17/09/05

O embuste da "democracia" netiana...:->

«O Espaço Público

Vê-se que o espaço público falta cruelmente em Portugal. Quando há diálogo, nunca ou raramente ultrapassa as «opiniões» dos dois sujeitos bem personalizados (cara, nome, estatuto social) que se criticam mutuamente através das crónicas nos jornais respectivos (ou no mesmo jornal).
O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso. É uma espécie de argumento de autoridade invisível que pesa na discussão: se é X que o diz, com a sua inteligência, a sua cultura, o seu prestígio (de economista, de sociólogo, de catedrático, etc.), então as suas palavras enchem-se de uma força que não teriam se tivessem sido escritas por um x qualquer, desconhecido de todos. Mais: a condição de legitimação de um discurso é a sua passagem pelo plano do prestígio mediático - que, longe de dissolver o sujeito, o reforça e o enquista numa imagem «em carne e osso», subjectivando-o como o melhor, o mais competente, o que realmente merece estar no palco do mundo.

José Gil, in 'Portugal Hoje - O Medo de Existir'», in

...este excerto serve-me, às mil maravilhas, para "classificar" o teatro de marionetas que se representa por este mundinho dentro... de fóruns, grupos de discussão e agora blogs e respectivos grupinhos de "comentaristas": «O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso.» ... nem mais!...depois admiram-se se me divirto a deitar lenha na fogueira...:->


(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

2 comentários:

Anónimo disse...

Li, por engano, em vez de "Vê-se que o espaço público falta cruelmente em Portugal" o seguinte:

"Vê-se que no espaço público falta crueldade em Portugal"

e concordei com isto.
Falta crueldade, verdadeira raiva (haine), indignação e não a encenação a que temos assistido.

amok_she disse...

Somos, cada vez mais, um povo amorfo.