25/04/08

A resposta perfeita para todos os egos(zinhos)...

...que se deleitam naquela* 'chafarica' sem se darem conta do ridículo a que se prestam...

rvn

«senhores:
Tenho estado a gostar muito, no geral. Quero dizer-vos que me roí de inveja com a parte dos autógrafos e sobretudo com o pormenor do privilégio da conversa personalizada, tipo falada, com perguntas e tudo, se estuda, se trabalha, mostre o seu, olhe o meu, assine aqui, com a própria mão, incrível, inesquecível! Achei tal benção um delírio, uma dádiva do destino que enriquece o percurso de qualquer um.
Já quanto a comentar fiquei hesitante, confesso, pensei se teria alguém famoso, assim, que eu tivesse algum dia visto de perto ou, num deslumbre de glória, apertado até nas minhas a sua famosa mão. Pensei e nada. Estive para me retirar sem pio, mas lembrei-me a tempo. Ora sentem-se e ouçam. Se fazem favor, evidentemente.
Foi nos anos 80, isso eu sei, não em qual; uma viagem do Benfica à Califórnia e a Toronto para o torneio do Blizzard, uma espécie de ATL de verão para o clube fazer uns tostões, que julgo ainda existir. Seis dias de levanta e aterra, sorrisos e bacalhaus aos emigrantes, fotos de grupo e jantaradas, três jogos e duas taças pelo meio. Eu, repórter maçarico, ia no embrulho por causa de uma reportagem/documentário para os 80 anos do clube, e com o barulho das luzes (e o meu sex apeal, digo eu), passava por mais um dos ‘gajos do Benfica’ para o povo deslumbrado com os craques, (o que na circunstância me bastava para ser feliz, confesso, a idade, enfim..).
Na chegada à Califórnia houve o primeiro banho de multidão. Eram uma centenas de Manéis e Marias, muito Joe e muita baby, novos e velhos, de cachecol e bandeirinha, que apertavam a comitiva à medida que esta desaguava no lounge do aeroporto e brandiam os livrinhos e papelinhos para o autógrafo da ordem. Os craques da altura, o Filipovic, o Álvaro Magalhães, o Shéu e outros eram os mais solicitados. Mas, danado para arrancar para o hotel, o próprio Erickson se ria quando via até o roupeiro do clube, um castiço baixinho chamado Zé Luís, ser agarrado para um autógrafo e puxado para uma e outra fotgrafia. Por isso não foi escândalo nenhum quando este vosso amigo aqui deu por ele sem chance de fuga a uma dúzia de manápulas que exigiam o seu abraço de saudade lusitana e admiração benfiquista, mais o autógrafo da ordem para recordar o dia em que o Benfica cá veio, pá, tenho até os autógrafos dos gajos, pá! E lá autografei como pude, fui abraçado e espremido e retratado em polaroids para a posteridade. Houve quem estivesse mais de cinco minutos comigo, e se despedisse com lágrimas de gratidão pelo autógrafo. A cena repetiu-se sempre que foi impossível fugir, e não adiantava querer explicar: ninguém queria más notícias, fantasias não se estragam.
Pronto, sei lá, quis que os senhores soubessem esta minha história. Afinal, um destes dias podem ter um “meeting”, com uma islandesa, e como elas são frias, sempre têm uma aventura para contar e meter conversa, em vez de levarem uns livros que façam a pobre apanhar uma seca.»




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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW