29/02/04

Don't Know Why

I waited 'til I saw the sun
I don't know why I didn't come
I left you by the house of fun
I don't know why I didn't come
I don't know why I didn't come

When I saw the break of day
I wished that I could fly away
Instead of kneeling in the sand
Catching teardrops in my hand

My heart is drenched in wine
But you'll be on my mind
Forever

Out across the endless sea
I would die in ecstacy
But I'll be a bag of bones
Driving down the road alone

My heart is drenched in wine
But you'll be on my mind
Forever

Something has to make you run
I don't know why I didn't come
I feel as empty as a drum
I don't know why I didn't come
I don't know why I didn't come
I don't know why I didn't come

Norah Jones - vocals, piano

O Debate

Um dos mitos modernos - bebido, aliás, em mitologias ancestrais - tem a ver com uma suposta superioridade do saber feminino em matérias afectivas. Como outros, também este é um mito facilmente contestável e que tem como caricatura, como toda a gente sabe, aquele muito difundido e malfadado mecanismo obsessivo-compulsivo feminino que é o de "discutir a relação".

As mulheres torturam-se a "discutir a relação" e a ponderar as "falhas de comunicação", o que se torna penoso para todos os relacionados - incluindo as duas ou três amigas (mas também pode ser um exército) que inter-agem no debate. Vai toda a minha compreensão para o silêncio masculino, para o submergir no sofá e na televisão, para o método afónico utilizado, para o silenciar do que não há a dizer. Se não há, como dizê-lo? Um dia as mulheres perceberão as iniludíveis vantagens do silêncio, mas hoje não é a véspera desse dia.

Almocei com a Vanessa.

- Continuas apaixonada?

- Ah, sim.

Um tom demasiadamente distante, um travo acre na voz. Se eu tivesse juízo não fazia mais perguntas. Mas ela precisa de conversar, de debater a relação, de exercitar os seus conhecimentos afectivos - é sempre assim, entre a previsão de uma grande seca e o mais bárbaro dos "voyeurismos" que nós, os co-relacionados com o debate de uma relação, nos colocamos.

- Há coisas nele que eu não percebo.

Dois meses passados, à paixão sem regras sucedera a regular ordem das coisas - ou seja, o debate. Eu estava convocada, como sempre, e participaria, como sempre, despejando uma carga de lugares-comuns, como sempre, sugerindo estratégias, como sempre, aproveitando os mais frágeis indícios para a consolar, como sempre.

- Há coisas nele que eu não percebo.

- Mas o quê, concretamente?

- Sei lá. Não percebo se ele continua mesmo apaixonado por mim.

- Ele diz que sim?

- Diz que sim, diz.

- Mas qual é o teu problema?

- Eu não consigo achar que aquele "sim" é mesmo "sim". Tenho dúvidas: é uma questão de tom. Não gosto, por vezes, do tom da voz dele ao telefone.

- Há muita gente que detesta falar ao telefone, que se transfigura ao telefone. É aquilo do meio ser a mensagem, o meio transforma a mensagem: um 'amo-te' ao telefone pode perder consistência. Eu não me preocupava muito com isso.

- Achas? Mas há mais coisas nele que eu não percebo.

- Vanessa, há coisas nele que percebes?

- Meia-dúzia.

- Meia-dúzia? Meia-dúzia são muitas coisas. Por amor de Deus, meia-dúzia é imenso. Reconheces que percebes meia-dúzia de coisas e queres abrir um debate?

- É que, em mim, também há coisas que eu não percebo. Não consigo perceber se ainda estou apaixonada por ele. No fundo, era isso que eu gostava de debater.

ANA SÁ LOPES
Domingo, 29 de Fevereiro de 2004, in Público

27/02/04

Avec le temps

Avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie le visage et l'on oublie la voix
le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
l'autre qu'on devinait au détour d'un regard
entre les mots, entre les lignes et sous le fard
d'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
avec le temps tout s'évanouit

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
à la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
l'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
avec le temps, va, tout va bien

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
et l'on se sent floué par les années perdues- alors vraiment
avec le temps on n'aime plus


Léo Ferré

Tu sabes?

|
|
|
|
|
|
|
|
SABES!

22/02/04

Fantasmas

Para onde vais, assim calado,
de olhos hirtos, quieto e deitado,
as mãos imóveis de cada lado?


Tua longa barca desliza
por não sei que onda, límpida e lisa,
sem leme, sem vela, sem brisa...


Passas por mim na órbita imensa
de uma secreta indiferença,
que qualquer pergunta dispensa.


Desapareces do lado oposto
e, então, com súbito desgosto,
vejo que teu rosto é o meu rosto,


e que vais levando contigo,
pelo silencioso perigo
dessa tua navegação,


minha voz na tua garganta,
e tanta cinza, tanta, tanta,
de mim, sobre o teu coração!

Cecília Meireles

Meu sonho

Meu Sonho

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar ?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Cecília Meireles

(midi recolhido no INFOBLOGS.NET)

Palavras

Espada entre flores,
rochedo nas águas,
assim firmes, duras,
entre as coisas fluidas,
fiquem as palavras,
as vossas palavras.

Pois se por acaso
dentro dos sepulcros
acordassem as almas
e em sonhos confusos
suspirassem rumos
de histórias passadas
e houvesse um tumulto
de ânsias e de lágrimas,

- lembrassem as lágrimas
caídas no mundo
nas noites amargas
cercadas dos muros
das vossas palavras.
Todas as palavras.

Nos espelhos puros
que a memória guarda,
fique o rosto surdo,
a música brava
do humano discurso.
De qualquer discurso.

Só de morte exata
sonharão os justos,
saudosos de nada,
isentos de tudo,
pascendo auras claras,
livres e absolutos,
nos campos de prata
dos túmulos fundos.

No meio das águas,
das pedras, das nuvens,
verão as palavras:
estrelas de chumbo,
rochedos de chumbo.
A cegueira da alma.
O peso do mundo.

Adeus, velhas falas
e antigos assuntos!

Cecília Meireles

«Nem contigo, nem sem ti...»

OS QUE MORRERAM DE AMOR

Grande parte da literatura amorosa, e particularmente no domínio poético, aborda o ser ao nível da separação, na nostalgia de uma presente ou receada inquietude da queda. Nesse processo de ruptura ou privação, escreve-se na ilusão ou na iminência de uma falta. Isto deixando de parte a escrita do júbilo, porque também a há. Quando dialoga sobre o amor, interessa a Platão o estado, a vivência, como «demónio» que assegura um caminho (in)directo para o inteligível. É a alma universal, a seu ver, que anima e dá vida ao cosmos.


Talvez por isso, a relação entre amor e conhecimento seja fulcral no limite de uma total vulnerabilidade ou na sua condição metafórica. Não que a vivência do sentimento em si remeta para um qualquer saber teórico ou desague em conceitos abstractos mais ou menos elaborados, mas na sua expressão, no seu passado-futuro, acompanha o processo de significação de um rosto.


É nesse fio, o da experiência amorosa enquanto saber, da projecção para um (im)possível, que se detém este texto em torno da bela «Antologia da Poesia Espanhola das Origens ao Século XIX», que a Assírio & Alvim editou recentemente, com selecção, organização, tradução, posfácio e notas de José Bento, atentíssimo tradutor de autores de língua castelhana de várias épocas (destaque especial para «Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea» [1985], «Siglo de Oro» e «Renascimento e Barroco» [respectivamente, em 1993 e 1996], pela mão da mesma editora), grande conhecedor e o maior responsável pela divulgação da poesia espanhola em Portugal. Mais de 700 páginas percorrem, neste denso volume, dez séculos, das carjas e a épica medieval aos poetas que, no final do século XIX, princípios do século XX, anunciam o modernismo.


Seguindo a premissa do organizador de que não há, neste livro, «um propósito erudito nem didáctico», e tendo sido a escolha do conteúdo da antologia condicionada pela «capacidade de traduzir» de José Bento -- rigoroso no processo de investigação que acompanha esta sua actividade --, sugere-se um percurso não crítico (e muito menos cronológico) por esta obra, mas influenciado por uma inspiração afectiva. Seja na condescendência ou na ascendência, numa porta aberta para a alegria ou para o dolorismo. É no tormento, como substância necessária à existência, que Tristão reconhece a evidência da destruição do amor no dia em que este se concretizasse. E, no entanto, dir-se-ia na emoção de uma ausência que se procura uma imagem una da fugaz comunicação.


«Antes de ti eu morrerei: oculto/ no peito levo já/ o ferro com que tuas mãos abriram/ larga ferida mortal./ Antes de ti eu morrerei; meu espírito,/ num anseio tenaz,/ ante as portas da morte irá sentar-se,/ a esperar-te lá». Gustavo Adolfo Bécquer (1836-1870) -- cuja poesia marcou o modernismo hispânico e autores como Machado, Jiménez, Unamuno ou Alberti --, move-se aqui no território de um amorismo absoluto, de uma plenitude vazia aberta a uma eternidade. Neste poema ( «Rimas» ), já nem o tempo anima a memória, nem regista duração concreta -- duração no sentido bergsoniano --, tornando-se imóveis as lembranças ao lançar-se toda a esperança num futuro intemporal: «ali onde o sepulcro que se fecha/ abre uma eternidade/ tudo quanto nós dois sempre calámos/ teremos de falar».

O amor desinteressado ama sem medida. É moral amar (Kant não entendeu assim), mesmo que o amado não mereça esse amor, que, por ser sincero, possui um valor categórico. Fausto ou Dom Juan não pertencem à categoria dos que amam: «Porque voltais memória vazia,/ tristes lembranças do prazer perdido,/ a aumentar a ansiedade e a agonia/ deste deserto coração ferido?/ Ai!, que daquelas horas de alegria/ restou ao coração um só gemido,/ e o pranto que à dor os olhos negam/ são lágrimas de fel que a alma anegam!». Neste «Canto a Teresa», de José de Espronceda (1808-1842), com ecos da poesia romântica, o amor desfalece pelo seu excesso, na vertigem ardente de uma ficção passada. A manipulação desse sentido da perda surge aqui como ausência de morte, como luto de um absoluto agora desacreditado.


E é nessa «sede de uma intimidade» que a paixão afugenta uma qualquer «verdade», sabendo-se, contudo, na linha de um Max Scheler, que existe uma «ordem do coração». Na poética amorosa, prolonga-se, por vezes, o princípio de um sonho quase imaterial de «gozo e deleite», nele absorvendo-se sombras e luz de uma convulsiva história exterior. No desabamento do laço amoroso («Já dormem em seu túmulo as paixões/ o sono do nada», Rosália de Castro, 1837-1885), a morte toma-se, na dolorosa história de um caminho, não só «o drama da hora fatal» a que se refere Bachelard, mas a água que, em Poe, é um convite a morrer, a tal «melancolia que chora».


Dando testemunho de uma cristalização afectiva desmesurada, dessa incompreensível contradição dos mortos de amor -- que não admitem a ridícula comédia da não partilha do sentimento --, existem, ao longo da história da poesia de língua castelhana, páginas eficazes no uso da palavra, registando a circularidade da relação intersubjectiva. Amar é esse canto, mesmo quando se ama por dois: «Chorai meus prantos, chorai,/ chorai a mágoa de mim,/ chorai a minha liberdade/ que por amores perdi; /chorai o tempo passado/ passado sem galardão,/ chorai a triste aflição/ de eu estar morto e não finado» (Lope de Estúniga, 1414-1477/1480 [Cancionero de Estuñiga], também autor de versos de preocupações políticas e satíricas). Nesta «alta descida» e neste «pouco subir», é-se forçado a admitir a desafeição.


Cada um deseja ser amado por si próprio, qualquer motivo de interesse jamais suportará a continuidade virtuosa que logo resvalará em desfiguração («Pois não confieis no amor/das gentes, que são mortais/também nos bens temporais/que mais breves que rosais/perdem fresco verdor; e não são seus crescimentos/mais que jogo/menos durável que o fogo/de sarmentos» («Coplas para o Senhor Diego Arias de Ávila, Contador-Mor do Rei Nosso Senhor e do seu Conselho», Gómez Manrique, 1412-1490). A assunção do passado de um relacionamento no presente dissolve, por isso, a representação idealista que qualquer amor comporta. Ao considerar um Tu idêntico ao meu próprio Eu, estou a ser -- explica Max Scheler --, em primeiro lugar, vítima de uma ilusão sobre a realidade, e, em segundo, de uma ilusão que atinge o modo de ser.


Não sendo possível a fruição do amor como «a sensação do Tudo» (Hegel), e ao instalar-se o vazio, a memória passa a não registar a felicidade como outrora foi desejada, servindo de possibilidade a um recomeço solitário na articulação da separação. Quebrada a definição «ingénua» de Espinosa -- como lhe chamou Schopenhauer -- do sentimento amoroso como «alegria acompanhada da ideia de uma causa externa», abre-se o tempo do desejo metafísico, da «luz no rosto», como dele fala Emmanuel Levinas, que «só pode produzir-se num ser separado», suportado pela vivência de coisa tão árdua.


Impossível nesse caminho não falar dos místicos espanhóis -- aos quais José Bento tem dedicado tanto da sua actividade -- e do seu percurso de «escura contemplação e de secura»: «Vivo sem viver em mirn/ e tão alta vida espero/ que morro por não morrer». Nesta união ou ambiguidade entre o amor terrestre e o divino vivem muitos dos textos de Santa Teresa de Ávila (1515-1582) que nos «duros desterros», nesta «prisão», nestes «ferros», revela a humanidade de quem, ao não suportar a carga de uma vida que «não se goza estando viva», encontra o secreto mistério de um «castelo interior».


