29/09/04

...o nosso amor é tão bonito!


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

«Cântico Negro
José Régio

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
(...)
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

# posted by elmano @ 9/26/2004 07:24:59 PM, in SULturas
»


...não!, não vou por aí...pago o bilhete, mas...não vou por aí!!!

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28/09/04

Os próximos "visionamentos"...;-)

I

BATALHA DE ARROZ NUM RINGUE PARA DOIS


MIGUEL FALABELLA E CLAUDIA RAIA EM LISBOA Uma hilariante comédia onde Claudia Raia e Miguel Falabella emprestam seus talentos num encontro de amigos e actores num espectáculo que assegura ao espectador deliciosos momentos de entretenimento.




Escrita em 1984, no auge da corrente denominada teatro-besteirol, Batalha de Arroz num Ringue para Dois de Mauro Rasi é uma comédia hilariante sobre as agruras da vida a dois. Um casal emblemático, Nélio e Angela atravessam quatro fases no conturbado casamento:

Bodas do Ciúme

Bodas da Egolatria

Bodas da Supressão

Bodas da Paixão
.

Nesses quatro movimentos (perfeitamente de acordo com a dramartugia do teatro-besteirol, essencialmente um teatro de esquetes) Mauro Rasi, com seu diálogo ágil e certeiro devassa a intimidade do casal expondo, sempre sob a óptica da comédia, o nervo central desta relação.

Claudia Raia e Miguel Falabella emprestam seus talentos para os personagens de Rasi, num encontro de amigos e atores afinados com o gênero.

Batalha de Arroz num Ringue para Dois é um espetáculo que assegura ao espectador deliciosos momentos de entretenimento, com doses maciças da verve do saudoso dramarturgo Mauro Rasi, falecido no ano de 2003.

Batalha de Arroz num Ringue para Dois" tem um belíssimo cenário e um bom figurino. Esses dois elementos enriquecem a peça. Mas, desaparecem frente à atuação de Miguel Falabella e Cláudia Raia


II

O Evangelho Segundo Jesus Cristo


Baseando-se no capítulo "Manhã de Nevoeiro" do livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" do Nobel português José Saramago, a peça traz a Lisboa os actores brasileiros Thiago Lacerda (na pele de Jesus) e Maria Fernanda Cândido (Maria Madalena), que os portugueses viram na telenovela Terra Nostra. De 14 de Setembro a 10 de Outubro no Teatro São Luiz. "Manhã de Nevoeiro" relata o encontro de Jesus com Deus e o Diabo, durante o qual se gera uma discussão sobre o limiar entre o bem e o mal. Diferentes pensamentos religiosos e a crença num destino são outros dos temas apresentados em palco.
Na altura da sua publicação, em 1992, o livro de Saramago gerou polémica e chegou mesmo a ser afastado de uma candidatura a um prémio literário por o então subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, o considerar um atentado à moral cristã.
PUBLICO.PT



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27/09/04

«O CÉREBRO INFANTIL ESTÁ A MUDAR?»

Formatados
Por O CÉREBRO INFANTIL ESTÁ A MUDAR?
Domingo, 26 de Setembro de 2004, in Público

Clara Viana

Foi à entrada do 3º ano, a antiga terceira classe, que na aula do João várias crianças passaram a ter o seu novo rótulo. Em 22 miúdos, seis, segundo a professora, teriam problemas - ou de défice de atenção com hiperactividade, ou de dislexia, ou estavam a entrar na nebulosa das dificuldades de aprendizagem. Os pais procuram então ajuda médica e quase sempre acabam com uma receita na mão, a de uma anfetamina. Mas um estudo científico veio lançar nova luz sobre o assunto, apontando mesmo para um nova etapa na história da civilização.

As nossas irrequietas e alegadamente muito desatentas crias poderão afinal, ao serem assim, estar em processo de adaptação ao novo mundo em que vivemos onde quase tudo é muito e muito rápido.

