Vamos lá ver se nos entendemos. A espuma que costuma saltar da sua boca quando entra nessas convulsões paranormais não me incomodam por demais. De facto, é-me totalmente indiferente vê-la rebolar nas suas próprias fezes e levantar-se exibindo-se convicta de que está coberta de ouro. Muito menos me incomoda que se rebole nas fezes de outrem e tenha a mesma atitude. Preocupa-me, irrita-me e sinceramente choca-me (mais do que possivelmente a chocará o que estou a escrever) que tente rebolar-se no ouro dos outros e o transforme em lia mental.
Eu explico-me. Tem citado Nietzsche, 1° - como uma espécie de místico; 2° - compara Dionísio com Cristo; 3° - faz do conceito übermensch um qualquer alucinado perdido não sei em que fusão transcendente.
1° - Nietzsche foi acima de tudo um desmistificador.
Nietzsche escreveu para espíritos livres, exactamente o contrário de si, escrava. O espírito livre é aquele que se libertou do dogmatismo, da crença na existência de um mundo ideal, da existência de deus, da esperança da felicidade, da solidez dos valores e que consegue mesmo assim, sobretudo assim, amar a vida. Nietzsche iniciou a genealogia, - mãe da psicanálise -, fundada na Vontade de Poder. O que é esta Vontade? Primeiramente é a realidade mais profunda de todo o ser (e esta realidade encontra-se nele, não numa qualquer transcendência : é instinto, pulsões, vontade, etc.) que deve ser entendida como relação complexa de múltiplas forças em interacção. Também é a vontade positiva, a vida, o dinamismo. Tornar-se-á por fim na dualidade de valores activo/reactivo, dinamismo/cansaço que encabeçam as novas tábuas da lei e substituem as oposições verdadeiro/falso, bem/mal. Voltando à genealogia, esta psicologia é ao mesmo tempo ontologia : se a vontade de um ser é a sua realidade mais profunda, analisar o que ele quer é analisar o que ele é.
2° - O Dionísio do Nietzsche tem muito de Cristo.(?!)
Com isto, se dúvidas restassem, expõe toda a sua ignorância, acompanhada como sempre exemplifica neste fórum, por uma boa dose de estupidez. Dionísio contra o Crucificado! Será que me entenderam? Esta frase diz-lhe alguma coisa? Certamente que não. O que leu de Nietzsche? A Origem da Tragédia? Ou nem isso? Nem era preciso ter lido nada, bastava conhecer os títulos das obras : parece-lhe que um homem que intitula um dos seus livros O Anticristo (classificando-se a ele mesmo) teria alguma vez comparado um dos conceitos fundamentais da sua obra com Cristo? A obra de Nietzsche é o oposto de Cristo! Foi construída em oposição total àquilo que Cristo significa. Quer que lhe explique o significado de Dionísio?
Dionísio : N’AOT, obra principalmente artística e filológica, era a ebriedade, a loucura, o irracional, (mas humano, entende? nunca transcendente, não existe transcendência em Nietzsche), a realidade da vida que para ser suportada tinha de ser coberta pela ilusão de Apolo, da Arte. Representa a brutalidade da vida, o seu absurdo, a sua falta de sentido. Por isso Nietzsche atacará Sócrates que tenta abafar esta realidade brutal dando um sentido à vida numa esfera extra-Sensível, assim como faz a religião e/ou todas as tretas espirituais. Nas obras posteriores, Dionísio conservará a sua lucidez mas já não precisará de esconder-se e torna-se o porta-palavra de Nietzsche enquanto modificador de toda a cultura filosófica – platónica – e religiosa – cristã. Nietzsche através de Dionísio diz SIM ao mundo, um assentimento dionisíaco ao mundo, o seu amor fati, adesão espontânea do aristocrata à inocência do devir. Dionísio representa o abraçar da realidade, a negação de toda a transcendência – esse conceito covarde, essa escapatória de escravo - que nada mais faz do que encobrir essa mesma realidade.
3° - Como até já uma pessoa com a sua parca inteligência deve ter percebido, o super-homem começa por afastar-se de toda e qualquer transcendência (chame-lhe o que quiser : religião, espiritualidade, etc.).
O super-homem não é nenhum representante de uma espécie ou raça superior, não nasce de uma evolução biológica. O que interessa a Nietzsche é a hierarquia dentro da espécie humana. Já vimos que a Vontade de Poder substituiu todos os valores e portanto essa hierarquia é estimada em termos de vontade de poder. O super-homem é o representante da vida ascendente. Mas este não é violento, nem tenta impor o seu domínio, já que aquele que tenta dominar demonstra a sua fraqueza, nem é o homem que alcançou lugares de poder, já que ninguém o alcança sem antes demonstrar subserviência; é o homem que tem a coragem de levar ao mais alto ponto as virtudes aristocráticas de probidade e respeito de si, é o oposto do homem submisso a valores transcendentes; o super-homem é aquele que substitui o deus morto no papel de fundador de valores.
Este aristocrata define-se em nove pontos :
1 – Orgulhoso, não quer comandar, cultiva um desejo de distância;
2 – Independente, faz o que quer : é mal tudo o que lhe é nocivo, bom tudo o que lhe é vantajoso (sem nunca ser vil ou baixo);
3 – Indiferente ao que os outros possam pensar usa sempre de franqueza total, não dissimula o que quer que seja;
4 – Orgulhoso, honra nele mesmo o homem poderoso;
5 – É egoísta;
6 – É duro, implacável, poderá diminuir a gentalha escrava a instrumentos;
7 – Sabe respeitar os seus e venerar os seus antepassados;
8 – A verdadeira bondade é força, grandeza e não beneficência;
9 – A sua confiança em si mesmo permite-lhe olhar de alto para o génio, para o artista, que sempre procura a aprovação do público.
Percebeu agora como Nietzsche nada tem em comum consigo e com a sua gentalha? Percebeu agora que não basta colocar um nome sonante no meio das suas baboseiras para ser inteligente, ou mesmo culta? Percebeu agora que não tem a mínima legitimidade para o citar? Percebeu agora que não pode andar por aí a espumar da boca porque aparecerá sempre alguém inteligente e culto, - sim, como eu -, para a levar de volta ao seu nível?
E agora, diga-me, (se tiver a coragem de responder, o que duvido), que os verdadeiros inteligentes e cultos são aqueles que negam ou escondem sê-lo, que são os modestos… Porque essa modéstia é precisamente uma das qualidades apreciadas pelos escravos, - fá-los sentir bem na sua pobreza de espírito - porque a modéstia é desrespeito de si mesmo, é falta de franqueza, é vileza.
Mors Ultima Ratio
DeusExMachina (21.05.2004 02:06)
(...o bold é meu q tenta, tão só, lançar pontos para uma possível discussão...)
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[...pequeno esclarecimento, dado q um blog é assim a modos q uma coisa pessoal...a pessoalização q se verifica neste texto ñ me é dirigida!;-) ...apesar de tudo ainda haverá, por aí, uma ou duas pessoas q se "chocariam" se assim fosse :->...ñ q ñ passasse pela cabeça do autor dirigir-me estas "gentilezas", mas...por acaso não foi!:->]