Lágrimas virão no território da vida e do amor. Mas «não pensemos que está tudo feito em chorando muito, mas deitemos mão ao trabalhar muito, e adquirir virtudes (...), e venham as lágrimas quando Deus as enviar, não fazendo diligências para as ter». Diz a autora de «Moradas», porque estas, as lágrimas, irão deixar «regada esta terra seca e são de grande ajuda para ela dar fruto; e tanto mais, quanto menos caso delas fizermos, porque é água que cai do céu».


As palavras e a vivência de Teresa de Jesus são um eventual contraponto à ideia lapidar de Vladimir Jankélévitch quando refere ser possível ao ego amar Deus com um amor egoísta, porque os eus se sucedem uns aos outros como uma colónia de células formando um Eu universal. Transportando a ideia para o domínio do humano, o amor nada mais seria, no sentido que lhe atribuíram Hegel e Eduard von Hartmann, do que egoísmo. O sentimento autêntico poder-se-ia, desse modo, definir como compreensão de uma outra individualidade, passando também, e sobretudo, na acepção de Max Scheler, pela abdicação e restituição de liberdade. Essa dir-se-ia a essência do amor espiritual e físico, que difere, segundo o filósofo, daquilo a que o poeta chama fascínio.


Santa Teresa fala, no entanto, do amor como sacramento de eternidade, o da prevalência da pureza sobre o cálculo ou o mero instinto. Remontando à Idade Média, não foi Heloísa quem, na dicotomia carne/espírito, se viu crucificada por um conflito que lhe parecia quase insuperável, conservando, no entanto, o amor sem o Outro? Não ficou Abelardo ferido de morte? O obstáculo tornou-se, nesse caso, absoluto sacrifício, também ele aqui ligado às teias do divino.


Nessa pureza do amor a que se refere Teresa de Ávila, o proveito está em distinguir: «uma coisa branca parece muito mais branca ao pé de uma negra e ao contrário, a negra ao pé da branca», residindo a sabedoria na saída de um «lodo de misérias». Saída, segundo a autora de «Livro da Vida», só possível pela aspiração às coisas celestes e pedindo paciência nas adversidades: «Nada te inquiete,/ nada te assuste,/ pois tudo passa;/ Deus nunca muda;/ a paciência/ alcança tudo./ Quem Deus possui/ nada lhe falta:/ só Deus nos basta» (A tradução de José Bento deste poema é bem mais feliz do que a inserida nas Edições Carmelo, Aveiro, das «Obras Completas» ).


Também o «Cântico Espiritual», de São João da Cruz (1542-1591), descreve os diversos estados ou vias de exercício espiritual pelos quais passa a alma, sob um amor ardente que busca uma fecunda união com Deus ao lado dos homens. A invocação do amado deixa o amante soluçando, canta as suas grandezas, o amor ferido, deseja morrer até alcançar o matrimónio místico: «Que bem sei a fonte que mana e corre,/ mesmo se é noite!/ Aquela eterna fonte está escondida./ Que bem sei onde sempre ela é nascida,/ mesmo se é noite!/ Sua origem não a sei, pois não a tem,/ mas sei que toda a origem dela vem,/ mesmo se é noite» ( «Cantar da Alma que Rejubila por Conhecer a Deus por Fé» ). O amor a Deus é então entendido como valor moral, como participação efectiva no seu amor pelo mundo. «Amare in Deo» (Santo Agostinho).


Não será inusitado dizer-se que o mecanismo do amor projecta a imagem do que nos falta sobre um outro ser -- e aqui a teoria sensualista de Schopenhauer é mais do que restritiva --, e se o retorno não se produz do mesmo modo, o sentimento torna-se numa condenação à dor: «Nem contigo, nem sem ti» -- diz Ovídio, traduzindo a inversão de um excesso, a repetição melancólica: «Amado, amar-te-ei tanto,/ amar-te-ei, tanto, tanto!/ Os cuidados adoeceram meus olhos./ Causam-me tanta dor!» ( «Carjas», «José o Escriba», Idade Média). E não escreve Ernst Jünger, no seu diário, que uma forma de morrer pior que a morte é ver o ser amado matar lentamente em si próprio a imagem daquele que amava, o que transporta o relacionamento para o território da injustiça na comunicação?


Aí «a língua do amor a quem não sabe/ o que é o amor, que bárbara parece!,/ pois, como por instantes emudece,/ possui pausas de música suave», Lope de Vega (1562-1635) -- com obra nos domínios da poesia, da prosa lírica e da dramaturgia -- é, neste seu poema, cirúrgico na abordagem do valor táctico da corte, dando razão a Madame de Merteuil quando, em «Liaisons Dangereuses», aconselha; «Bem vedes que, quando escreveis a alguém, é para ele e não para vós: deveis, pois, preocupar-vos menos em dizer o que pensais do que em dizer o que mais lhe agrada». O amor vale aqui não como amor, mas empreendimento estratégico, o que transforma em doce a pena que vem do inimigo, comparada com a causada pelo amado.


Muito mais numerosas na história da poesia amorosa são as páginas de lamento do que as de júbilo, embora o mito do amor triunfante possua textos decisivos, do «Cântico dos Cânticos» a Petrarca, de Tourguéniev a Verlaine. E nessa imobilidade móvel da escrita, abordam-se a dinâmica e o paradoxo amorosos, a perenidade dos instantes, o movimento do encontro, os diálogos de solidão, a ruína dos espaços de exaltação, a ascensão e a queda do amor: «Amor me ocupa o cérebro e os sentidos;/ absorto estou em êxtase amoroso;/ não me concede tréguas nem repouso/ esta guerra civil para os nascidos», Francisco de Quevedo (1580-1645) -- notável na mestria poética e tão interventivo e satírico como lírico -- escreve sobre as limitações do espírito que o sujeito apaixonado sofre na «mutabilidade perpétua» do amor.


Não são os apaixonados, por vezes, suicidas do amor, seres em pânico, vítimas do seu imaginário, ansiosos, porém, em daí retirarem o saber? «Todo sou ruínas, todo sou destroços,/ escândalo funesto pròs amantes,/ que de lamentos fabricam seus gozos./ Os que virão e os que existiram antes/ em meu soluço estudem ser ditosos/ e invejem minha dor, se são constantes», escreve Quevedo em «Prossegue no Mesmo Estado de Seus Afectos».

Serve o amor o conhecimento, transporta consigo a distância, necessitando da morte para se cumprir -- salienta Maria Zambrano (também traduzida por José Bento). E Werther pára o tempo com a sua morte, para si próprio e para Carlota, imobilizando, dessa forma, o extraordinário e tornando, assim, eterno o presente de um «prazer em que há dores/ dor em que existe alegria» ( «Quintilhas sobre que Coisa é Amor», de Jorge Manrique, 1440-1479). O amante ama, nesse sentido, em qualquer circunstância, e na inquietude, o completo destino do amado.


Talvez por isso, e porque a impossibilidade convive com a irrealidade, a noção do absolutamente único tenha transportado, desde tempos imemoráveis, para a história da literatura as maiores tragédias amorosas: paraísos e infernos no extremo da realidade, dentro dos quais a memória do sujeito se dissolve no poema numa relação quase última com a sua substância essencial. Frui-se, então, o mundo, ainda que em pura perda na vertigem de uma ficção. Porque, «tudo sendo lua», «sonho que se esfuma», «debaixo do céu homem nenhum alcança/ uma certeza, ninguém há tão perfeito/ que me esclareça o assunto secreto/ dos que morreram, se há neles lembrança» (Ferrán Sánchez Calavera, primeira metade do séc. XV, Cancioneiro de Baena). E muitos são os que morreram de amor...

Ana Marques Gastão, DNA, 2 / Março / 2002

(recolhido n'O CANTO DA FILOSOFIA»

20/02/04

«Quem é você pra me chamar aqui...?»

Stª Chuva

(...)
Quem é você pra me chamar aqui
Se nada aconteceu?
Me diz?
Foi só amor? Ou medo de ficar
Sozinho outra vez?
Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem...
A chuva já passou por aqui
Eu mesma que cuidei de secar
Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha TV
Que eu vou de vez
Não há porque chorar
Por um amor que já morreu
Deixa pra lá
Eu vou, adeus
Meu coração já se cansou de falsidade...


Maria Rita (Voz) // Marcelo Camelo

Não vale a pena

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar
Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor

De repente cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal amados
Dos amores mal vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer
Que é uma pena
Mas você não vale a pena

Maria Rita (Voz) /
Jean Garfunkel / Paulo Garfunkel

19/02/04

La Bohème

Jacques Plante

Je vous parle d'un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenêtres
Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu
Moi qui criait famine
Et toi qui posais nue.

La bohème, la bohème
Ça voulait dire on est heureux
La bohème, la bohème
Nous ne mangions qu'un jour sur deux

Dans les cafés voisins
Nous étions quelques-uns
Qui attendions la gloire
Et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d'y croire
Et quand quelque bistro
Contre un bon repas chaud
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poêle
En oubliant l'hiver.

