01/05/05

Já se sabe que sou contra os dias de...

...e este não foge à regra!...os 'dias de...' - mãe, criança, mulher, blá,blá,blá - mais não servem que dar ao comércio, aos hipócritas, aos tontos e aos "maus pagadores para com a própria consciência" (onde, por vezes, também acabo por cair), um alentozinho para se continuar em frente sem perder tempo...e aos primeiros ganhar mais uns cobres.

Não preciso de 'dias de...' para ser mulher e "berrar" com qualquer macho que se ache no direito de me subestimar; não preciso de 'dias de...' para me lembrar das minhas "crianças", mas mais ainda das que nunca o puderam ser, não porque as não deixaram nascer, mas porque as fizeram vir negando-se-lhes tudo a que tinham direito; e não preciso de 'dias de...' para me lembrar da mãe que me deu a referência máxima para a mulher que sou hoje!, lembro-a em todos os momentos e situações da vida em que me revejo no que ela me ensinou...e como a perdi tão cedo ficou-me a imagem, mítica, de que ela nunca desistiria como eu o estou prestes a fazer...fraca homenagem lhe faço, mas resta-me como possibilidade de desculpa o facto de já "cá andar" há mais anos do que ela andou...os sonhos e ideais dela foram a minha herança, mas eu não me sinto lá muito confiante de os poder honrar...sem ela!

No entanto, hoje comemora-se uma outra data, essa sim, esquecida - não dá lucro comemorar as lutas pela dignidade humana - porque a memória dos povos é curta e muito selectiva no que toca aos seus interesses individuais... o 1º de Maio de 1886 em Chicago!

Manifestações do Primeiro de Maio de 1886
«História do dia do trabalhador


No dia 1º de Maio de 1886, 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, em manifestação pacífica, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho. A polícia reprimiu a manifestação, dispersando a concentração, depois de ferir e matar dezenas de operários. Mas os trabalhadores não se deixaram abater, todos achavam que eram demais as horas diárias de trabalho, por isso, no dia 5 de Maio de 1886, quatro dias depois da reivindicação de Chicago, os operários voltaram às ruas e foram novamente reprimidos: 8 líderes presos, 4 trabalhadores executados e 3 condenados a prisão perpétua.


A luta não parou e a solidariedade internacional pressionou o governo americano a anular o falso julgamento e a reunir um novo júri, em 1888. Os membros que constituíam o júri reconheceram a inocência dos trabalhadores, culparam o Estado americano e ordenaram que soltassem os 3 presos.

[Alberto Parsons um dos oradores do comício de Haymarket, conhecido militante anarquista, tipógrafo de 39 anos, que não tinha sido preso durante os acontecimentos, apresentou-se voluntariamente à polícia tendo declarado: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade e para melhorar a sorte dos oprimidos, aqui estou". Junto com August Spies, tipógrafo de 32 anos, Adolf Fischer tipógrafo de 31 anos, George Engel tipógrafo de 51 anos, Ludwig Lingg, carpinteiro de 23 anos, Michael Schwab, encadernador de 34 anos, Samuel Fielden, operário têxtil de 39 anos e Oscar Neeb seriam julgados e condenados. Tendo os quatro primeiros sido condenados à forca, Parsons, Fischer, Spies e Engel executados em 11 de novembro de 1887, enquanto Lingg se suicidou na cela. Augusto Spies declarou profeticamente, antes de morrer: "Virá o dia em que o nosso silêncio será mais poderoso que as vozes que nos estrangulais hoje".(in AS ORIGENS TRÁGICAS E ESQUECIDAS DO 1° MAIO, Jorge E. Silva]

Em 1889 o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de Maio, como o Dia Internacional dos Trabalhadores, um dia de luto e de luta. E, em 1890, os trabalhadores americanos conquistaram a jornada de trabalho de oito horas.

116 anos depois das grandiosas manifestações dos operários de Chicago pela luta das oito horas de trabalho e da brutal repressão patronal e policial que se abateu sobre os manifestantes, o 1º de Maio mantém todo o seu significado e actualidade.»
(com base em informação retirada do Expresso online), colhido em «O Rei Vai Nu»

Só não concordo com umas palavrinhas ali no fim do texto...116 anos depois a maior parte das pessoas, em especial os mais jovens, desconhece por completo o significado da data, embora a actualidade da mesma se faça sentir cada vez mais, de novo!...se é que alguma vez deixou de o fazer...

(...foi assim que ela me ensinou...a pensar...a sentir...a sonhar...a desejar...)

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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW