09/03/05

«A verdade da encenação»

«(...)Existe o real? Existem tentativas de reproduzir a imagem desse real? Será que o teatro é uma delas? Pessoalmente, julgo que o real existe, sim, mas nas suas encenações, não em si mesmo. Não temos de um lado a verdade pura e nua e doutro lado as representações impuras dessa verdade. A verdade é a sucessão das suas representações. O teatro não é uma reconstrução da verdade. É a verdade a produzir-se, uma das muitas formas da sua produção, mas certamente uma das mais belas.
E o que é a beleza nestas coisas, aquilo que nos leva a ler textos, a escrever dramas e tragédias, a ensaiar vezes sem conta, a sair de casa e entrar numa sala obscurecida, a aplaudir? É a intensidade (a obsessão, a fúria, o desespero, a técnica) com que se procura o que só existe porque se procura: a verdade. Eu não te procuraria se não te tivesse encontrado.
Por outras palavras, a verdade não está antes e precisa de ser recuperada. A verdade é algo que acontece em plena trajectória e passa a ser o que vem depois. E o teatro é isso, essa circularidade das instâncias.(...)» in A verdade da encenação
Eduardo Prado Coelho, o fio do horizonte - Público


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

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