21/09/04

"REQUIEM LUSITANO"

Sempre a mesma vertigem. Sempre o mesmo vómito. Insustentável, inevitável. Apesar de não se darem conta disso, não deixo de gostar de vós, ó paisagem humana a brincar ao poder e às coisas sérias! Mas já não me seduzem muito, por tudo o que causam e arrastam. Estamos finalmente saldados. E eu, esgotado até para o silêncio. A vossa inutilidade como fonte de inspiração, a minha inapetência como forma de impotência. Originalidade no ser humano? A vida de quem arrisca tudo todos os dias. E, pontificadamente, a morte de cada um! Em frente, marche!
Moral turva, ó Alberto De Tão Pouca Pimenta? Gostaria de te oferecer quota de dez por cento da minha alma e alguns hectares dos seus arredores.
Disseram-me um dia que não se pode querer nada. Mas querer nada é já ter tudo. Além disso, nasci umbilical até aos píncaros mais profundos da essência do que me constitui! Quis sempre, e apenas, bater palmas. Fosseis vós um grande espectáculo... Fosse a palhaçada politicamente correcta! Ah! tédio a ranger-me nos dentes, com raiva mastigada e salivada a paciência.
“Entre dos tierras estas”? Fraco! Ó heróes del silencio! Vá lá um gajo comprar música ibérica. Resistir, conho... Inventar muito e sempre, até à exaustão. Repetir a ladainha interna da sobrevivência para complementar a mecânica biológica. Não é isso acordar todos os dias? Descobrir propósitos, passear ideias, arrancar emoções do vazio, musicar os sonhos a preto e branco, ludibriar destinos e catapultar futuros. Amar à ganância e duma maneira egoísta. Esmifrar, com toda a vida possível, a “coisa suprema”, para que a morte não se ria de nós.
O que fazes longe da pátria Saramago? Dói-te o mesmo que doeu ao Jorge de Sena? Duvido. E porque raio não sabes para onde o mundo vai? Esclerose de visionário? E, já agora, o que é isso de encontrar o outro? Não há outro: só há Eu a pensar o outro! Deixamos de os pensar num instante e desaparecem no momento seguinte.
Quando era criança, tinha o terrível hábito de destruir tudo o que não gostava. Criteriosamente selectivo no entanto. Agora, na impossibilidade de ser Rei, gostaria de ser inimputável. Compreenda Sr. Dr. Juiz: duvido que alguma vez entendesse os meus motivos reais - simultaneamente de realidade e realeza, quando já tivesse perpetrado (adoro este palavrão) tudo aquilo que me ocorre fazer de impulso intuitivo, para repor a ordem pura, estética e límpida das coisas. A democracia é uma merda. Um justiceiro já não se pode divertir.
Ser um clandestino cultural no meu próprio país, incomodou-te, não foi, ó Vergílio Ferreira? Descansa em paz, que eu também não!
Estou saturado de tantos recados inconsequentes. Nunca fui adepto daquela treta do ditado: para bom entendedor... Porra! Táctica própria de quem não sabe discursar ou se refugia atrás da ausência de sujeito. Não senhor! Bojarda com pés e cabeça, tem de ser devidamente endereçada, e, se possível, enviada com aviso de recepção.
Lisboa foi linda no ano da graça do Senhor de 1994. Tivemos moscatel a rodos e foi um laréu rodopiante. Não concordas companheiro Lud? Já teria bastado toda a vida, só por essas refrescantes futilidades, como cocktails no deserto do tempo.
Ao que a Esquerda chegou em Portugal, com os seus épicos Manueis a fabricarem hinos para bola. Pois é, meus senhores, vós criais e clonais os carneiros e depois ficais indignados pelo uso e abuso que os capitalistas lhes dão. Seria mais coerente incitar à lobotomia alargada e colectiva. Todo este processo, depois da morte do comunismo, é um despautério social, possivelmente criado com sofisma.
E vocês, geração rasca-do-erro-ortográfico, tropeçando gramatical e matematicamente em bué de “naices” coisas novas. Tordos engasgados com coca-cola, regurgitando mac-donalds e vibrando com a mais reles taralhouquice que se inventa quotidianamente, com o intuito meramente comercial. Futurologia? Se criasse um hino à estupidez humana, uns sonetos à grunhice social e umas odes à pequenez desalmada, ainda seria moderno daqui a quinhentos anos. Mais vale criar um ultimatum a todas as gerações futuras, com o pseudónimo de Vetérrimo de Buéréré.
E para terminar; perguntam-me, o que quero eu? Eventualmente, que você, caro leitor, nem sequer existisse, para eu não ter o raio desta função – que também não sei bem qual seja. Adiante. E como não sou de rancores, mais ainda, sendo eu um fervoroso adepto da coexistência pacífica, tenho apenas a declarar: bem-hajam todos, sim, que todos merecem!

# posted by elmano @ 9/20/2004 05:23:56 PM, in SULturas

(os bolds são da minha inteira responsabilidade...amok)


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

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