La bohème, la bohème
Ça voulait dire tu es jolie
La bohème, la bohème
Et nous avions tous du génie.

Souvent il m'arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d'un sein
Du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin
Qu'on s'asseyait enfin
Devant un café-crème
Epuisés mais ravis
Fallait-il que l'on s'aime
Et qu'on aime la vie.

La bohème, la bohème
Ça voulait dire on a vingt ans
La bohème, la bohème
Et nous vivions de l'air du temps

Quand au hasard des jours
Je m'en vais faire un tour
A mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui ont vu ma jeunesse
En haut d'un escalier
Je cherche l'atelier
Dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor
Montmartre semble triste
Et les lilas sont morts.

La bohème, la bohème
On était jeunes, on était fous
La bohème, la bohème
Ça ne veut plus rien dire du tout.

Et Si Tu N'existais Pas

Joe Dassin

Et si tu n'existais pas,
Dismoi pourquoi j'existerais?
Pour traîner dans un monde sans toi
Sans espoir et sans regret.

Et si tu n'existais pas,
J'essaierais d'inventer l'amour,
Comme un peintre qui voit sous ses doigts
Naître les couleurs du jour,
Et qui n'enn revient pas.

Et si tu n'existais pas,
Dismoi pour qu j'existerais.
Des passantes endormies dans mes bras
Que je n'aimerai jamais.

Et si tu n'existais pas,
Je ne serais qu'un point de plus
Dans ce Monde qui vient et qui va,
Je me sentirais perdu
J'aurais besoin de toi.

Et si tu n'existais pas,
Dismoi comment j'existerais?
Je pourrais faire semblant d'être moi
Mais je ne serais pas vrai.

Et si tu n'existais pas,
Je crois que je l'aurais trouvé
Le secret de la vie, le pourquoi,
Simplement pour te créer
Et pour te regarder.

Et si tu n'existais pas,
Dismoi pourquoi j'existerais?
Pour traîner dans un monde sans toi
Sans espoir et sans regret.

Et si tu n'existais pas,
J'essaierais d'inventer l'amour,
Comme un peintre qui voit sous ses doigt
Naître les couleurs du jour.


Você não me ensinou a te esquecer



(...)
Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar
(...)


Caetano Veloso

16/02/04

Hilda Hilst

Se for possível, manda-me dizer:

- É lua cheia. A casa está vazia -

Manda-me dizer, e o paraíso

Há de ficar mais perto, e mais recente

Me há de parecer teu rosto incerto.

Manda-me buscar se tens o dia

Tão longo como a noite. Se é verdade

Que sem mim só vês monotonia.

E se te lembras do brilho das marés

De alguns peixes rosados

Numas águas

E dos meus pés molhados, manda-me dizer:

- É lua nova -

E revestida de luz te volto a ver.

O Poeta Inventa Viagem,
Retorno e Morre de Saudade

«O HOMEM ANTIGO TUDO SABE»

«POEIRA

Hoje, há oitenta e nove anos, Kafka queixava-se que as discussões da senhoria com um vizinho não o deixavam escrever. “Desespero absoluto”! Será que sou perseguido por senhorias que não me deixam trabalhar, pergunta Kafka?

Simone de Beauvoir, pelo contrário, não tinha que aturar senhorias. Passou este dia, há cinquenta e sete anos, a barafustar contra os costumes americanos. Beauvoir estava em Nova Iorque e irrita-se com as montras preparadas para o Dia de S. Valentim, cheias de coraçõezinhos. Os americanos “gastam o tempo” com isto, anota irritada. Ainda mais a irrita o costume de cantar “Parabéns a você” nos locais públicos. Estou com ela.»

00:09 (JPP)


«(...)As pessoas modernas fazem exactamente, exactamente, o que se espera que elas façam. É por isso que são modernas.»

10:29 (JPP)

15/02/04

Tu sabes?

...diz-me: de q serve um amor q não ajuda quem amamos...?...de q serve um sonho q nos mantém afastados da vida e de quem nos ama?...tu sabes?

(recolhido no INFOBLOGS.NET)

Até já

«Um até já, meu amor que por amor se corre e por amor se não percorre; um até já, meu amor, pelas correrias que correste e pelas paragens à minha espera; um até já, meu amor pelo amor caminhado, pelo amor parado como os dias que correm á nossa frente e nos arrastam irremediavelmente para essa morte, a morte do amor que de amor morreu no dia em que em vez de um até já, me disseste adeus.»

indeterminado, A&C, 13.02.2004 10:47

«Pedaços que desconheço de pedaços perdidos de mim; desde o dia em que parti sem de ti me despedir; não olhei para trás porque pensei voltar a ver-te e jamais te vi; e nesse olhar que não olhei sei que fixei o teu olhar a olhar para mim, vendo-me sair... e esse olhar teu que eu não vi, jamais o irei esquecer.»

