14/03/08


«RESPEITOSAMENTE

Sou um individuo humilde, a minha mãe julga-me simplório, vivo numa cidade de província, evito a confusão da urbe e a vida mundana, desleixo-me com a saúde e com o aspecto, pelo que desconfio não ser vaidoso, gosto muito pouco daquilo a que chamam convivência social, fico nervoso, ansioso, chego a ter ataques de pânico quando me sinto observado, coisa que apenas aguento com muito álcool a correr-me no sangue, adoro dançar, mas sozinho, também gosto de cozinhar, mas apenas para mim, não me considero um tipo egoísta, antes pelo contrário, dou muito do que posso dar a quem me pede e, muitas vezes, a quem nada me pede, no entanto nunca me faço convidado, detesto que pensem isso de mim, nada haverá que deteste mais do que a hipótese de alguém me julgar indigente e arrivista, por isso mantenho sempre alguma distância, inclusive dos amigos, os amigos sabem que assim é, alguns até sofrem um pouco com essa distância, queixam-se que não lhes telefono, que não lhes escrevo, que não lhes digo nada quando passo por perto, a culpa disso é um tremendo desleixo na cultura e preservação das relações (talvez o meu pior vício), prefiro ser tomado pelos acasos do que ir ao encontro das oportunidades. Isto tudo para dizer apenas que às vezes fico acanhado com a tamanha estupidez de algumas afirmações. E sinto alguma raiva, inclusive, quando escuto ou leio tais paspalhices. É que,(...)»

***...***...***
(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW