17/04/05

«O desperdício»

[...que os puristas me perdoem (se quiserem...), mas estou sem a mínima vontade de escrever...não que alguma vez tivesse acreditado ter algo para dizer aos outros...apenas escrevia para me libertar, vá-se lá saber do quê...no entanto o prazer de ler, esse, mantém-se...felizmente!...e de vez em quando vou descobrindo pequenas pérolas, não só pela qualidade da escrita que me é alheia, mas porque ali está o que eu gostaria de escrever/dizer...se soubesse!...e lá vai mais um cop&past]


«O desperdício

É perturbador encontrar um amigo íntimo que nos desleixou a amizade. Porque a velha química de novo se põe em marcha e a conversa flui. Como se não passasse do capítulo seguinte num livro feito de muitas noites, bastantes copos, alguns amores e dois homens a céu aberto. Mas não é verdade:(. O coração abre-se; como ele o caixote das recordações e a caixa dos afectos. Mas a caixinha da confiança cega, no interior de tudo o resto, permanece intransigente. A chave apodreceu, de tanto esperar...
É muito bom o reencontro! Mas se voltarmos a viajar juntos cada um dormirá no seu quarto. E encontrar-nos-emos de manhã, na sala do pequeno-almoço, como os excursionistas japoneses, delicados e munidos das suas máquinas fotográficas. Porque a amizade, quando mostra as garras, furiosa por ter sido desperdiçada, pode revelar-se bem mais severa do que o amor.»

Julio Machado Vaz, Quarta-feira, Março 23, 2005, Murcon

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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW