António Ramos Rosa - 17.10.1924
Ouve a longa incoerência da palavra e a memória do sangue que se apaga. Ouve a terra taciturna.Tudo é furtivo e as sombras não acolhem. Nenhum jardim de segredos. Nenhuma pátria entre as ervas e a areia. Onde é que nasce a sombra e a claridade?
Eis as vertentes da terra árida e negra. Quem reconhece o equilíbrio das evidências serenas?Estas palavras têm o odor de portas enterradas. Como dominar a desmesura da ausência e a vertigem? Como reunir o obscuro em palavras evidentes?
Escuta, escuta a longa incoerência da terra e da palavra. Ao longo da distância murmura a perfeição monótona de um mar. Num pudor de esquecimento um astro se aveluda em denso azul na corola do silêncio.
de Três Lições Materiais(1989)
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Amo o teu túmido candor de astro a tua pura integridade delicadaa tua permanente adolescência de segredo a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança de um peito que pulsa e canta a sua chama que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto que dure e flua nas tuas veias lentas e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva para que sintas a verde frescura de um pomar de brancas cortesias porque é por ti que vivo é por ti que nasço porque amo o ouro vivo do teu rosto
de O Teu Rosto(1994)
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
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