MJ Eloy I
Impressões da Mauritânia
Na paisagem é seca a tripa
e a boca não tem saliva.
nem mesmo há a mucosidade
do suor, da sombra, da árvore.
Nem o mar é de água: é de zinco,
tecto ondulado, estendido
até o além-olho, no areal
de um país praia integral.
Não há a água muda da poça,
a sílaba úmida da gota;
e só no azul-mar dos mantos
há a ilusão de água e de brando:
que o azul-céu é de um minério
igual aos do cobre e ferro
dos fundos veios, à chave,
sob oásis de azinhavre.
Na paisagem é seca a tripa
e a boca não tem saliva.
nem mesmo há a mucosidade
do suor, da sombra, da árvore.
Nem o mar é de água: é de zinco,
tecto ondulado, estendido
até o além-olho, no areal
de um país praia integral.
Não há a água muda da poça,
a sílaba úmida da gota;
e só no azul-mar dos mantos
há a ilusão de água e de brando:
que o azul-céu é de um minério
igual aos do cobre e ferro
dos fundos veios, à chave,
sob oásis de azinhavre.
João Cabral de Melo Neto
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
13 comentários:
"Na vida quotidiana, estamos virtualmente rodeados por cores impuras. E mais notável é ainda que tenhamos formado um conceito de cores puras" L. Wittgenstein, 'Anotações sobre as cores' 29,3-59
Parece Pintura e Poesia de Arte Dura onde não se está rodeado de Cor Pura.
Gostei bastante
Muito agradável para quem está sem inspiração para outros passeios numa bela tarde de um belo fim de semana.Uma mistura de pintura e poesia que sinto já me ter inspirado para partir e navegar ao encontro de mais artes.
Gostei muito. Obrigada
M
anonymous mean MN!
E pretende dar mais umas voltinhas por aqui. Por isso era bom (para MN) ir encontrando cada vez mais pintura e poesia!
Mais uma vez, gostei muito
Belo mar de zinco neste poema de Melo Neto e nesta pintura.
Gostei muito, fez-me divagar... Acho que vou dar uma volta no areal à beira-mar porque a noite está limpa e o murmurar do mar inspira-me. Boa sugestão e boa pintura.
E neste poema, que me arrebata igualmente, encontra-se o azul-céu de um minério - igual aos do cobre e ferro - dos fundos veios, à chave - sob oásis de azinhavre, e encontra-se ainda a chave do quadro.
Eu nunca sei,nunca soube!, explicar o q sinto acerca do que vejo...essa é q é mesmo uma conversa privada comigo mesma!...às vezes tenho pena...outras não, faço até questão q assim seja...
Explicar é um exercício que se experimenta não excluindo a exasperação da emoção
Como vês não custa quase nada ao explicador e os explicandos agradecem
Como já disse no outro post com desenhos, sou um grande amante e produtor de arte e vou mandar para aqui umas dicas com a ajuda do Alegre para a poesia que está fracota e do Pomar para a pintura que podia ser mais melhor.
Caríssimos autores
Gostei, poderei mesmo dizer que gostei muito. Como referiu o sr JS a poesia podia ser melhorada e a pintura idem. Mesmo assim, e se me derem licença, vou anunciá-las no meu próximo contradotório.
Um espectáculo este blog e os seus comentadores. Voltarei para tirar ideias
Não faz o meu género. Sou mais dada a outras graças que verão se forem ao meu blog e comprarem o meu livro.
Sou assim, sei lá, mais bem disposta.
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