27/09/05

Vejam-me este primor!


...até parece escrito para português ler...:->

...e quanto ao que refere sobre a soberania felina...nada mais a acrescentar!

O GATO? É UM GATO

Deveras que um gato (quem troca tais idéias comigo é o amigo Lucas Baldus) não é um ser muito dado a conferências, palestras e outros afazeres acadêmicos. Tarefa tortuosa seria imaginar um gato às vésperas de defender uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Deveras que não. Tais miaus não lhe agradam nem lhe apetecem. Um gato — ora vejam — é mesmo só um gato.

E já seria muito. É muito. Imaginar por exemplo um gato jornalista — e jornalismo hoje é o império da tagarelice e do boquirrotismo — é algo inconcebível. Gato é figura a suscitar o silêncio, a elegância, a independência, o livre arbítrio, a consciência límpida. Além do mais, gato não possui patrão e nem veicula idéias e palavras ao sabor ideológico deste ou daquele grupo, desta ou daquela facção. Deveras que não. Um gato jamais poderia ser um jornalista.


Mais ainda. Convenhamos. Ora. Já imaginaram um gato deputado, um gato senador, um gato vereador, um gato presidente? Pois dizemos (Lucas Baldus e eu): tais miaus não lhe agradam nem lhe apetecem. O que menos possui hoje um político (aqui ou acolá, lá ou algures) é o sentido da elegância. Observem o modo como fala um político, o modo como age um político, o modo como um político mexe a boca ou mexe a ponta do nariz. Deveras que não. Um político é o avesso da elegância. E um gato jamais poderia ser um político.


Hoje, no momento em que Lucas Baldus e eu trocávamos tais alopradas palavras, vimos um gato sobre o muro de uma casa de bairro. Lá vigorava e pontificava o bichano. Doutor de sua liberdade, mestre de sua independência.


Era um gato rajado. A natureza (esta que igualmente é independente, embora nem sempre seja elegante), sim, natureza quis dar ao pêlo desse bichano as cores mais incolores do reino das cores. Cinzas arrependidos, amarelos com vergonha, brancos com rubor. Mas pouco importava. O gato, empinado lá no muro, era grácil de modos e andares. Não nos olhou e lá ficou com seus bigodes aristocráticos. Tinha patas de pluma. A cauda sugeria a serenidade dos seres em estado de graça. As orelhas apanhavam sons da lavoura de Mozart.


E lá deixamos tal ser em sua heideggeriana altitude. Fomos pelo Brasil dos deputados, dos jornalistas. E o chão estava áspero, o chão estava duro.


posted by © Paulinho Assunção, 04-2005. at 3:24 PM, in Pessoas de Romance

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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

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