolo, da Arte. Representa a brutalidade da vida, o seu absurdo, a sua falta de sentido. Por isso Nietzsche atacará Sócrates que tenta abafar esta realidade brutal dando um sentido à vida numa esfera extra-Sensível, assim como faz a religião e/ou todas as tretas espirituais. Nas obras posteriores, Dionísio conservará a sua lucidez mas já não precisará de esconder-se e torna-se o porta-palavra de Nietzsche enquanto modificador de toda a cultura filosófica – platónica – e religiosa – cristã. Nietzsche através de Dionísio diz SIM ao mundo, um assentimento dionisíaco ao mundo, o seu amor fati, adesão espontânea do aristocrata à inocência do devir. Dionísio representa o abraçar da realidade, a negação de toda a transcendência – esse conceito covarde, essa escapatória de escravo - que nada mais faz do que encobrir essa mesma realidade.

3° - Como até já uma pessoa com a sua parca inteligência deve ter percebido, o super-homem começa por afastar-se de toda e qualquer transcendência (chame-lhe o que quiser : religião, espiritualidade, etc.).

O super-homem não é nenhum representante de uma espécie ou raça superior, não nasce de uma evolução biológica. O que interessa a Nietzsche é a hierarquia dentro da espécie humana. Já vimos que a Vontade de Poder substituiu todos os valores e portanto essa hierarquia é estimada em termos de vontade de poder. O super-homem é o representante da vida ascendente. Mas este não é violento, nem tenta impor o seu domínio, já que aquele que tenta dominar demonstra a sua fraqueza, nem é o homem que alcançou lugares de poder, já que ninguém o alcança sem antes demonstrar subserviência; é o homem que tem a coragem de levar ao mais alto ponto as virtudes aristocráticas de probidade e respeito de si, é o oposto do homem submisso a valores transcendentes; o super-homem é aquele que substitui o deus morto no papel de fundador de valores.

Este aristocrata define-se em nove pontos :

1 – Orgulhoso, não quer comandar, cultiva um desejo de distância;
2 – Independente, faz o que quer : é mal tudo o que lhe é nocivo, bom tudo o que lhe é vantajoso (sem nunca ser vil ou baixo);
3 – Indiferente ao que os outros possam pensar usa sempre de franqueza total, não dissimula o que quer que seja;
4 – Orgulhoso, honra nele mesmo o homem poderoso;
5 – É egoísta;
6 – É duro, implacável, poderá diminuir a gentalha escrava a instrumentos;
7 – Sabe respeitar os seus e venerar os seus antepassados;
8 – A verdadeira bondade é força, grandeza e não beneficência;
9 – A sua confiança em si mesmo permite-lhe olhar de alto para o génio, para o artista, que sempre procura a aprovação do público.


Percebeu agora como Nietzsche nada tem em comum consigo e com a sua gentalha? Percebeu agora que não basta colocar um nome sonante no meio das suas baboseiras para ser inteligente, ou mesmo culta? Percebeu agora que não tem a mínima legitimidade para o citar? Percebeu agora que não pode andar por aí a espumar da boca porque aparecerá sempre alguém inteligente e culto, - sim, como eu -, para a levar de volta ao seu nível?

E agora, diga-me, (se tiver a coragem de responder, o que duvido), que os verdadeiros inteligentes e cultos são aqueles que negam ou escondem sê-lo, que são os modestos… Porque essa modéstia é precisamente uma das qualidades apreciadas pelos escravos, - fá-los sentir bem na sua pobreza de espírito - porque a modéstia é desrespeito de si mesmo, é falta de franqueza, é vileza.

Mors Ultima Ratio

DeusExMachina (21.05.2004 02:06)

(...o bold é meu q tenta, tão só, lançar pontos para uma possível discussão...)
***
[...pequeno esclarecimento, dado q um blog é assim a modos q uma coisa pessoal...a pessoalização q se verifica neste texto ñ me é dirigida!;-) ...apesar de tudo ainda haverá, por aí, uma ou duas pessoas q se "chocariam" se assim fosse :->...ñ q ñ passasse pela cabeça do autor dirigir-me estas "gentilezas", mas...por acaso não foi!:->]

21/05/04

Oh Captain! My Captain!

O Captain! my Captain! our fearful trip is done,
The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.


O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up--for you the flag is flung--for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon'd wreaths--for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.


My Captain does not answer, his lips are pale and still,
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and sound, its voyage closed and done
,
From fearful trip the victor ship comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

Walt Whitman (1819-1892)
****

...quem (me) traduz isto para português?...apesar de eu "odiar" poesia traduzida...

****

"Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado,
E disse à minha alma: Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse: Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho."


Walt Whitman

"O amor altruista...existe?"

Incondicionalidades(...)

Esta frase espantosa - "Amo-te, faças o que fizeres" - é tão bonita quanto perigosa.
É bonita porque é. Mas, se quisermos justificar e encher umas linhas de argumentos, sempre dá para dizer que o amor só deixa de ser um sentimento ou uma emoção singular e pessoal, entre outros, se puder ganhar uma qualquer transcendência. Das transcendências possíveis aquela que se inscreve numa estética cega a qualquer moral é, de longe, a mais grandiosa.
Um amor sem condições é um amor perfeito, um amor mítico, um conceito que, de tão abstracto e supra-relacional, é o lugar do desejo e da plenitude: um amor incondicional.
Exactamente porque esta forma bonita de pôr as coisas é, apenas e só, uma figura de estilo que é perigosa.
Muita gente despreza o estilo e agarra-se à convicção da literalidade da coisa.
Muitos têm dificuldade em perceber que a incondicionalidade é uma ideia e não um tipo de relação.
Daqui resultam coisas extraordinárias quase sempre queixosas, infelizes, em tom de reclamação ou de direitos básicos malevolamente atraiçoados.
(...)
São sucessivas gerações de amantes que exprimem de mil maneiras, mas sempre com perplexidade, como é que foi possível que o outro tão devoto, tão presente, tão cheio de promessas e de gestos de amor, um dia tenha mudado.
Há demasiada gente a acreditar que a incondicioalidade é possível, a defender até que o amor, "para valer" e "a sério" só mesmo aquele que tudo perdoa, tudo esquece, aquele que não precisa que se faça nada para continuar a existir, aquele que é aceitante, apoiante e infinito. Como se não houvesse mérito ou não valesse a pena ser gostado na circunstância de se ser adequado, corresponder às expectativas e fazer para agradar.
Porque o amor é um sentimento ancorado numa relação precisa de cuidados e desvelos para que cresça e se mantenha.
Toda a gente sabe isto, mas, espantosamente, muitos continuam a acreditar que não têm que se esforçar e que têm direito a ser amados. Incondicionalmente.

****
in «Gostar de Quem Não Gosta de Nós», conj. de Crónicas de Isabel Leal(Psicóloga), ed.Jan.2001
***
(...colocado algures num fórum sapista em 06.09.2001 10:28, por lydia43)

"O amor altruista...existe?" II

E por falar em amor

["Primeiro vem o cheiro,
depois os olhos desde sempre
conhecidos, a seguir o abraço
de mistura com palavras doces
e amargas - almas gémeas zangadas? -
e depois a despedida.
Quem me livra deste amor que
não escolhi? Meu deus, livra-me de mim"
Pedro Paixão
Histórias Verdadeiras
]


(...)
Há quem diga que os grandes amores têm prazo de validade.
Percebe-se porquê. Para serem grandes têm de ser permanentes e invasivos. Têm de provocar tensões, ansiedades e medos de perda. Precisam de drama e de mistério. Precisam de proximidade e inacessibilidades, de presenças e ausências, de partidas com lágrimas e de regressos apaziguadores. Precisam de um movimento, de uma cor e de um cheiro que os tornem únicos.
Estupidamente, nós, protagonistas das histórias de amor não precisamos de nada disto. Não aguentamos tanto folclore com facilidade e acabamos repartidos entre a ideia de que "é bom" e "isto não pode continuar"; "é muito bom", "devo estar louco"; "é o homem da minha vida", "ninguém faz isto"; "tenho que pôr ordem na minha vida" e " que coisa mais anormal".
Vai daí, suspiramos pela normalização da relação, pelo momento em que tudo decorra tranquilamente. Desejamos poder ser capazes de nos voltarmos a preocupar com assuntos banais, com temas sem nenhuma referência ao outro. Esperamos o dia em que, sem mágoa, o possamos mandar de fim-de-semana com os amigos ou à pesca para longe.
Claro que quando esse momento chega e se instala, quando o amor se adquire como facto consumado, esperado e devido, deixa-se o território do grande amor.
Fica-se com nostalgia de uma iniciação, a saudade do que já foi, o compromisso desejável entre o tudo e o nada. Ou então reinicia-se o ciclo de procura de sentidos e lá vamos nós outra vez hesitantes.
"Quem me livra deste amor que não escolhi? Meu Deus, livra-me de mim".

****

in «Gostar de Quem Não Gosta de Nós» , conj. de Crónicas de Isabel Leal (Psicologa), ed. Jan 2001

Ruy Belo

«Escrevo como vivo, como amo, destruindo-me. Suicido-me nas palavras.»

AH, PODER SER TU, SENDO EU!

Ei-lo que avança
de costas resguardadas pela minha esperança
Não sei quem é. Leva consigo
além do sob o braço o jornal
a sedução de ser seja quem for
aquele que não sou
E vai não sei onde
visitar não sei quem
Sinto saudades de alguém
lido ou sonhado por mim
em sítios onde não estive
Há uma parte de mim que me abandona
e me edifica nesse vulto que
cheio de ser visto por mim
é o maior acontecimento
da tarde de domingo
Ei-lo que avança e desaparece
E estou de novo comigo
sobre o asfalto onde quero estar

19/05/04

Não!, caro INDE...

...as minhas palavras não foram dessa extrema dureza com que as quiseste "pintar"...foram radicais, como o são quase todas as posições que tomo levada por pressões exteriores...quando tenho tempo e espaço para tomar as minhas próprias posições sou muito mais suave, mesmo assim...não era dureza!, era apenas uma tentativa de respeitar o teu espaço assim como quem respeita a casa dos outros e nela não diz tudo o que lhe vem à cabeça!, mas...na minha casa já me autorizo a dizer o que bem entendo...tal como em espaços públicos directamente vocacionados para esse efeito, como por exempo os fóruns!:->

...ora, no que diz respeito à minha recusa em continuar a participar no espaço para comentários do teu blog, retirei-me - ao contrário do que referes isso não significa uma afirmação de que não mais falarei contigo! - porque nunca fico em lugares onde só se pode bater palmas, não se podendo vaiar, e onde só se abana com a tola sem se poder discordar...

...vem isto tudo a propósito da minha manifestação de cepticismo face ao amor altruista que tudo dá e nada espera!...eu não acredito nesse tipo de amor - com uma pequena excepção para o amor maternal e nem nesse eu acredito no altruismo absoluto - e com isso não pretendi colocar em causa a tua pessoa!...como tantas vezes sucede, por estas bandas netianas, anda toda a gente a confundir a discussão de ideias com a discussão de pessoas...

...e só mais uma coisinha: eu não posso amar palavras com que não concorde, palavras que nada me digam à alma!...já o mesmo não sucede com as pessoas... posso muito bem amar alguém com quem não concordo em certas ideias!...desde que, apesar disso, me diga algo à alma...:->

18/05/04

Ainda as fotos da tortura...

O problema das fotografias

Há qualquer coisa nesta história das fotografias e do vídeo das torturas aos prisioneiros iraquianos que escapa ao entendimento comum. Aparentemente, e quase tudo nesta história se joga no domínio das aparências – excepto a crueldade – os torturadores tinham ordens dos serviços secretos e das patentes militares, para fotografarem as sessões.
Aliás, a abundância de fotografias entretanto aparecidas, e a abundância das fotografias que ainda não apareceram e que todos dizem já existirem há muito tempo, mais o vídeo ou vídeos, sugerem que a prática era não só encomendada, como praticada e autorizada livremente. Alguns soldados enviaram para casa, pela internet ou por correio, fotografias das cenas chocantes, e outros soldados tinham-nas transportado para casa e até, caso passado em Inglaterra, mandado revelar na loja kodak mais próxima. Como recordação.

Torturas personalizadas e adequadas ao estatuto e cultura dos prisioneiros sempre houve e haverá. No caso de prisioneiros do mundo islâmico, árabes ou afegãos, é sabido que a tortura consiste, precisamente, na violação das normas do pudor e no atentado à crença e às proibições da crença. A humilhação física e sexual adquire assim contornos de uma dupla crueldade.

Um dos prisioneiros soltos de Guantanamo, e ninguém sabe o que se passou e continua a passar em Guantanamo, queixou-se a organizações dos direitos humanos e aos media que uma das torturas consistia em mostrar filmes pornográficos com mulheres acariciando-se umas às outras. Eis o mundo ocidental em todo o seu esplendor.

Mas, numa sociedade aberta e altamente mediatizada como a nossa, em que as imagens e a informação circulam e se transmitem em tempo real, como é que se espera que estas imagens não acabem publicadas? Qual a inteligência de serviços secretos que mandam tirar fotografias das torturas e depois não controlam a consequência deste jogo de abominações? E como poderia o Secretário de Estado da Defesa , Donald Rumsfeld, ignorar estas práticas e a sua prova, se tanta gente já sabia delas? Excepto o Presidente Bush. Se o general Richard Meyers tentou impedir o programa da CBS 60 Minutes, onde as primeiras fotos apareceram, porque não tentou impedir que o Presidente soubesse da história pela televisão?

A guerra do Iraque foi travada por falcões, mas, pior do que isso, foi travada por gente estúpida. Rumsfeld está arrependido que as fotos tenham surgido à tona, não está arrependido que elas tenham sido tiradas.

Clara Ferreira Alves, 10-05-2004 in Diário Digital

13/05/04

Por todos os deuses do Olimpo...(desfecho:->)

Nota do Editor - O EXPRESSO Online errou. A notícia não corresponde efectivamente ao que foi debatido sobre os «blogs» no seminário «Ciberlaw'2004» , tendo o jurista Pedro Amorim razão no seu esclarecimento. Pelo lamentável equívoco, as desculpas ao jurista e aos leitores do Online.

Mário de Carvalho
13:17 12 Maio 2004, «Blogs» - Pedro Amorim esclarece

12/05/04

"Lembra-te"

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

Mário Cesariny

11/05/04

Por todos os deuses do Olimpo...

...digam-me que isto é um pesadelo...ou uma piada do "levanta-te_e_ri"!?!?!?

"Autoridade quer acabar «blogs»

A Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) pretende acabar com a existência dos chamados «blogs», páginas de opinião muito em voga na Internet, alegando que estes sítios são frequentemente utlizados para difamação, afirmou ao EXPRESSO Online Pedro Amorim, especialista em direito para as novas tecnologias da informação.