Indeterminado

(Nota- Se estes textos forem colocados no teu Blogue eu retiro-os daqui...espero q ñ leves a mal...Já q aqui foram colocadas respostas ñ me atrevo a apagar e nessa conformidade...linko-te, simplesmente...;-) )

...dá-me...

13/02/04

«Disseram-me que fugiste, apavorada
Perante o risco, te cansaste de brincar
Que o amor, para ti, não vale nada,
sem o conforto a que estás habituada.

Guardo comigo as palavras que escreveste.
São uma prova de que não estive a sonhar.
Que um dia tu vieste e aqui estiveste.
Antes de teres partido sem lutar.

Vejo-te agora, por palavras, à procura,
de um outro a quem possas consolar.
Escolhe-o bem, vê lá se está à altura
dos privilégios de que não queres abdicar.»


A&C

12/02/04

«Dor»

«...sei hoje melhor do que ontem e menos do que hei-de saber amanhã... o que sinto e o que quero. Um caminho difícil e onde me dói, todos os dias, a dor que faço doer...»

...in Blogue de Indeterminado

11/02/04

Dançar...

"Tudo me é uma dança em que procuro
A posição ideal,
Seguindo o fio dum sonhar obscuro
Em que do bem, às vezes nasce o mal. (...)"

SOPHIA DE MELLO BREYNER

09/02/04

Círculo Vicioso...ou viciado!?

...as palavras estão saturadas dos meus beijos...eu estou saturada das minhas palavras!!!

Estou precisada de mais, muito mais...

Agora quero mais!, muito mais...

08/02/04

Agora Só Falta Você



Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você
E em tudo o que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber
Pra saber o que?

E fui andando sem pensar em voltar
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
Agora só falta você
Agora só falta você
Agora só falta você ...

Maria Rita(Voz)
Rita Lee / Luz Sérgio

07/02/04

O QUE ME DÓI EM TI



O que me dói em ti

É esse teu desapego

Esta enorme distância

De estar tão perto



Dói-me tanto esta rotina diária...

Desde que o murro do despertador

Me tira do mundo dos sonhos

Até ao teu beijo gelado de boas-noites



Dói-me cada palavra que gastámos

Na incontornável usura do tempo

Fere-me sempre o muro da tua página de jornal

Na benção de cada domingo


Aníbal Raposo, 2000

DESPEDIDA

Como voltar sem te perder nesta viagem?

Como fazer p’ra te matar dentro de mim?

De cada vez que apunhalo a tua imagem

Tinjo o meu peito com meu sangue carmesim...



Como afastar o que nasceu p’ra ser unido?

Como furtar dum céu azul o astro-rei?

Como expulsar a tua voz do meu ouvido?

Como dizer ao coração que cumpra a lei?



Como viver com teu fantasma em minha casa?

Como varrer da minha pele o teu odor?

Como enterrar-te, de uma vez, em campa rasa?

Como é que eu faço? Diz-me tu, oh meu amor...


Aníbal Raposo, Lisboa, 2003-07-02

...pensando bem...

...as minhas palavras não estão gastas, menos ainda velhas...estão, apenas, sedentas...de ti!

*****
A palavra eleita


Quem me dera ter a sageza de escolher,

de entre todas as palavras,

a palavra eleita.



A que,

por estranho sortilégio,

pudesse desenhar em traço firme,

como uma estrela que risca um céu de lua nova,

a evidência do meu amor por ti,



da forma mais singela, pura e escorreita.



Aníbal Raposo, Maio de 2001



06/02/04

...a indiferença...

(...)seria ilógico dizer que os prisioneiros de Guantanamo são uns felizardos (apesar de não saberem porque estão presos e de serem objecto da indiferença de toda a popuçação mundial)?

JR - 06.Fev.2004

A face oculta de uma certa direita

O Xerife Joe Arpaio (Maripoca / Arizona / EUA), é só uma das muitas faces invisíveis de uma certa direita (e de muitos outros "politicamente correctos" que originam estas reacções) que se globaliza subliminarmente.

Se não sabem quem é o Xerife Arpaio nem o que é a "Estrella Jail" que ele dirige, tentem informar-se.

