04/02/04

Discutir por discutir...

...prefiro "esta":

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."CLARICE LISPECTOR


...ou "este" :


"Para ti o tempo já não urge,
Amiga.
Agora és morta.
(Suicida?)

Já Pierrot-vomitando-fogo
(sempre ao serviço dos amantes)
não entra no nosso jogo
como dantes.

Mas esse obscuro servidor,
que promovemos uma vez
(ainda eu não te dedicara
aquele adeus português...),

corre, lesto, como uma chama,
entre nós dois (o saltarim!)
e desafia-nos prá cama.
Esperas por mim?

* * *

Se eu pudesse dizer-te: - Senta aqui
nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,
ó amável bichinho, o pêlo fino;
depois, a contra-pêlo, provocar-te!
Se eu pudesse juntar no mesmo fio
(infinito colar!) cada arrepio
que aos viageiros comprazidos dedos
fizesse descobrir novos enredos!
Se eu pudesse fechar-te nesta mão,
tecedeira fiel de tantas linhas,
de tanto enredo imaginário, vão,
e incitar alguém: - Vê se adivinhas...
Então um fértil jogo de amor seria.
Não este descerrar a mão vazia !
(...) Alexandre O’Neill "


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