O jurista falava à saída do seminário «Ciberlaw'2004», organizado pelo Centro Atlântico, que decorreu na terça-feira no Centro Cultural de Belém

«Os blogs estão cada vez mais a ter uma relação com o jornalismo, e prevê-se uma grande tendência para a difamação. O objectivo da ANACOM é acabar com a criação de "blogs" e espero que seja cumprido», disse Pedro Amorim.(...)"


...este deve ser mais um dos tais...os putos!...estamos entregues à bicharada!?!

DALI...ícone da irreverência...


A persistência da memória, Salvador Dalí,1931. Óleo sobre tela, 24 x 33 cm. Coleção do Museu de Arte Moderna, Nova York.

Essa pequena tela é uma das obras de arte mais famosas do século XX.
As imagens flácidas dos relógios que se dobram, mas não se desfazem, evocam a obsessão humana com a passagem do tempo e com a memória. A paisagem de fundo lembra o Port Lligat, próximo de Figueres, onde Dalí nasceu e viveu.

Mais tarde, Dalí diria que o tema dessa tela surgira quando meditava sobre a natureza do queijo camembert... Ao longo do tempo, no entanto, essa obra deu margem a numerosas e variadas interpretações. A idéia da passagem do tempo está presente em várias outras obras de Dalí, inclusive em um curioso relógio feito por ele, em 1949, chamado O olho do tempo



O olho do tempo,Relógio com esfera esmaltada, diamantes em moldura de platina e um rubi. Fundação Owen Cheatham, Nova York.

"Irra! Vá lá um gajo competir com estes palermas!"

IRRA!

Se querem que vos diga, recordo-me perfeitamente. Eram seis da tarde e eu tinha dez anos. Estava sentado ao lado do meu pai, muito entretido a observar a fauna que se encontrava no Café Nicola. O meu pai lia "O Século" e eu resistia às caretas das velhas pintadas. Sem aviso e muito de repente, saído do carrossel da porta giratória, estacou um ser esbugalhadíssimo que se pôs a observar o recheio humano de toda a sala. Instalou-se um silêncio incómodo, enquanto todas as cabeças apontavam para o homem. Depois de resistir ao tiroteio de olhares, o homem vociferou: "Irra! Vá lá um gajo pintar as trombas destes palermas". Voltou costas e saiu, deixando a porta a girar num rodopio. O silêncio foi quebrado por duas ou três gargalhadas, um pouco nervosas lembro-me bem. Meu pai, antes de reabrir o jornal, disse-me em tom sério e pedagógico, justificando plenamente o mérito de tal acção: " É pintor!". Nunca mais vi o ser e jamais cheguei a perguntar ao meu pai o seu nome. Na qualidade de anónimo tem-me servido, perfeitamente, para os devidos efeitos. Fiquei, desde esse dia, a saber que os seres de casta esbugalhadíssima têm o poder de silenciar uma sala e decidir acerca do que fazer com as trombas dos palermas, sem necessitarem de requerer alvará ou diploma competente para tal, pois são uma suprema autoridade na matéria disciplinar da essência do humano. A expressão da loucura acompanhada do requinte do brilhantismo, causam-me arrepios na espinha e dão-me os únicos vislumbres de algo divino nos seres humanos.
Cultura sem loucura é uma treta hermética, boa para conversas de chá de cadáveres eruditos. Loucura sem cultura é simplesmente uma tristeza, boa, eventualmente, para regar a estupidez natural da juventude. Do casamento das duas é que nasce o que é bom. Pois então! Mas há que ser comedido; nem muita cultura, nem muita loucura. O que é demais não presta e como a sociedade está longe de ser perfeita, pode-se acabar preso ou com camisa de forças. Há então que praticar a coisa com calma. Tirar proveito da total ignorância dos outros acerca de nós. Ser tolinho às nove e meia e dizer coisas p'rá posteridade às nove e trinta e dois. Baralhar em grande estilo.
Há ainda o total direito de dizer caralhadas publicamente ou inscrevê-las em prosa, por parte de quem saiba inserir, num ramalhete de verborreia arcaica, uma estopada do tipo: idiossincrasia! Já deveriam, no entanto, de ficar interditados da utilização oral das mesmas, os seres lerdos ou boçais que dispõem apenas de uma dezena ou duas de palavras no seu vocabulário. A título de avaliação da diferença exposta, cito dois exemplos: "Amélia, apesar dos repetidos avisos proferidos pela minha pessoa, quanto ao facto de você não dever facultar peças do serviço de loiça chinês para as singelas e pequeníssimas mãos da nossa Filipinha, a sacana da criança, contudo, acabou de escaqueirar uma puta duma chávena... Faça o obséquio de ter mais atenção de futuro, foda-se!"- Lindo! E: "Carago Maria, tira o púcaro de merda das patas da cabra da Vanessa antes que vá para o caralho!" - Horroroso!
Mas, quando se tratam de escritas, as ditas bojardas já nem chocam. Pena é, que hajam escribas manhosos e comediantes repelentes a aproveitarem-se do estrondo inato desses crus ornamentos linguísticos, retirando-lhes a incandescência genuína e utilizando-os como eventuais lantejoulas inovadoras para pseudo obras literárias, ou como condimentos brutos para um humor reles e primário.
- Irra! Vá lá um gajo competir com estes palermas!
» embasbacado, 2004-05-11 (16:39), PASTILHAS

O Tempo, esse demónio dos nossos tempos...