A hipótese desta "formatação" - implicando alterações cerebrais, no que respeita aos modos como a informação é processada e recebida - tem vindo a ser relançada nos Estados Unidos da América (EUA), e não só, desde que, em Abril passado, foi dada como testada uma relação entre a exposição precoce à televisão e os problemas de atenção que, nos últimos anos, parecem estar a tomar de assalto as crianças e jovens do mundo desenvolvido.

"Não é possível saber se o crescimento da desordem por défice de atenção e hiperactividade é real, ou se é motivado pelo maior conhecimento da desordem. Mas existem razões para acreditar que, na primeira infância, os factores ambientais são importantes no desenvolvimento da desordem. Deste modo, a televisão pode muito bem ser um desses factores", comentou à Pública o pediatra norte-americano Dimitri Christakis. Foi ele que liderou o estudo do Child Health Institut, da Universidade de Washington, que veio dar uma primeira grande resposta afirmativa à questão, abanando assim a abordagem genética do chamado défice de atenção, ainda a preponderante nos EUA, em Portugal ou em mais meio mundo.

Sendo "a mais comum desordem de comportamento na infância" e "apesar de décadas de investigação", o que para Christakis e a sua equipa continua a ser inquietante é que "surpreendentemente se saiba tão pouco sobre as suas causas". Um desconhecimento que é em grande parte justificado, segundo eles, pela explicação genética para aquele problema. A abordagem genética apoia-se em vários estudos, já com alguns anos, que dão conta da grande hereditariedade da perturbação e de um grau de incidência semelhante - 3 a 5 por cento de crianças em idade escolar, maioritariamente rapazes - em vários países e culturas.

Esta abordagem acabou por instalar "um sentimento de inevitabilidade ou imutabilidade" do problema. O que tem contribuído também, segundo eles, para a sub-avaliação do "papel potencialmente crucial que o vivido na primeira infância poderá ter, tanto no desenvolvimento como na modelação dos problemas da atenção". Foi por isso que decidiram olhar para o que rodeia a criança e, motivados por outras investigações, testar se a simples exposição à televisão, em idades muito precoces, estaria ou não associada ao surgimento de distúrbios da atenção por volta dos sete anos, idade em que o défice começa geralmente a ser encarado como problema.

É por esta altura que muitos pais iniciam, também em Portugal, o que revelará ser uma via sacra. Os neuropediatras Pedro Cabral e Luís Borges, o psiquiatra da infância e adolescência Emílio Salgueiro e a psicóloga clínica, Dulce Gonçalves, que trabalha em dificuldades na aprendizagem, representam, até pela sua formação, abordagens diversas do problema, mas todos eles concordam que a maioria procura auxílio devido a "queixas da escola": mau rendimento escolar do filho, sua impossibilidade de "estar quieto" ou incapacidade de estabelecer boas relações com outros, ou tudo junto. Numa palavra, o filho, na escola, tornou-se um elemento "perturbador". Ou é assim descrito, o que pode não ser a mesma coisa. Um dos problemas dos rótulos em moda é o de poderem esconder outras perturbações - medos, manias, ansiedade ou até mesmo intrínsecas dificuldades cognitivas.

Outro traço comum aos especialistas que ouvimos sobre esta matéria é a incomunicabilidade entre as diferentes abordagens - a mesma incomunicabilidade que já psicanalistas e neurologistas conheceram há cem anos atrás.

"Precisávamos mais que os professores nos descrevessem em pormenor as dificuldades e que não pusessem rótulos. É que o rótulo do défice de atenção é quase uma profecia realizada. Trata-se do chamado efeito de Rosenthal ou de Pigmaleão", aquele que nos diz que as expectativas que os professores criam no início em relação ao aluno acabam por influenciar o desempenho escolar deste, sublinha Dulce Gonçalves.

Nos EUA onde, para "compensar" o défice de atenção, quase cinco milhões de crianças estão a ser medicadas com comprimidos da família das anfetaminas, que curiosamente também são aqueles que os acalmam, Cristakis e a sua equipa pegaram numa amostra de mais de duas mil crianças com um e três anos de idade e seguiram-nas até por volta dos sete. O que foi feito do seguinte modo: quando os miúdos tinham um ano perguntaram aos seus pais quantas horas viam eles televisão; fizeram o mesmo quando chegaram aos três anos e depois, quando já tinham sete, as questões aos pais incidiram sobre a capacidade de atenção dos observados, sobre a capacidade para se concentrarem, sobre se eram impulsivos ou se se distraíam facilmente. Para além destes questionários foram levadas em linha de conta variáveis como a depressão materna, a estimulação cognitiva e o apoio emocional, entre outras.

Principal conclusão do seu estudo, publicado na revista "Pediatrics": independentemente do que vê - os conteúdos não foram tidos em conta - uma criança antes dos três anos que veja duas horas de televisão por dia tem mais 20 por cento de probabilidades de desenvolver problemas de atenção do que outra que não tenha sido tão exposta à mesma televisão.

Sendo que, como também revela a sua investigação, nos EUA uma criança de um ano vê, em média, 2,2 horas de televisão por dia e uma de três chega quase às quatro horas. Em Portugal, esta contagem só tem sido feita a partir dos 4 anos. No ano passado, os que tinham entre esta idade e os 14 anos, despendiam a ver televisão uma média de 179 minutos por dia - quase três horas.

Christakis explica o que se poderá estar a passar: "Nos primeiros três anos de vida está em curso um desenvolvimento crucial do cérebro, especificamente as conexões entre neurónios. Aquilo a que chamamos sinapses do cérebro estão a formar-se. É uma espécie de montagem da mente que está a ocorrer naquele período. Sabemos, por estudos feitos em ratos muito jovens, que se os expusermos a diferentes níveis de estimulação visual nos primeiros tempos de vida, obteremos diferenças na arquitectura dos seus cérebros de acordo com o grau de estimulação visual que sofreram".

Frente à televisão, geralmente a sós, as crianças estarão a ser sujeitas precisamente a uma sobre-estimulação visual, dada sobretudo a velocidade com que se sucedem as imagens e a sua diversidade, que é hoje a própria matéria dos media electrónicos . Esta exposição aos écrãs - que começa na televisão e se prolonga depois nos jogos de computador, "game boy", internet, etc. - poderá ter já "condicionado o cérebro a um alto nível de estimulação", como sublinha o pediatra norte-americano

Um pouco por todo o mundo ocidental, as queixas são as mesmas: os pequenos estudantes têm hoje períodos de atenção mais curtos, são menos capazes de raciocínio analítico, de exprimirem ideias verbalmente e de resolverem problemas complexos.

A psicóloga educacional Jane Healy, que há mais de 10 anos tem vindo a alertar para os efeitos do uso excessivo dos media electrónicos na mente das crianças, admite que este processo induziu já alterações no funcionamento do cérebro: "Temos que aceitar e capitalizar o facto de as crianças de hoje serem portadoras de novas competências apropriadas a este novo século. A mudança que constatamos nas nossas crianças pode ser a parte visível de uma mudança na inteligência humana, traduzida numa progressão para formas de pensar mais imediatas, visuais e tridimensionais".

A ser assim, e é esta uma porta também aberta pelo estudo liderado por Christakis, o estado de desatenção em que hoje vivem tantas crianças e jovens seria, não o sintoma de uma doença, mas sim uma marca geracional, ou até mesmo civilizacional. O que tornaria insuperável o fosso já existente entre eles e o sistema de ensino prevalecente nas nossas sociedades. As escolas mais não estariam hoje do que a exigir-lhes o que eles já perderam, ignorando o que entretanto ganharam.

