01/03/08

Devo, desde já, assumir que o teor deste post era para ser muito (mas mesmo muito, em sentido oposto mesmo!) diferente do que agora irei escrever. Isto porque, numa estúpida reacção, ia atrás dos comentários que por aí se têm escrito sobre este assunto. Mas, depois, resolvi ler o tal documento com mais atenção e pasmei!

Ora vamos lá a ver a razão de tanto escândalo: «Verbaliza a sua insatisfação/satisfação face a mudanças ocorridas no Sistema Educativo/na Escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares»

Não entendo como é que alguém 'verbaliza satisfação(...)através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares», mas enfim, deve ser a minha burrice...no entanto, também não entendo onde é que está a razão do escândalo!?

É claro que entendo que os profs não tivessem gostado nada disto, ainda mais vindo dos seus próprios pares, mas...onde está o 'crime'??? Em qualquer equipa, qualquer tipo de 'críticas destrutivas e potenciadoras de instabilidade no seio dos pares' é sempre vista duma forma negativa, é sempre prejudicial para os resultados da equipa, mas...onde é que existe o espírito de equipa na maioria das escolas? Onde é que se encontra um prof que não faça mais que protestar contra as políticas de qualquer governo que faça a mais pequena menção de lhes tocar nos privilégios de classe...de funcionários públicos!? E, no entanto, como eles os têm vindo a perder ao longo dos tempos...porque será?

Agora estúpido, estúpido!, é pretender-se ficar pela rama, como se o conteúdo de tal parâmetro fosse, única e exclusivamente, a crítica às políticas educativas, quando na realidade se centra na forma como se verbalizam essas críticas: duma forma destrutiva (presume-se sem qualquer intenção de procura de soluções alternativas) e geradora de ondas de protesto inconsequente tão nosso, tão português, junto dos outros. Assim a modos que uma qualquer alma, numa fila para qualquer coisa, desatar a protestar alto, olhando em redor para colher apoios, e às tantas já está tudo aos berros sem se perceber muito bem o que quer aquela mole de gente protestante e sem lógica. Mas tudo isto sabem os profs muito bem!, só que julgando-se únicos detentores do saber em Portugal imaginam todos os restantes portugueses burros...e vá de lhes tentar atirar areia nos olhos!

Numa entrevista de ontem, num qualquer telejornal, acerca da sobrecarga de horas passadas na escola, uma prof referia que chegava a sair da escola, quase todos os dias, por volta das 21 horas. Instada a esclarecer o porquê dizia ela que eram reuniões atrás de reuniões para 'tratar destas coisas exigidas pelo ministério'; depois de, também, lhe perguntarem se essa sobrecarga de trabalho se reflectia na qualidade das aulas e sobre os alunos, resposta pronta e com o ar mais inocente possível: 'claro que não que nós somos muito profissionais!' Estes profs são umas máquinas, é o que é! E desonestos!, intelectualmente desonestos ao pretenderem que todo o mal e todos os erros recaem sobre o(s) governo(s) e os pais/encarregados de educação, enquanto eles são os únicos intocáveis nesta trampa toda em que se tornou a educação em Portugal. Tão intocáveis que até são capazes de trabalhar dez horas numa escola, ainda vão pra casa tratar da família e as aulas continuam com a mesma qualidade como se assim não fosse...o dia, para esta gente, deve ter 48 horas e eles, então, são de ferro!

O engraçado disto tudo é que aquele documento refere ainda um outro ponto que, no meu entender, diz muito dum professor: «Mantêm uma relação pedagógica com os alunos produtora de expulsão de aluno(s) da sala de aula» e «coloca as causas do insucesso dos alunos em situações de vida do discente ou no seu perfil».

