Tenho por hábito ir ao cinema durante a semana e de tarde!, não só por isso (
mas também, eu sei!) os filmes que vou ver passam, invariavelmente, em salas quase só para mim. E o que eu adoro ter a sala (
quase) só para mim! Os filmes que mais gosto não são, em geral, filmes de grandes bilheteiras, pelo menos nas nossas salas e quase sempre vou sozinha; os outros, os que apelido de
'filmes pipoca', guardo-os para quando combino idas em grupo, ou quando arrasto a
cara-metade só para não
'se dizer' que o excluo das idas ao cinema. Em geral filmes do tipo '
james bond' ou
e, confesso, a mais não me atrevo.
Já tinha jurado a mim mesma que não metia o pé numa sala de cinema para ver esta suposta treta, transformada em ode ao cinema comercial (
seja lá o que isso fôr) e à promoção duma
Soraia Chaves de quem toda a gente falava sem que eu percebesse a razão...pois!, não vi o tal do '
Crime do Padre...', dessa vez não me deixei tentar...:=>
Mas, desta vez sim!, deixei-me tentar...não pela
Soraia que não faz o meu género!:=>...mas por umas duas ou três razões, sendo que a principal foi a leitura dum artigo do
Público desta semana, dum realizador -
curioso, esqueci o nome...- que muito
'batia' no filme e no realizador, considerando-o assim a modos que um vendido e, no caso, mais um promotor de meninas de carinha laroca. Em resumo, no entender do dito entendido, o filme e todos os do género -
tipo 'conquistadores' de grandes públicos - não eram cinema, sendo mesmo a vergonha da cara dum realizador que se preze! Confesso que, na altura, com a minha
mania intelectualóide 'comi' a escrita como boa, achei que
'sim senhor, filmes destes são pra encher salas de pipoqueiros' e eu, como boa apreciadora de bom cinema que, pontualmente, condescende num ou noutro
'filme pipoca' para agradar a amizades ou
'compensar' saídas independentes, jamais iria fazer parte da manada que acorre às salas de cinema num
voyeurismo que pouco ou nada tem a ver com...cinema! Não sei o que mais pesou: se o mero desejo de partilhar uma tarde de domingo, se o acto de oferecer(?!) uma sessão
voyeurista, ou um
'não sei quê' no artigo do tal realizador que me ficou a saber a arrogância de '
raposa que desdenha as uvas'. Acho que juntei tudo...criei coragem e fui!
É certo que gosto de filmes que me façam pensar e detesto filmes fáceis, daqueles que ainda nem nos sentámos e já adivinhámos o fim, mas...não tenho a mínima pachorra para o dito cinema de qualidade...português! Dê lá por onde der e não consigo ter pachorra para aquelas xaropadas pseudo-políticas, pseudo-defensoras dos coitadinhos, pseudo-dadas a
intelectualismos de que ninguém tira a ponta dum corno de interesse, com excepção dos intelectuais que tudo entendem, desde que mais ninguém entenda. O
avô Manel pode até ser o supra-sumo do cinema de qualidade a nível mundial, mas eu nunca tive, mesmo, pachorra nenhuma para qualquer um dos seus filmes. Se calhar em alguns deles foi apenas porque a fase não era a melhor -
também só comecei a apreciar poesia depois de começar a envelhecer - mas hoje em dia, então, ainda menos me apetece meter por um
Manoel de Oliveira dentro.
Acho que já me emaranhei um bocado porque a ideia era falar do
'Call Girl', mesmo. Quer dizer, falar não tanto do filme mas do fenómeno que este tipo de filmes arrasta. A sala estava esgotada e mesmo tendo em consideração que era domingo -
já assisti a filmes em tardes de domingo em que não estando a sala completamente por minha conta, mais não seríamos que uma meia dúzia; logo, a questão não é a disponibilidade de tempo do público e sim a sua inteira disponibilidade para sair do sofazinho, largando as pantufinhas, para levar a mulherzinha ao cinema! - gentes!, a sala estava basicamente cheia de casais que eu juraria há muito, muitos aninhos, não saiam juntos e menos ainda para um cineminha! Pensando bem, agora, quase me arrependo de não me ter ocorrido perguntar-lhes o que acharam do filme?!...é que eu nunca vi tantas vezes repetida, por milímetro quadrado de filme, a expressão
'foda-se' e seus derivados como
'vai-te foder',
'eu vou-te foder',
'estás fodido(a)', etc., etc., etc., em toda a minha vida de cinéfila. Já para não mencionar o
'caralho' e
'caralho se foda', estas um pouquinho menos repetidas, é certo. Isto e
as mamas e o cú da Chaves devem ter feito as delícias dos machões cá do burgo que encheram o papinho por muitos e bons tempos.
Fora isto, o filme até conta umas
'estórias(zinhas)' nada mal amanhadas...afinal de contas as boas
'estórias' não são só as dos bairros degradados de
Lisboa e
Porto envoltas em
'drogas, drogados, conversores e convertidos', onde as vítimas são sempre os pretos ou de qualquer outra minoria...e já vi filmes do dito cinema português -
existe? - muito piores que este, a vários níveis, e que não levaram tanta porrada dos críticos pensadores...O filme é feito para encher salas-pipocas? Pois é! E daí? Aposto em como mais de dois terços do número de pessoas que vai ver este filme não iria ao cinema ver outro filme que não este! Que o filme usa a figurinha da
Soraia Chaves e o marketing usa e abusa da promessa de cenas supostamente chocantes, é mais que sabido!, mas...pode retirar-se mais qualquer coisinha, se quisermos olhar pra lá das árvores...
as mamas, o cú, os palavrões...e ver a floresta que é falar-se abertamente na
corrupção genérica que mina a nossa politiquinha, só faltou a inclusão da vertente importantíssima e também muito presente que é o futebol. Não são apenas os interesses imobiliários que minam todo o sistema económico do nosso país, fazendo dos políticos meros fantoches de interesses financeiros que, tantas vezes, nem portugueses são...
Ah e já agora...esta é meramente uma opinião minha, pois a nível de técnica cinematográfica sou um zero...e a minha tão amável 'oferta' resultou num tiro pela culatra...houve 'quem' se chocasse mais com o chorrilho de palavrões e achasse as tais supostamente chocantes cenas não tão chocantes assim...toma q'é pr'aprenderes a não te armares em simpática!, eu que até quase pipocas ia comendo...do vizinho do lado.