(obrigada, Fran...)
LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE ÁLVARO DE CAMPOS
(Fragmento)
Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
E vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto
Penso que a questão é esta: a gente—certa gente—sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar—
vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a ...
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato
mas de gato para cima—nem pensar nisso é bom!
Propalam não sei que náusea, revira-se-me o estômago só de olhar para eles!
São criaturas, é verdade, calcule-se,
gente sensível e às vezes boa
mas tão recomplicada, tão bielo-cosida, tão ininteligível
que já conseguem chorar, com certa sinceridade,
lágrimas cem por cento hipócritas.
Mário Cesariny, NOBILÍSSIMA VISÃO (1945-1946)
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
29/04/05
Como diz o Prof, lá no seu MURCON,,,
Entrar e, mais ainda, permanecer é que já nos fica vedado, tantas vezes duma forma completamente estúpida, porque a pachorra também tem limites. Era suposto que este espaço virtual fosse um espaço onde as diferenças de toda a ordem - sociais, económicas, culturais, sexuais, religiosas e todas as mais que se possam inventar - se esbatessen por forma a viver-se a LIBERDADE sem freios, sem leis, sem complexos, sem preconceitos, sem constrangimentos. É claro que a utopia viveu-se por pouco tempo; talvez continuar-se nessa anarquia não fosse, de todo, possível e/ou viável, mas...também não precisava conspurcar-se a coisa com as merdas do mundinho lá de fora!, a esse não podemos mesmo escapar, né?!?...ao menos que aqui a coisa se diluisse, tanto quanto possível, tendo em conta que uma pessoa vale, realmente, por aquilo que é não por aquilo que tem! E ter poder económico, social, ou mesmo cultural, já se viu que não é garante da qualidade do respectivo detentor de tais "bens". O carácter dum ser humano avalia-se pelas suas acções, posturas, e ideias praticadas e não pelos canudos que ostenta, nem pelos porches que guia, nem pelas citações que faz...:->
Vai daí, eu tenho mais que fazer (e aprender!) do que andar a servir de corte a meia dúzia de pacóvios convencidos que sabem tudo, sem admitirem que outros, não sabendo tudo, podem saber de coisas que a eles serão completamente estranhas porque precisariam ter sido vividas...e apreendidas!, é que alguns vivem-nas, mas delas nada retiram!...é que os livros não ensinam tudo!...embora ajudem a olhar o que se vive retirando dessa experiência a capacidade de partilhar com "o outro" e quem não souber tirar este ensinamento da vida bem pode continuar convencido que anda a ensinar quando, afinal, apenas anda a enganar...a si e aos outros. 'Quem sabe faz, quem não sabe ensina!':->
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/29/2005 06:29:00 da tarde 9 comentários
25/04/05
«A História que ficou adiada»
...
A política do Governo é por natureza humanista no projecto, portuguesa na raiz e europeia na vocação. Contribuir para a edificação de Portugal democrático é o seu objectivo. Ajudar o processo de revitalização da sociedade civil e fomentar o reencontro entre o Estado e os cidadãos é o seu método. O Governo está interessado no aprofundamento das solidariedades entre os Portugueses, na afirmação e realização da pessoa humana e no desenvolvimento da justiça social. Como está interessado num exercício mais amplo das capacidades da iniciativa privada, individual ou de grupo, na convicção de que o progresso material do País tem nela o seu motor principal.
...
O Governo atenderá às responsabilidades que cabem ao Estado na protecção dos mais desprotegidos e dos marginalizados da sociedade. A guerra contra a pobreza e a ignorância está na primeira linha das suas preocupações. E nesta luta o Estado deve dar o exemplo. A transparente honestidade da administração pública tem de se traduzir num firme combate a todas as formas de corrupção e numa prática quotidiana sóbria e digna.
...
No plano social, o Governo preocupar-se-á, sobretudo, com as carências mais significativas nos domínios da habitação, da educação, da saúde e da segurança social. O Governo inscreve no centro das suas preocupações a melhoria da qualidade de vida e do bem-estar dos Portugueses, essência da sua luta pela justiça e por mais sólidos suportes materiais e culturais da liberdade.
..., in SULturas
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Publicada por amok_she à(s) 4/25/2005 09:34:00 da tarde
Porque...
"O mais corrosivo de todos os ácidos é o silêncio"
Frangias, Andreas
...obrigada, Elmano!...senti-me um pouco menos sózinha...
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Publicada por amok_she à(s) 4/25/2005 06:00:00 da tarde
Outra ilusão...
...os excluidos duma sociedade são-no tanto em liberdade como na ausência dela e a esses de que lhes serve a liberdade de poder gritar que tudo lhes falta, se tudo lhes continua a faltar...?
Publicada por amok_she à(s) 4/25/2005 01:25:00 da manhã 1 comentários
23/04/05
Às vezes fica difícil...
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Publicada por amok_she à(s) 4/23/2005 10:07:00 da tarde
«Fazes-me Falta»
Inês Pedrosa
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Publicada por amok_she à(s) 4/23/2005 02:25:00 da tarde
22/04/05
«O Quereres»
De vez em quando apetece-me, muito, reler este belíssimo poema do Caetano...é assim como relembrar a impossibilidade da utopia...
Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão
Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês
Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói
Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és
Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'nroll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inseticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim
O Quereres
Caetano Veloso
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/22/2005 11:55:00 da tarde
29 de Abril
21h30
Sala 2
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/22/2005 11:29:00 da tarde
"Quando já nada me indignar, terei começado a envelhecer.", André Gide
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/22/2005 10:20:00 da tarde
20/04/05
...a tua poesia continua a ser-me de difícil compreensão,mas...não consigo deixar de "lá ir"...compulsivamente!
«no despertar nocturno do poema
os olhos mergulham cansados
na lentidão das teias desfocadas
e nos soluços brancos do papel
os dedos repousam sobre as teclas
enquanto aguardam impacientes
pela derradeira orquídea de marfim
enquanto aguardam impacientes
os dedos repousam sobre as teclas
e nos soluços brancos do papel
na lentidão das teias desfocadas
os olhos mergulham cansados
no despertar nocturno do poema»
lfdsa
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Publicada por amok_she à(s) 4/20/2005 12:13:00 da tarde
18/04/05
«Revolta»
Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.
Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.
De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.
Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste
O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.
Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro, 1933
in O caminho para a distância
in Poesia completa e prosa: "O sentimento do sublime"
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/18/2005 11:31:00 da tarde 0 comentários
17/04/05
Um bela forma de exprimir o estado d'alma...
...num triângulo...
TCA
Recordo os teus olhos, os movimentos do corpo, as expressões de alegria, ainda que breves…
Recordo o desejo, o embaraço e a mordaça da prudência. A compostura impera no seu absolutismo ditatorial. E ganha. Injustificadamente e sem propósito mas ganha.
Na ausência de motivos sondam-se as desculpas e, talvez, mais significativo que o brilhozinho nos olhos, fossem os olhos tristes da apreensão. Talvez o aparente desejo não passasse de uma mera necessidade de afirmação do direito à felicidade. Talvez um de nós não exista e seja fruto de devaneio proscrito que esmorece ao amanhecer. Talvez...
Entre cigarros, mais um prazer efémero mas indispensável, embalada pelas melodias de um subconsciente inventado pela força da necessidade, talvez penses. Talvez sonhes ou talvez recordes o que ilusoriamente eu julgo recordar."
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/17/2005 06:55:00 da tarde
«O desperdício»
«O desperdício
É muito bom o reencontro! Mas se voltarmos a viajar juntos cada um dormirá no seu quarto. E encontrar-nos-emos de manhã, na sala do pequeno-almoço, como os excursionistas japoneses, delicados e munidos das suas máquinas fotográficas. Porque a amizade, quando mostra as garras, furiosa por ter sido desperdiçada, pode revelar-se bem mais severa do que o amor.»
Julio Machado Vaz, Quarta-feira, Março 23, 2005, Murcon
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Publicada por amok_she à(s) 4/17/2005 12:11:00 da manhã
13/04/05
Ainda os triângulos...amorosos, claro!:->
Outros vértices de triângulos?
Esta semana gravámos para Estes Difíceis Amores com mails de gente que afirmava amar duas pessoas. Acreditem que foi complicado escolher, eram bastantes! Fiquei a pensar. Também no consultório ouço mais essa afirmação e menos a pergunta ao "especialista": "diga-me: no fundo, de qual gosto?(...)A pressão cultural para considerar que o aparecimento de uma segunda atracção resulta do desvanecer da primeira é muito grande, traduzindo uma "patologização" destes triângulos.", in Murcon
Mas...e quando se ama - mesmo! - os dois???
«Sobretudo, verifico que uma nova paixão não implica a certidão de óbito do amor reinante.», in Murcon
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Publicada por amok_she à(s) 4/13/2005 11:06:00 da tarde
12/04/05
É o vazio absoluto...
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Publicada por amok_she à(s) 4/12/2005 10:16:00 da tarde
11/04/05
«Angústia de separação»
Por vezes é-se tentado a tomar como certo (e inquestionável!) que o amor chega para tudo...
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/11/2005 10:46:00 da tarde
03/04/05
O QUE É O AMOR?, in Francesco ALBERONI - Amo-te. 9ª ed. Chiado : Bertrand, 2003, p. 277-281
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/03/2005 10:40:00 da tarde 0 comentários
E...porque raio repetimos,vezes sem conta, o mesmo erro!???
Porque damos aos outros as armas com que nos ferem?
Seja qual fôr esse poder...somos nós que o damos! Só nós permitimos - nesse gesto estúpido de dar ao "inimigo" a arma que nos "mata" - essa suprema exposição que nos permite ser "agredidos" sem defesa, num misto de "masoquismo" e completa ausência de qualquer vestígio de auto-defesa que nos valha.
Porquê? Porque nos expômos assim? Repare-se que não são os outros que nos agridem! Somos nós que nos deixamos agredir e, tantas vezes, facilitando com a oferta da melhor "arma", daquela que nos atinge mais certeiramente!
Somos estúpidos...ou quê?!?
[Engraçado como o mundo gira...o rio corre sem voltar a passar por baixo da mesma ponte...mas as verdades continuam verdades, mesmo se mudam as circunstâncias, os sujeitos, as dores...]
***
« Conselho a um filósofo desprevenido
Não tentes esgotar toda a realidade, pois podes chegar a um ponto tragicamente distante e sem retorno possível. Acredita, a ignorância é, naturalmente, um bom porto de abrigo.»
posted by elmano @ 4/2/2005
[Vou ver se consigo obrigar-me a seguir o conselho...duvido!]
(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
Publicada por amok_she à(s) 4/03/2005 08:51:00 da tarde 0 comentários