Isto duma pessoa tentar manter-se a leste do inferno -
já que do paraíso ninguém, no seu perfeito juízo, fugiria! - tem o seu quê de engraçado. Uma
pessoinha recusa-se a ler o jornal diário, a ver os
'telejornais', já nem as revistas semanais compra
(mesmo se ainda não resiste a dar uma espreitadela nas capas), mas depois está num sítio qualquer que resolve ter a tv ligada, precisamente, num qualquer
'telejornal' onde está a passar a
'manif dos profs', aquela supostamente convocada à revelia de grupos profissionais e/ou políticos
(vulgo sindicatos e partidos), o que eu acharia muito interessante não fosse a coisa dar para o torto depois de ouvir alguns dos
senhores profs!
E não é que se dá logo voz à primeira prof que passa e diz, numa voz embargada pela comoção -
a propósito de quê? da raiva por alguém pretender meter ordem na bandalheira em que o ensino se tornou, em Portugal, depois de a carreira ter como principal objectivo dar emprego a quem pouco mais sabe, ou quer, fazer?!, se o vai conseguir, ou se o objectivo é mesmo esse e só esse, isso já são outros 'quinhentos' que, entre gente de boa fé, deveria ser aferido nas eleições -
'relatava' eu: muito revoltada, a tal prof, dizia que não admitia ser avaliada pelos pais que, tendo muito menos conhecimentos científico-pedagógicos, naturalmente!, não sentia merecedores de tal tarefa. E, pela forma como se exprimia, presume-se que essa seria a maior ofensa (
duma série delas) constantes no tal diploma que irá regular a dita avaliação.
Também aparece um outro prof que se
atira, não tão comovidamente é certo, contra o presidente de tal conselho e uma outra professora que manifesta reticências preocupadas quanto à forma como essa avaliação vai ser levada a efeito não recusando, no entanto, que os professores devam ser avaliados.
Esta foi a única professora que ouvi naquelas entrevistas.
Ora, desde sempre que os profs -
como bons componentes duma classe que se rege por ideias corporativistas, tal como médicos, juízes e outros que tais - se manifestam contra qualquer ideia
(quanto mais lei) que pretenda mexer-lhes nos privilégios. No caso dos profs a coisa torna-se tanto mais abstrusa, quanto esses privilégios vão sendo perdidos por culpa própria, mérito do seu próprio obscurantismo. Ainda a ministra não deu um ai, limitando-se a seguir o que já estava programado, e aí estão eles a exigir a demissão!
Senão vejamos: tentava eu manter-me a leste disto tudo
(como dizia no inicio), não queria saber pra nada de quem vai avaliar quem e como, mas...aquela boca fez-me ir à procura! Seria possível?
Iam meter os pais a avaliar os profs??? Xiiiiii, ganda bronca! Mas...ora porra!, Então a coisa fica-se por isto:
«(...)Já a apreciação dos pais e encarregados de educação só poderá ser tida em conta pelos avaliadores mediante a concordância do professor, sendo promovida de acordo com o que estipular o regulamento interno das escolas.(...)»Sim senhor! Aqui está uma coisa verdadeiramente chocante...ao ponto de meter aquela prof quase a chorar! Muitas culpas no cartório deve ter aquela gaja, pois então!!! Só pode...
Mas é claro que ninguém tem o direito de avaliar,
menos ainda os pais!, porque raio uma prof não dá conta dos putos duma turma, quando outra prof obtém resultados completamente opostos. É claro que ninguém tem o direito de avaliar,
menos ainda os pais!, uma prof que mete continuamente atestados porque até anda a fazer
'outros trabalhalhinhos' que até dão mais lucro. É claro que ninguém tem o direito de avaliar uma prof,
menos ainda os pais!, que dá mais faltas que aulas. É claro que ninguém tem o direito de avaliar uma prof,
menos ainda os pais!, que manifestamente não tem o mínimo jeito (
e tantas vezes a mínima preparação) para lidar com crianças.
E também é claro que em todas as profissões podem e devem existir avaliações aos respectivos profissionais -
se eu não mostrar continuamente a minha competência, no meu trabalho, o que tenho de mais certo é ir pró olho da rua e nem me valerá lá estar há um ror de anos, como já vi acontecer a muitas colegas minhas desde que entrei na empresa - mas isto só no sector privado, claro está! No sector público todas a incompetências são e deverão!, ser toleradas pois é para isso que, nós outros, pagamos os nossos impostos!
Como as cabecinhas de algumas pessoas funcionam como a daquela prof volto a frisar o que sempre tenho dito nestas coisas:
os governos e respectivas políticas não estão isentos de culpas na calamidade a que chegou o nosso ensino; os pais e encarregados de educação não estão isentos de culpas nessa mesma calamidade; a forma como a sociedade está organizada propicia essa mesma calamidade, mas...de inocentes é que os profs não têm nada como sempre pretendem fazer crer! São até dos mais culpados, como também sempre digo, dado o seu (suposto) grau de cultura a que a maior parte da população portuguesa não tem acesso...e os pais culpados fazem parte dessa mesma maior parte da população portuguesa inculta...é que Portugal não é Lisboa e arredores!