Perdi-me e quando dei por mim encontrei-me...
...aqui
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Isto de uma vida de difícil re-encanto é perigosamente semelhante a uma vida sem encanto. É este parentesco que importa negar. Tenta-se. Emerge assim a celebração das possibilidades do quotidiano, descobrimos o tanto que a nossa acção pode significar, plantamos uma árvore, fazemos 999 filhos de tanto amor, cantamos e somos poesia nos bons dias de todos os dias, lutamos, se temos força, damo-nos se o egoísmo o consente. E são estas coisas e estas pessoas que prendem o desejo ao amor, que nos convertem em profetas de possibilidades e nos lembram a cada dia tudo o que perdemos por sermos quem somos. Mas também aqui há um perigo (esse campo minado do querer...), o perigo de fazermos dos limites assentidos, o conforto do nosso intento, de fazermos da impossibilidade de ser outro esses tantos outros em nós, enfim... o perigo da celebração dos limites. É por isso que entendo que não poderemos clamar os méritos de termos ajustado o querer ao poder, o desejável ao factível, sem trazer connosco o hábito de evocar a memória da desolação iniciática. Entendo por desolação iniciática esse momento mágico em que percebemos que a verdade não existe e que temos que lutar por ela no eterno fracasso, o momento em que percebemos que amar é consentir a espera pelo amor que vem, o momento algures em que o vislumbre das impossibilidades, ou nos paralisa, ou nos reconverte. É por referência à reiteração desse espaço-tempo pessoal (desolação iniciática), em que tudo acabou para começar outra vez, que as convicções se abatem ou se forjam.»
in avatares de um desejo
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Isto de uma vida de difícil re-encanto é perigosamente semelhante a uma vida sem encanto. É este parentesco que importa negar. Tenta-se. Emerge assim a celebração das possibilidades do quotidiano, descobrimos o tanto que a nossa acção pode significar, plantamos uma árvore, fazemos 999 filhos de tanto amor, cantamos e somos poesia nos bons dias de todos os dias, lutamos, se temos força, damo-nos se o egoísmo o consente. E são estas coisas e estas pessoas que prendem o desejo ao amor, que nos convertem em profetas de possibilidades e nos lembram a cada dia tudo o que perdemos por sermos quem somos. Mas também aqui há um perigo (esse campo minado do querer...), o perigo de fazermos dos limites assentidos, o conforto do nosso intento, de fazermos da impossibilidade de ser outro esses tantos outros em nós, enfim... o perigo da celebração dos limites. É por isso que entendo que não poderemos clamar os méritos de termos ajustado o querer ao poder, o desejável ao factível, sem trazer connosco o hábito de evocar a memória da desolação iniciática. Entendo por desolação iniciática esse momento mágico em que percebemos que a verdade não existe e que temos que lutar por ela no eterno fracasso, o momento em que percebemos que amar é consentir a espera pelo amor que vem, o momento algures em que o vislumbre das impossibilidades, ou nos paralisa, ou nos reconverte. É por referência à reiteração desse espaço-tempo pessoal (desolação iniciática), em que tudo acabou para começar outra vez, que as convicções se abatem ou se forjam.»
in avatares de um desejo
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW