«Oh yes, the world will always welcome lovers. As time goes by»
"Acordei com um contentamento tão estranho que, de imediato, me lembrei de ti. Mecanicamente, desatei a rir e a declamar parte da Balada da Neve e a recriá-la no que me contaste. Não, não a parte em que levemente batem, pois nem sequer é um chamamento. E bem que poderia ser...mas, não é. Passo os olhos pelo espelho e pergunto-me do porquê daquele riso. Rir-me-ia assim contigo aqui? Rir-me-ia contigo (que não de ti)? Quanto mais penso nisso, mais me rio e me contagio a mim mesmo com o riso do sorriso que em ti diviso.
Eu rio-me! E tu, espantas-te! Espantas-te pelo ridículo do riso e acabas também à gargalhada, apesar de ambos sabermos que debaixo da carapaça o coração goteja e que não vai ser fácil deixá-lo à solta sem que uma nova unha o não ponha de novo a arfar e assustado.
Irei como um cavalo louco!... (apetecia-me rever...). Despejo, do meu imaginário, o tambor do “colt” e também me apetecia ser um dos cavalos que se abatem, esgotado, a escorar-me num corpo que se me oferece cúmplice, que me atrai e que se me devolve cada vez mais alucinante e estrangulador.
Re-olho o espelho. O riso continua lá. Mas os olhos (que não mentem, mesmo quando tentam fugir), esses, fazem-me cantar uma outra melodia
You must remember this
A kiss is still a kiss
A sigh is just a sigh
The fundamental things apply
As time goes by
Mas...como é bom suspirar, flutuar e deixar os pés sem o peso do beijo... à maneira que o tempo flui. E eu, ali dependurado, a olhar os pés sem saberem o que fazer e a rir-me uma vez mais.
Riso ! Riso ! Riso! A minha maneira de esconjurar acaba sempre no riso. Afinal, quem tem coragem de interromper um riso? Um choro interrompe-se! Uma mão no ombro, uma mão na mão, uns olhos nos olhos, e o choro desfaz-se, desmorona-se e sentimo-nos invadidos no nosso super eu. Mas, um riso? Como se interrompe um riso? Como? Como nos poderemos intrometer no riso de alguém? O riso é algo de privado, não se partilha e é egoísta e solitário, não se deixa domar. Por isso desato em riso: para poder ter o meu tempo, o tempo que eu sei que ninguém consegue interromper.
And when two lovers woo
They still say “I love you”
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by
Sonho... Sonho? Desencontros...
Volto quase trinta anos atrás e à minha frente passam palavras como que num oráculo apreendido e escondido. Escondido dos olhos do riso, dos olhos do choro, no fundo de uma gaveta...
“Paris, le 3 Octobre 1972
Mon petit adoré
Je sais que tu ne leras pas cette lettre. Je l’écris à tout hasard, on ne sait jamais!
Je me suis recriéé ici, le monde des vacances avec “ton” galet, ton corail, tes photos merveilleuses.
(...)
Tu me manques beaucoup chaton chéri et je suis triste à mourrir. J’attends une lettre longue et tendre, une lettre qui ne finnit pas comme les journeés avec toi sur la plage.
Prouve-moi que “cela ne fait que commencer”.
Je t’embrasse follement
M(...) “
E.. o tempo ? O tempo....o tempo flui..flui...flui até que deixa de ser tempo para passar a ser verdade...para passar a ser uma eternidade que nos esmaga e liberta das justificações do momento...do tempo...do que perdemos e do que ganhamos...da vida...
Moonlight and love songs
Never out of date
Hearts full of passion
Jealousy and hate
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny
Tão simples... tão simples como olharmos um para o outro e vermos um estranho apoderar-se de nós. Apoderar-se da nossa vontade, do nosso desejo, da nossa inércia que era suposta ser inércia e acaba em revolta agitada, do nosso espaço que partilhamos e que acaba devassado, irremediável e definitivamente espezinhado como uva em fins de Setembro. Não, não me queixo do que deixei espezinhar... Queixo-me do que esses pés não conseguiram aprender enquanto espezinhavam. É só (?) disso que me queixo!!!.... Porque, afinal ... , eu continuo a amar esses pés!
It’s still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die!
The world will always welcome lovers
As time goes by
Descanso... Finalmente, descanso! Nos teus braços me entregarei e ambos dançaremos... cada um com o seu tempo...cada um com sua história, amor e glória...cada um sabendo que cada lágrima do outro é uma dádiva de raiva e um nó que cada vez mais faz de nós o tempo...o tempo que flui...
Como não rir ? Como não olhar o espelho sem que as lágrimas que imagino em ti, em mim me façam ter a certeza de que o tempo flui?
As time goes by..... "
JR... “as time goes by...” - in “Folhas Soltas” – 03.Nov.99
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
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