Mal ou bem, na turma do João, dois dos seis meninos com problemas ficaram retidos no 3º ano. O Bernardo, um deles, quase passava despercebido: "ausente", era rara a vez que conseguia acabar o trabalho que lhe era proposto. O João, que passou de ano, tinha problemas desde a infantil. De língua solta, irrequieto, dado talvez como hiperactivo pela professora, estava já a experimentar uma bica por dia, a terapêutica que antecede a tomada de comprimidos. Quase um "ás" em computadores, mas sempre distraído, perdendo todos os dias alguma coisa, esquecendo o que sabia ontem.

Um ano depois, o seu diagnóstico continua indefinido. Talvez um pouco hiperactivo, desatento, mas aparentemente com rendimento escolar. Sem grandes problemas relacionais. Qual é, então, o "seu caso"? Um neuropediatra e dois psicólogos depois, esta é a pergunta que continua a perseguir a mãe e talvez, por extensão, o seu próprio filho.

"Existem competências que estão a ser hiperestimuladas e não podemos esperar que sejam as outras que triunfem. Seria quase como se estivéssemos a trabalhar a musculatura da pernas para desenvolver os braços", sublinha Dulce Gonçalves, acrescentando: "Muitos deste miúdos têm uma óptima atenção dispersa, que é a mais estimulada hoje em dia, mas não têm uma boa atenção focalizada".

Serão tendencialmente mais receptivos a tudo o que os rodeia do que nós fomos, podendo estar assim mais aptos a lidar com a enorme quantidade de mensagens que inundam o quotidiano. Têm também, por exemplo, uma "enorme coordenação visual-motora, como o demonstra a sua perícia em instrumentos quase impraticáveis para os adultos, como são os game boy".

Mas podem ser quase incapazes de concluir uma tarefa que exija concentração e tempo, como muitas das que a escola lhes pede. Um desafio: "Estando nós a preparar crianças para uma sociedade multimedia, onde a informação cresce todos os dias, mais importante do que dar atenção é escolher aquilo a que vou dar atenção. Este é um aspecto que estamos a descurar. Devíamos associar cada vez mais a atenção à escolha".

A bola está ainda em grande parte no campo dos adultos: "Não podemos rotulá-los de patológicos por serem diferentes do que fomos ou por estarem a desassossegar o ambiente que os rodeia", alerta a psicóloga.

Também o psiquiatra e psicanalista Emílio Salgueiro "protesta violentamente" contra a abordagem predominante dos problemas da atenção como constituindo uma doença. "Seja uma crise societária, um momento evolutivo, mas por amor de Deus não olhem para as crianças como se estas fossem doentes, porque são pouquíssimas as que o estão, entre os milhões que não se conseguem concentrar". "Não conhecemos nenhuma doença genética que atinja a incidência desta", sustenta.

"A maior parte deles nem duas páginas seguidas consegue ler", diz dos seus alunos do quarto ano uma professora primária. Ao fim de ainda não duas décadas de ensino, deu por ela a só pensar na reforma, por já não saber mais o que fazer destas vagas sucessivas de crianças irrequietas, desatentas e irreverentes - a irreverência é outra das suas marcas.

Para o Vasco, que está no oitavo ano, o que a professora diz ser incapacidade é motivo de orgulho: "Eu não leio. Só quando sou obrigado pela escola. E mesmo assim..."

É ás neurociências que se atribui a explicação genética para os défices de atenção, sejam eles acompanhados, ou não, de hiperactividade. Em Portugal não existem estatísticas sobre o número de crianças que apresentam aquele sintoma, nem se sabe o número das que estão ser seguidas nas consultas de desenvolvimento existentes em vários hospitais. Assim, e segundo diz o neuropediatra Luís Borges, "No que respeita à incidência por cá, limitámo-nos a extrapolar as estatísticas a que se chegou a em outros países europeus: as desordens da atenção atingirão entre três a cinco por cento da população escolar, qualquer coisa entre 35 mil a 50 mil crianças, uma população que se pensa estar a aumentar", admite o neuropediatra.

"Embora exista um fundamento genético - diz- penso que o problema está mais no meio-ambiente que rodeia a criança". Ou seja, apesar de "geneticamente determinada" - como provariam os estudos que, por exemplo, dão conta de que estes distúrbios são cinco vezes mais frequentes em crianças que tenham um dos pais com a mesma desordem - o ambiente em que a criança vive pode ser o catalizador para o aparecimento do défice de atenção.

"O cérebro das crianças não está preparado para todos os estímulos que agora as rodeiam", diz, apontando como exemplo os muitos bebés quase recém-nascidos que acompanham os pais nas suas frequentes idas aos muito barulhentos e super-iluminados centro comerciais, muitas vezes já noite dentro.

O também neuropediatra Pedro Cabral, do Hospital São Francisco e Xavier, não tem dúvidas quanto à base genética da desatenção, que estaria comprovada, sublinha, em 80 por cento dos casos. O que não é certo, segundo refere, é que haja um "aumento real" do número de casos. Simplesmente o problema "passou a ter mais visibilidade", em grande parte devido ao mero facto de existir muito mais gente nas escolas. Impõem-se ritmos desadequados - 90 minutos por aula - e apresentam-se os mesmos objectivos - entrar na faculdade. O resultado traduz-se num insucesso escolar crescente, sobretudo entre as crianças com problemas de atenção. "Por outro lado, a sociedade está mais desorganziada, os miúdos mais entregues a si próprios, e tudo isto pode tornar mais visível o problema", acrescenta.

Mas Pedro Cabral encontra também na sociedade actual as condições ideias para o desenvolvimento destas desordens. "Transmitem-se sobretudo sinais muito efémeros, que se desvanecem rapidamente. A leitura de histórias foi substituída pela televisão, por histórias rápidas, muitas vezes quase em história", e que "não são de molde a criar conexões": "Para que as coisas fiquem nossas é preciso tempo", e é preciso também "um sentido para que prestemos atenção e mantenhamos a memória de trabalho", que é aquela que nos permite, por exemplo, lembrar hoje o que sabíamos ontem. Só que, tempo e sentido para as coisas são dimensões que, precisamente, não abundam nos nossos dias.

Emílio Salgueiro prefere falar de "evitamento" da atenção em vez de desatenção, porque vê o fenómeno como um processo dinâmico. "Não é não ter atenção como se esta fosse uma qualidade quantitativa, mas sim uma componente de um processo mais geral de evitamento" de que faz parte o que se designou por hiperactividde e a que Salgueiro chama o "evitar estar quieto". Para que exista atenção, são necessárias duas componentes: o interesse da criança e que esta se sinta segura. Quando isto não acontece, concretiza-se o movimento de evitamento e a concomitante dispersão da atenção.

A atenção é o que permite o aprofundamento, o estabelecimento do elo com alguma coisa ou alguém. Na ausência dela, tudo tende a ser superficial - o conhecimento e as relações com os outros. Segundo Emílio Salgueiro é deste modo que vivem imparavelmente muitas das nossas crianças . "Houve estruturas mentais que se deveriam ter formado neles e não se formaram", caso das que permitem o "pensamento mais complexo ou a capacidade de abstracção". Resultados do que chama a "sociedade acelerada" em que vivemos, também sobrepovoada de adultos em correria permanente, e ao que se diz, e sentimos, em perda acelerada de memória.

Há já bastantes anos nos EUA, e mais recentemente em Portugal e noutros países da Europa, passaram a medicar-se com um fármaco da família das anfetaminas - a Ritalin - as crianças que têm o que agora se chama por cá Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção. Em Portugal, o seu consumo aumentou mais de 100 por cento em apenas três anos e a tendência é para continuar a crescer.

Os seus defensores, como Pedro Cabral ou Luís Borges, insistem que o fármaco devolve às crianças as capacidades - maior performance da atenção e acalmia - exigidas por um regime não escolhido por elas, e onde só conseguem falhar, com o inevitável custo em sofrimento e auto-estima.

"É uma maldade não os ajudar com os instrumentos que temos à mão", frisa Pedro Cabral.

Ele e Luís Borges admitem, contudo, que o recurso crescente à medicação é também cada vez mais uma resposta à maior pressão por parte dos pais, por sua vez pressionados pelos professores. "Temo que possamos estar a tratar em demasiado. A tratar os sintomas sem ir às causas . Isso acabará por obrigar a uma reflexão", admite Luís Borges. Para Emílio Salgueiro e Dulce Gonçalves, tratar como uma doença este novo universo infantil é "um abuso". "Chama-se doença ao que é diferente, pacificam-se as crianças", que assim deixam de incomodar, sem que no entanto se consiga pôr a funcionar bem o que nelas está em falta, sublinha o psiquiatra.

Criamos as condições adversas e depois desresponsabilizamo-nos. É também para isto que Christakis chama a atenção: a culpar alguém pelo défice de atenção, os culpados não seriam os pais nem o ambiente que estamos a oferecer às crianças, mas sim a genética - um acidente imprevisível.

É precisamente tal abordagem que é posta em causa pelo estudo do Child Health Institut. Para já, a questão foi reenviada para a comunidade que todos constituimos. Mesmo existindo uma componente genética, começa a ser claro que algo no ambiente leva à irrupção da desatenção. E se as nossas crias são já por causa disso estruturalmente diferentes de nós, fará ainda sentido insistir na medicação? Com que objectivos?



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26/09/04

Nem muito cinismo, nem muita virtude...I

««««««Sobretudo, não acredite nos seus amigos, quando lhe pedirem que seja sincero para com eles. Esperam somente que os mantenha na boa ideia que fazem de si próprios, fornecendo-lhes uma certeza suplementar que extrairão da sua promessa de sinceridade. Como é que a sinceridade poderá ser uma condição da amizade? O gosto da verdade a todo o custo é uma paixão que nada poupa e a que nada resiste. É um vício, por vezes um conforto, ou um egoísmo. Se, pois, se encontra neste caso, não hesite: prometa ser verdadeiro e minta o melhor que puder. Corresponderá ao profundo desejo deles e provar-lhes-á duplamente a sua afeição.
Tanto isto é verdade que raramente nos abrimos com os que são melhores do que nós. Evitaríamos de preferência o seu convívio. A maior parte das vezes, pelo contrário, confessamo-nos aos que se parecem connosco e que partilham das nossas fraquezas. Não desejamos, pois, corrigir-nos, nem tornar-nos melhores: seria preciso, antes de tudo, que fôssemos considerados fracos. Desejamos apenas ser lastimados e encorajados no nosso caminho. Em suma, desejaríamos, ao mesmo tempo, deixar de ser culpados e não fazer esforços para nos purificarmos. Nem muito cinismo, nem muita virtude. Nem para o mal, nem para o bem temos energia. Conhece Dante? De verdade? Diabo. Sabe, então, que Dante admite anjos neutros na querela entre Deus e Satã. E coloca-os no Limbo, uma espécie de vestíbulo do Inferno. Nós estamos no vestíbulo, caro amigo.

in A Queda, Albert Camus, in SILÊNCIO
««««««

»»»»»»(...)"Dentro de mim talvez seja romântica, mas a ideia de romantismo mudou, agora que estou nos 30. Não é ser cínica. O romantismo é que se misturou com a realidade, com a amizade. Ou seja, romantismo, cinismo e realismo". "É isso mesmo", remata Linklater. "Somos romântico-realistas".(...)««««

A Última Valsa em Paris de Ethan Hawke e Julie Delpy - Festival de Berlim

Nove anos depois, eles encontram-se em Paris


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...e eu, verdadeiramente horrorizada, constato que estou a aprender a "arte" do cinismo a uma velocidade estonteante...







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25/09/04

Mais uma americanice, mas...