Como aperitivo, posso adiantar que Joe Arpaio se gaba de feitos económicos excelentes na gerência da sua cadeia porque, diz, "Os meus prisioneiros estão gordos demais, por isso, reduzi-lhes a ração diária": reduziu as 3.000 calorias diárias para 2.500.

A redução, para além do efeito estético do emagrecimento médio de 8 quilos por prisioneiro, produziu feitos económicos dignos da nossa Ministra Ferreira Leite: uma redução de custos na ordem de 400 mil euros anuais!

Aboliu o café (poupança de 160 mil euros), o sal e a pimenta (poupança de 97 mil euros), e quanto ao americaníssimo "ketchup", nem vê-lo (poupança de 120 mil euros).

Gaba-se de ter conseguido diminuir as despesas de alimentação diária dos prisioneiros quando comparadas com as dos cães de guarda: os cães consomem 93 cêntimos por dia enquanto que os presos consomem 32 cêntimos.

Diz Arpaio, em relação aos cães: "Esses, coitados, não cometeram crime nenhum."

Alguém se indigna com estas coisas?

Não me parece.

Em Portugal, discute-se futebol e a eventualidade de Santana Lopes mudar o local do circo para que actua...

Nos EUA, onde tudo isto se passa diariamente, estão os “politicamente correctos” entretidos a enviar fax e mails para reclamar perante a visão de um dos seios de Janet Jackson (que cada vez mais parece o irmão travestido).

Estes senhores como Arpaio , e não só, são só a ponta de um iceberg...

Ora vêem porque não assino certas petições “politicamente correctas” como a que demagogicamente anda por aí a circular acerca das reformas dos políticos?

Sabe-se (quase) sempre onde se começa, só não se consegue saber onde se vai parar...
JR - 06.Fev.2004

...que se fodam as palavras!!!

Estou cansada delas...

Quero-te aqui, comigo!Vem...e beija-me a tristeza!, afoga-me o desespero!, mata-me a saudade!


(esboço... de Ccriola para Camus)

04/02/04

Di

merda!... que raio andamos cá a fazer!???? (2)

"merda!... que raio andamos cá a fazer!????

Após milhentas leituras, penso que o autor deste título quereria que o re-fizéssemos:

"Merda!!! É o que andamos cá a fazer!

Não existem perguntas na vida...

Não existem dúvidas na vida...

Perguntas e dúvidas, são traições dos filósofos...

São rasteiras que nos obrigam a brincar...

Que nos obrigam, ao brincar, a voltar ao espanto da criança que existe em todos nós...

Fujam das perguntas... Fujam das dúvidas...

Sejam homenzinhos e mulherzinhas!

Enfim, sejam uns merdas ao quererem perguntar o que nem os filósofos perguntam."

[importas-te de inventar um nick qq para "assinar" estas coisas!???...essa do Eu(zinho) devia pagar(me!) direitos de autor, mas como eu sei q ñ és bom pagador...inventa!!!:-»]

Discutir por discutir...

...prefiro "esta":

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."CLARICE LISPECTOR


...ou "este" :


"Para ti o tempo já não urge,
Amiga.
Agora és morta.
(Suicida?)

Já Pierrot-vomitando-fogo
(sempre ao serviço dos amantes)
não entra no nosso jogo
como dantes.

Mas esse obscuro servidor,
que promovemos uma vez
(ainda eu não te dedicara
aquele adeus português...),

corre, lesto, como uma chama,
entre nós dois (o saltarim!)
e desafia-nos prá cama.
Esperas por mim?

* * *

Se eu pudesse dizer-te: - Senta aqui
nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,
ó amável bichinho, o pêlo fino;
depois, a contra-pêlo, provocar-te!
Se eu pudesse juntar no mesmo fio
(infinito colar!) cada arrepio
que aos viageiros comprazidos dedos
fizesse descobrir novos enredos!
Se eu pudesse fechar-te nesta mão,
tecedeira fiel de tantas linhas,
de tanto enredo imaginário, vão,
e incitar alguém: - Vê se adivinhas...
Então um fértil jogo de amor seria.
Não este descerrar a mão vazia !
(...) Alexandre O’Neill "


03/02/04

...porque me sobra...?

...gostei desta frase/ideia...

"E que um ser pertence a outro apenas... porque sim..."

(...aquele "pertencer" subentendo-o como "amar"...sem sentidos de posse "dos outros"...amar porque sim, porque não se consegue deixar de amar...amar porque sim, sem necessidades de justificar, de racionalizar, de perceber, de explicar...amar porque sim!...não chega!?)

Memórias partilhadas...

(...)
Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
(...)
(José Mário Branco - in "FMI")

[irrrrrraaaa...como é q eu te "assino" aqui!???]