Ora, esta é uma das situações que venho referindo (há anos!) e que potencia as diferenças entre profs e professores...por alguma razão, numa mesma turma e com o mesmo aluno, uns profs não conseguem resultados e um ou outro professor obtém resultados que se podem considerar completamente díspares dos primeiros. Por diversas vezes assisti a trabalhos apresentados por professores, realizados por alunos que outros profs da turma classificavam de indisciplinados e incapazes para qualquer tipo de trabalho na sala de aula. Não era em vão que, com os primeiros, os alunos permaneciam na sala de aula, enquanto que com os segundos era mais o tempo que passavam expulsos que dentro da sala de aula. Um prof que opta por usar da medida de expulsão, com a leveza com que se usa nos últimos tempos, só demonstra a sua própria incapacidade para impor disciplina; um prof que recorre à expulsão como forma de reduzir o número de alunos na sala de aula para, assim, lhe facilitar a tarefa pela redução do trabalho só consegue obter desses mesmos alunos o desrespeito que quem se demite da sua função merece! Tal como acontecia com aqueles pais que, incapazes para a educação dos seus filhos, optavam por os internar em colégios internos, isso sim!, a verdadeira demissão de pais como educadores e não o facto de o sistema em que vivemos estabelecer uma grande maioria da população a viver com recursos económicos na ordem do ordenado mínimo (ou pouco mais se conseguem estar os dois empregados) não lhes deixando grande margem para investir na sua própria qualidade de vida de forma a transmitirem aos filhos qualquer coisa mais que não seja 'ensinado' pelas televisões...

Enquanto continuarmos a admitir gente incapaz para exercer a função de ensinar, gente que recorre ao ensino como fonte de rendimento alternativa por não conseguir instalar-se onde quereria, ou até o conseguir...teremos sempre uma corja de funcionários públicos que colocam os seus próprios interesses acima de pessoas em formação, pessoas permeáveis a todas estas imagens degradantes do ser humano, como 'o salve-se quem puder e quem vem atrás que feche a porta!'...depois admiram-se uns pela indisciplina e falta de respeito, e outros por termos um país de gente menor e incapaz...com tais ensinamentos que mais se espera?!?


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

2 comentários:

Anónimo disse...

Tanto pais como professores percebem muito pouco de educação: eu sei do que falo, porque pertenço aos dois grupos e lido diariamente com os dois grupos.
Na escola dão-me habitualmente alunos difíceis porque ganhei a fama de os conseguir "recuperar". Quer que lhe diga como o consigo? Vou ser absolutamente franco e completamente despido de falsas modéstias: não faço a mais pequena ideia! Até porque às vezes não chego lá (e com a idade e com este ódio aos professores que vai grassando, chego cada vez menos)!
É que, embora nos (professores) pretendam avaliar como se fossemos treinadores de cães, os alunos são seres humanos que podem querer ou não estabelecer ligação connosco... e isso obedece a razões que passam pouco pela razão... como também o pai de qualquer adolescente poderá testemunhar.

amok_she disse...

«Anónimo disse...

Tanto pais como professores percebem muito pouco de educação: (...)»


Aceito!, mas...ninguém tira cursos para ser pai e mãe - existem??? - já para se ser professor...pois!

«(...)não faço a mais pequena ideia!(...)»

Pois, mas...ñ acredito q o ñ faça, mesmo!;-)...pode é dizer(me) q nem será assim tão complicado qt isso, ou q ñ existem receitas, menos ainda das infalíveis...

«(...)É que, embora nos (professores) pretendam avaliar como se fossemos treinadores de cães, os alunos são seres humanos que podem querer ou não estabelecer ligação connosco... e isso obedece a razões que passam pouco pela razão...(...)»

Naturalmente, tal como alguns pais q educam vários filhos da mesma forma - embora, eu, aqui coloque algumas reservas a esta 'da mesma forma' pq cada filho vai trazendo aprendizagens novas q nos levam a fazer acertos, aqui e ali, tentando ñ cometer os mesmos erros anteriores; há até quem diga q a partir do 3 ou 4 é q a coisa começa a ficar mais fácil, pois...eu fiquei por dois! - mas dizia eu: apesar de se usar, basicamente, o mesmo 'código' para todos os filhos, nem sempre eles 'respondem' de igual forma, acontecendo por vezes resultados completamente díspares...

Mas, meu caro anónimo, essa é das variantes q menos peso coloca nos resultados...e já que, hj em dia, a influência da família é mt menor do q aquela q os profs pretendem q seja - o meio envolvente, onde está a família, é preponderante, mas ñ é a família q mais influencia...já se contabilizou quantas horas passam com os pais, os alunos 'etiquetados' como problemáticos? - acaba por ser a escola (ou a rua) o local de aprendizagem por excelência...se é na escola, minimamente acompanhados, ou se é na rua completamente entregues a si próprios, isso já é um problema ao qual a escola ñ pode furtar-se. E qd digo a escola ñ estou, de modo nenhum!, a pretender atirar para cima dos professores essa responsabilidade, mas lá está...a escola não é única e exclusivamente feita por professores...nem sequer para os professores!