11/05/04

O Tempo, esse demónio dos nossos tempos...

...ou, como nós o desbaratamos impunemente(?)

«Quando Se Ama Os Espectadores
Por EDUARDO CINTRA TORRES
Terça-feira, 11 de Maio de 2004, in Público


Hugo e Rosa, dois irmãos suecos. Nasceram no dealbar do século XX. Viviam no campo; casa limpa, arejada. Com mais de 90 anos levavam a vida de sempre. Partiam lenha, cozinhavam no forno. A electricidade chegou-lhes pelo ano 2000, alguém a levou até lá. Pessoas simples. Ouvi-los era conhecer a vida nos campos há um século. Quando Hugo ficou doente, aos 99 anos, estavam ambos muito frágeis, foram levados para um lar de velhos e aí muito bem tratados. Ligaram a TV do quarto a Rosa, mostraram-lhe vários canais. Ela não quis ver nenhum. Hugo recuperou. À festa do centenário vieram familiares, antigos catecúmenos, amigos.

Rosa morreu primeiro. Hugo ainda festejou os 101 anos, em 2001. Meses depois, Hugo disse, no corredor a caminho do quarto, que ia ter com a irmã onde ela estava. No quarto, abriu a janela e gritou "Rosa!". Deitou-se. Morreu horas depois. Uma voz off diz que a vida deles pertence a um passado distante. Nunca lhes ouviu dizer que não tinham tempo para isto ou para aquilo. Tinham-no sempre. Nunca lhes faltava o tempo para quem amavam.

"Hugo e Rosa" é um documentário de Bengt Jägerskog (2002). Na TV é um documento quase chocante por estar tão mais próximo da realidade do que toda a "reality" que a TV nos apresenta.

O realizador também teve tempo. Acompanhou Hugo e Rosa durante uma década, de 1992 a 2001. Jägerskog teve tempo para Hugo e Rosa porque de alguma forma os amava - não seria possível filmá-los assim se não os amasse - mas teve tempo principalmente porque ama o cinema. O documentário passou no ARTE (quinta, 06.05). A TV portuguesa não tem tempo para documentários como este. Dez anos. Muito tempo. Seria preciso que a TV portuguesa amasse os seus espectadores.»

***
Et Maintenant.
(Gilbert Becaud)


Et maintenant,
Que vais je faire
De tout ce temps
Que sera ma vie?

De tous ces gens
Qui m'indiffèrent,
Et maintenant
Que tu es partie?

Toutes ces nuits
Pourquoi, pour qui?
Et ce matin
Qui revient pour rien...

Mon coeur qui bat
Pour qui, pour quoi?
Qui bat trop fort,
Trop fort...

Et maintenant,
Que vais je faire?
Vers quel néant
Glissera ma vie?

Tu m'as laissé
La terre entière,
Oui mais la terre
Sans toi c'est petit.

Vous, mes amis,
Soyez gentils,
Vous savez bien
Que l'on y peut rien.

Même Paris
Crève d'ennui,
Toutes ces rues
Me tuent.

Et maintenant,
Que vais je faire?
Je vais en rire
Pour ne plus pleurer.

Je vais bruler
Des nuits entières,
Puis, au matin,
Je te hairai.

Et puis, un soir,
Dans mon miroir,
Je verrai bien
La fin du chemin.

Pas une fleur
Et pas de pleurs,
Au moment de
L'adieu.

Je n'ai vraiment
Plus rien à faire,
Je n'ai vraiment
Plus rien.


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