...ou, como nós o desbaratamos impunemente(?)

«Quando Se Ama Os Espectadores
Por EDUARDO CINTRA TORRES
Terça-feira, 11 de Maio de 2004, in Público


Hugo e Rosa, dois irmãos suecos. Nasceram no dealbar do século XX. Viviam no campo; casa limpa, arejada. Com mais de 90 anos levavam a vida de sempre. Partiam lenha, cozinhavam no forno. A electricidade chegou-lhes pelo ano 2000, alguém a levou até lá. Pessoas simples. Ouvi-los era conhecer a vida nos campos há um século. Quando Hugo ficou doente, aos 99 anos, estavam ambos muito frágeis, foram levados para um lar de velhos e aí muito bem tratados. Ligaram a TV do quarto a Rosa, mostraram-lhe vários canais. Ela não quis ver nenhum. Hugo recuperou. À festa do centenário vieram familiares, antigos catecúmenos, amigos.

Rosa morreu primeiro. Hugo ainda festejou os 101 anos, em 2001. Meses depois, Hugo disse, no corredor a caminho do quarto, que ia ter com a irmã onde ela estava. No quarto, abriu a janela e gritou "Rosa!". Deitou-se. Morreu horas depois. Uma voz off diz que a vida deles pertence a um passado distante. Nunca lhes ouviu dizer que não tinham tempo para isto ou para aquilo. Tinham-no sempre. Nunca lhes faltava o tempo para quem amavam.

"Hugo e Rosa" é um documentário de Bengt Jägerskog (2002). Na TV é um documento quase chocante por estar tão mais próximo da realidade do que toda a "reality" que a TV nos apresenta.

O realizador também teve tempo. Acompanhou Hugo e Rosa durante uma década, de 1992 a 2001. Jägerskog teve tempo para Hugo e Rosa porque de alguma forma os amava - não seria possível filmá-los assim se não os amasse - mas teve tempo principalmente porque ama o cinema. O documentário passou no ARTE (quinta, 06.05). A TV portuguesa não tem tempo para documentários como este. Dez anos. Muito tempo. Seria preciso que a TV portuguesa amasse os seus espectadores.»

***
Et Maintenant.
(Gilbert Becaud)


Et maintenant,
Que vais je faire
De tout ce temps
Que sera ma vie?

De tous ces gens
Qui m'indiffèrent,
Et maintenant
Que tu es partie?

Toutes ces nuits
Pourquoi, pour qui?
Et ce matin
Qui revient pour rien...

Mon coeur qui bat
Pour qui, pour quoi?
Qui bat trop fort,
Trop fort...

Et maintenant,
Que vais je faire?
Vers quel néant
Glissera ma vie?

Tu m'as laissé
La terre entière,
Oui mais la terre
Sans toi c'est petit.

Vous, mes amis,
Soyez gentils,
Vous savez bien
Que l'on y peut rien.

Même Paris
Crève d'ennui,
Toutes ces rues
Me tuent.

Et maintenant,
Que vais je faire?
Je vais en rire
Pour ne plus pleurer.

Je vais bruler
Des nuits entières,
Puis, au matin,
Je te hairai.

Et puis, un soir,
Dans mon miroir,
Je verrai bien
La fin du chemin.

Pas une fleur
Et pas de pleurs,
Au moment de
L'adieu.

Je n'ai vraiment
Plus rien à faire,
Je n'ai vraiment
Plus rien.


Ainda sobre putos...Calvin & Hobbes ;-)

"A Guerra e os Putos que nos (des)Governam"


"São 5 e meia da matina (serão???) , eu sei!!!!, mas que querem?

Eles são teimosos no querer e eu sou fácil no ceder....

Por isso, olhei para eles já quase a dormir (eu!, não eles, que são de geração espontânea quando querem e não se deixam aldrabar com as "estórias de encantar") e comecei a pensar nos putos que nos governam e que, segundo parece, serão responsáveis pelo nosso alinhamento na guerra que por aí veio e que lançaram milhares de con-cidadãos nossos no desemprego pela falta de "munições" com que disparar contra fomeca que se adivinhava...

Primeiro-Ministro, José Manuel Durão Barroso, nascido a 23 de Março de 1956...

Ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Sacadura Cabral Portas, nascido a 12 de Setembro de 1962...

Secretário de Estado da Defesa e Antigos Combatentes, Henrique José Praia da Rocha de Freitas, nascido a 13 de Março de 1961 ...

Pois é.... tudo gentinha que comprou (à rasca) os antecedentes da Play-Station...

Ainda me lembro de um dos meus filhos a dizer-me lá atrás no banco do automóvel: "Pai! Olha aquela Mota! Mata! Mata!"

E eu, estupidamente, a sorrir porque era isso mesmo que ele via nos joguinhos do Spectrum....

Raios me partam!"

"Deixa lá os putos viverem...", pensei eu, como que a querer que tudo isto não passe de son(h)o...

???????
******
Será isto a... evolução?

(a aguardar datação e respectiva identificação do autor);-)

10/05/04

CINEMA

...com algum atraso, fui ver:

"Les Triplettes de Belleville"/"Belleville Rendez-vous"
...outro belo filme!...e não se deixem enganar, é uma animação, sim!, mas...está lá tudo!...e aquele "é uma casa portuguesa, concerteza...", para quem desconhece a nacionalidade da "avó"...é um estrondo!;-)


***
...e o próximo a não perder, ao que parece...

"...a masturbação em cadeia de egos em coro..."

...tinha começado por seleccionar uma ou duas frases, como quase sempre faço, mas...não!, desta vez quero o texto todo!...obrigada por me facultares as palavras que eu não sei escrever...e preciso!
*****

«A ideia de fim da história, ou de estado último de desenvolvimento\ destruição\ aniquilação\ evolução morreu, mesmo enquanto história, muito mais enquanto fim. Os neo-paradigmas são iguais a quaisquer outros produtos- têm prazo de validade, foram feitos para saírem das prateleiras e se tornarem obsoletos. Morre a ideia de fim. Mas nunca existiu uma ideia de um começo válido-nunca Adão e Eva, nunca mesmo os macacos em cima dos galhos.
- Quando é que saíste de cima da árvore?
- Quando te vi rastejar debaixo da pedra.
Tudo é consequência de qualquer coisa, embora muito também não o seja. A própria frase contradiz-se. As palavras nunca chegam nem alcançam nada.
Vive-se sobrevivendo ou só e apenas se existe numa era\ época\ situação\ momento que passa e se acumula por cima do entulho de cada segundo\ minuto\ hora firmamento chutado da eternidade que passa, mas em que a ideia de um fim último de desenvolvimento morreu. Se bem que as ideias deterministas sejam na sua maioria inócuas, porque reduzem as pessoas a meros actores sociais, negando a lógica individual de cada um-porque tentam controlar e domesticar o que não tem controle-não deixa de ser verdade que uma certa ideia de começo também começou (o começo também se começa!?) a diluir aos poucos. A sociedade tornou-se o próprio reflexo do imediato e do tempo ausente. Esta é a era do nada em que os actos e as consequências deixaram de ter um significado de peso porque, gradualmente, aquilo que poderia ter um real interesse (sentimentos, emoções, altruísmo) passou a ser apenas um estado passageiro segundo a lógica de qualquer sociedade consumista. Traduz, na maior parte dos casos, uma adulteração do espaço do Eu em relação ao Outro. E hoje em dia parece que só existe o Eu, não quero nem saber do Outro, não estou nem aí para os problemas dos Outros. Ora, sendo Eu feito de uma soma de tudo o que me rodeia, de tudo o que imaginei e de tudo o que me foi imposto, de todos os outros... com a minha negação... o que é que existe? Apenas uma chacina da lógica identitária, de um contínuo recalcar de memórias e de tempo, apenas o fim da continuidade histórica, apenas dissertações vagas como esta. Apenas o reflexo do tempo ausente que passa. A mesma sede do imediato ou do programar a vida numa espécie de lógica andróide, apenas a masturbação em cadeia de egos em coro, mas afastados uns dos outros e a lutarem pelo mesmo espaço. Apenas a lógica individualista da vida aqui e agora, a mesma lógica que condena e condenará sempre o dia de amanhã e de todos os seus rebentos ao mais completo planeta de cinzas, ou só e apenas às cinzas mas sem planeta algum. A mesma vida que aniquila o passado, que o retrata conforme os seus próprios interesses, que hipoteca o futuro porque já se postulou que ele já nem sequer existe.
A vida do Homem de hoje mata a vida do Homem de amanhã. Apenas um holocausto, tão igual a tantos outros.

Hoje aprendo mais uma vez o que já sabia e que sempre soube. O meu lugar já não é aqui. Correcção: ele nunca foi.»


posted by Ricardo : 3:30 AM; disakala
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(..."O meu lugar já não é aqui. Correcção: ele nunca foi."...nem o meu, nem o meu...)

"A dialéctica é uma coisa fabulosa."

FEBRE DE SÁBADO À NOITE

«São três da manhã. Eu já não sei nada. Este carro bem podia andar muito mais depressa. Não sei para onde vou mas urge chegar. Não concorda? O melhor se calhar é ir sempre. Sempre! É isso: não convém chegar sequer. Se houvesse possibilidade engolia todo o Presente, só para digerir o Passado e arrotar o Futuro. Que novos rituais inventaram agora? Nada. São tudo formas modernas de ser-se antigo. A moda fica sempre obsoleta e a estupidez continua a ser a melhor notícia. E vós minhas queridas? Nem belas, nem inteligentes, nem ao menos fieis. Vossas senhorias sois apenas apêndices da minha agonia espiritual. Seria bom arranjar uma namorada formada em Química e Farmácia: quecas e drogas novas. Perfeito! Sempre gostaria de saber porque nunca me matei. Nunca tiveram a sensação de tudo existir por vossa causa? Mas a festa está sempre à solta. Não é? Quanto mais tolo, mais gozo. Em frente. Larachadas e engates avulso! Nas noites em que fui parvo e fútil, adormeci quase sempre acompanhado. Quando começo a fazer o balanço de tudo e fico mais perto de ser lúcido, fogem todas a sete pés. Mais vale ser futebolista, ou culturalmente um "excesso". Não me interessa. Com os pés já afaguei vaginas aflitas. Bonito, não é? E uma vagina continua a ser um espaço virtual sempre à espera de ser visitado. Acho que a poesia se resume a isto: visitas espontâneas pelo Universo dentro! Pode-se visitar tudo e nem é necessário deslocarmo-nos. E você, entretanto, já se convenceu que é alguma coisa? Não se iluda. Continue a sua tarefa de estar vivinho simplesmente, e basta!!! Não queira ir mais longe, pelo facto de que não saberia como. Reduza-se. Porra! Detesto estes putos barulhentos a gregoriarem à volta da minha pessoa. - Ó pá se vomitares para cima do carro levas-me às cavalitas! Não há nada pior que a juventude: hormonas descontroladas, força muscular e ignorância! Mas isso numa gaja até pode ser quase uma virtude. Etc. Etc. Tenho um cigarro acabado de acender, deitei uma beatinha mirrada pela janela do carro, e está uma beata crescida a arder no cinzeiro. O que seria eu sem o tabaco? Diz-me para virar na próxima saída? Mas ali só há uma discoteca de burgessos. Pronto já sei: você também se tornou um gajo com pinta através de um catálogo. Está bem, eu deixo-o lá! Não me agradeça; a minha vida tem sido uma sucessão de altruísmo-pelo-combate-ao-tédio. Eu explico: canso-me com facilidade de mim. Preciso de sair constantemente. É claro que tem sido quase sempre como dar pérolas a porcos. Mas, assim como assim, divirto-me neste processo. Se eu lhe disser que você é um personagem que eu inventei esta noite, não acredita? Ah! Aselhas! Qual tolerância zero qual carapuça! A lei deveria ser alterada: quem se deixasse bater por trás tinha sempre a culpa. Era ver todos a rodarem à ganância. Nunca mais haviam engarrafamentos. E nós, pessoas de bem que circulamos natural e seguramente a um "pintor e 80" por hora, já podíamos dizer com toda a propriedade: " se não sais da frente, escavaco-te, Arrrrrrrrrrrrrrrrreee! " Seria lindo e fluente. Quer que eu vá mais devagar? Tem medo? Mas de quê? De morrer ou de não viver? Abra a garrafa de bolso que está no tablier; como pode constatar só me faltam a bordo os sacos de vómito. Pronto, já chegámos. Não, para ali não vou. Entenda-me, não consigo estar com mais de um asno de cada vez, e aquilo é um meeting deles. Não estou com "onda"? Meu caro; "ter onda é cagar na onda dos outros"! E já agora fique a saber que não trocava, por nada deste mundo, o meu nariz abalroado, os meus olhos desfocados e o meu rosto de boa linhagem a precisar de bate-chapas e com a cremalheira dentária periclitante, pela sua irreversível cara de padeiro. Divirta-se. Quando você se transformar em verme talvez eu seja um pinto. A dialéctica é uma coisa fabulosa. Agora vou-me embora. Estou com pressa. Deus era lento: seis dias para criar isto. Em seis horas já criei e arrasei mentalmente universos desmultiplicados. Deixem-me ir ! É preciso ir ! Ir !!!!»

embasbacado, 2004-05-09 (19:31), in PASTILHAS

09/05/04

...eu não sei...

...viver (com)a solidão...porque me deixas assim...?

08/05/04


LA SOLITUDE

Je suis d'un autre pays que le vôtre, d'une autre quartier, d'une autre solitude.
Je m'invente aujourd'hui des chemins de traverse. Je ne suis plus de chez vous.
J'attends des mutants. Biologiquement je m'arrange avec l'idée que je me fais de la biologie: je pisse, j'éjacule, je pleure. Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s'il s'agissait d'objets manufacturés.
Je suis prêt à vous procurer les moules. Mais...

la solitude...

Les moules sont d'une texture nouvelle, je vous avertis. Ils ont été coulés demain matin. Si vous n'avez pas, dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée, il est inutile de vous transmettre, il est inutile de regarder devant vous car devant c'est derrière, la nuit c'est le jour. Et...

la solitude...

Il est de toute première instance que les laveries automatiques, au coin des rues, soient aussi imperturbables que les feux d'arrêt ou de voie libre. Les flics du détersif vous indiqueront la case où il vous sera loisible de laver ce que vous croyez être votre conscience et qui n'est qu'une dépendance de l'ordinateur neurophile qui vous sert de cerveau. Et pourtant...

la solitude...

Le désespoir est une forme supérieure de la critique. Pour le moment, nous l'appellerons "bonheur", les mots que vous employez n'étant plus " les mots" mais une sorte de conduit à travers lequel les analphabètes se font bonne conscience. Mais...
la solitude...

Le Code civil nous en parlerons plus tard. Pour le moment, je voudrais codifier l'incodifiable. Je voudrais mesurer vos danaïdes démocraties.
Je voudrais m'insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit, le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité. La lucidité se tient dans mon froc.

Léo Ferré

07/05/04

"Hoje existo e basta-me. Hoje insisto e basto-me."

"PALIATIVO
A minha dimensão é a solidão. Os poderosos são sempre estupidamente perigosos e os fracos inofensivamente estúpidos. Uns não podem com a minha resistência, os outros com o meu carácter. Mas, na verdade, o que lhes causa eczemas mentais no espírito epidérmico e apertadinho são as raízes da minha liberdade. Arre! que nunca compreenderam que a vida só poderia ser uma grande sinfonia; e tudo isso sem grande esforço. É complicado? Pois seja. Então não me digam nada. Estou farto de competitivos e de cooperativos. Quero uma pátria de solitários. E quanto a morrer, só quando eu quiser - ou seja, antes do destino mas depois da medicina, e nem a mãe Natureza me pode vencer nisso. Depois disso, tornar-me-ei compreensível para todos vós. Há por aí um projecto para um novo Mundo? Convidem-me! Não me chateiem com ninharias. Deus é meu amigo. Eu não sei ter amigos. Já Lhe pedi, contudo, uma borracha para apagar realidades. Foi-me recusada sob o pretexto de ser uma arma letal nas mãos dum esteta. E eu que só queria apagar umas coisitas. Existem as bombas, é certo, mas o estrondo incomoda-me mais do que o fulgurante efeito me poderia satisfazer. Às vezes também odeio, mas curo-me depressa. E isto da bomba seria mais pelo tédio. Sou um pachorrento sentimentalão. Até a estupidez por vezes me enternece. A maldade aborrece-me, só pelo facto de ser quase sempre tão primária. Acabo por gostar de alguns filhos-da-puta. É aquela treta do ser humano. É claro que a matéria, essa meretriz evidente, me perturba. Doutro modo como teria tesão? Mas há que convir que é repelente. Tanto a erecção como a trampa da biologia que a inspira. Há o amor, pois claro! Mas já está tão usado, até pelos medíocres e outros pimbas, que já não sei o que lhe fazer. Adoro os meus filhos, acima de tudo, pelo facto de só poderem vir a ser melhores que eu: mais rectos e imparciais, rápidos e racionais, intensos e rigorosos, polidos e matemáticos, filósofos de software, românticos materialistas, niilistas de hipermercado, sensíveis de alta tecnologia, egocêntricos de cortar à faca, narcisos de outdoor, apaixonados virtuais; enfim, uns andróides quase perfeitos num infindável mundo de quadrúpedes. Continuará, apesar de tudo, a haver o problema de serem muitos. Não me canso de perguntar: para quê tantos? Está muito certo que cada homem seja um símbolo, não consigo é conceber a utilidade de tiragens maciças em metrópoles fotocopiadoras, a partir de um original de má qualidade. Deve haver algures a possibilidade de ser-se mais que "homem-apenas". Ou então não haja. Raio de mania de querer sublimar a nossa fedorenta condição com recheios perfumados de espiritualidade. Hoje existo e basta-me. Hoje insisto e basto-me. Amanhã estarei simplesmente mais cansado de existir e insistir. Pensar é apenas um género erudito de dor de cabeça ... E sentir o Universo, afinal, é apenas um imenso paliativo."


» embasbacado, 2004-05-07 (16:12), in PASTILHAS

06/05/04

Não me canso de olhar, olhar...e (tentar) ver!

"corpo


quando te debruças e te ofereces assim..."


in Abstracto Concreto

...não deixem de visitar!...

emblemático

ESCRAVO

Divide-te e faz
adianta e resolve!
Trabalha estúpido. Vá!
Atarracha a porca, prega o prego,
prime a tecla, limpa a merda.
Não protestes,
não te queixes,
nem sequer deixes que te apanhe a sonhar.
Tudo o que tens é tudo o que mereces e mereces mais.
Por isso não percas mais tempo
que tempo é dinheiro
e ainda por cima me pagas.
Gosto de ti...
...vou chamar-te escravo e pagar-te o mesmo.



de João Natal, 20/04/2004, in Poetry Café

03/05/04

...ah!, se para ser superior bastasse um simples "eu sou superior!" :->

01/05/04

ALEXANDRE O'NEILL, in VIDAS LUSÓFONAS

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...