«(...)
Apesar de Steven Spielberg não ser propriamente um cineasta político, a decisão de situar a acção do seu filme num aeroporto americano não é inocente. Nos tempos de desconfiança que varrem a América e o mundo ocidental, este local é o palco ideal para lançar algumas reflexões. À priori, um aeroporto é sempre um sítio onde qualquer viajante se sente pequeno ou até inseguro e serve também para ilustrar na perfeição o verdadeiro melting pot que é a América e a forma como a frieza das fronteiras e as manobras de segurança dificultam que dele se tire melhor partido.
Como quase sempre acontece nas obras de Spielberg, o objectivo último deste ''Terminal de Aeroporto'' é pôr o público a sonhar, a emocionar-se e a sorrir. ''Este é um tempo em que precisamos de rir e é para isso que servem os filmes de Hollywood, para fazer rir as pessoas que vivem tempos difíceis'', disse o realizador."

Diana Cabral




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24/09/04

Adriana Partimpim




"Fico assim sem você

Avião sem asa, fogueira sem brasa
Sou eu assim sem você
Futebol sem bola,
Piu-Piu sem Frajola
Sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
vão poder falar por mim


Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
Sou eu assim sem você
Circo sem palhaço,
Namoro sem abraço
Sou eu assim sem você

Tô louco pra te ver chegar
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas
Pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Sou eu assim sem você
Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu assim sem você

Por que é que tem que ser assim
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
vão poder falar por mim


Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo

Por quê?"


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW


Uma verdade...em muitos e variados sentidos...

«As pessoas que não fazem barulho são perigosas»

Jean de La Fontaine
França
[1621-1695]
Escritor, autor


...por essas e outras, prefiro os intempestivos...os (supostamente) menos doces...os inábeis da expressão afectiva, mas...afectivos!...que os deuses me livrem dos silenciosos!


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23/09/04

"Hey, that's no way to say goodbye"


Leonard Cohen fez 70 anos, 21 Setembro...


Songs Of Leonard Cohen -- 1968



I loved you in the morning
Our kisses deep and warm
Your hair upon the pillow
Like a sleepy golden storm
Many loved before us
I know that we are not new
In city and in forest
They smiled like me and you
But now it's come to distances
And both of us must try
Your eyes are soft with sorrow
Hey, that's no way to say goodbye

I'm not looking for another
As I wander in my time
Walk me to the corner
Our steps will always rhyme
You know my love goes with you
As your love stays with me
It's just the way it changes
Like the shoreline and the sea
But let's not talk of love or chains
And things we can't untie
Your eyes are soft with sorrow
Hey, that's no way to say goodbye

I loved you in the morning
Our kisses deep and warm
Your hair upon the pillow
Like a sleepy golden storm
Yes many loved before us
I know that we are not new
In city and in forest
They smiled like me and you
But let's not talk of love or chains
And things we can't untie
Your eyes are soft with sorrow
Hey, that's no way to say goodbye







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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

Eu gosto de (con)viver com as pessoas...

...gosto!, gosto de as ver, de as ouvir, de as sentir, de as cheirar, de as silenciar...gosto de as esquecer para depois as rememorar...porque nunca se esquece ninguém!...quem se esquece nunca (nos) existiu...eu gosto das pessoas, gosto de as conhecer, gosto do "trabalho" que isso me dá, gosto do entusiasmo que isso me provoca, gosto da emoção de as perceber...

...também gosto de imaginar pessoas!...gosto do imaginário correndo à desfilada pela minha alma...gosto de inventar pessoas!...mas com essas não (con)vivo!...a essas não há sentido que lhes chegue...e, se somos pessoas, usamos os sentidos, né!?;-)

...não esperem que eu ame imaginários!...eu só sei amar...pessoas!... E, como diria o 'elmano' lá prós lados do SULturas:
«E, já agora, o que é isso de encontrar o outro? Não há outro: só há Eu a pensar o outro! Deixamos de os pensar num instante e desaparecem no momento seguinte.»





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22/09/04

E lá voltamos nós à saga dos profs desgraçadinhos!!!

...quem os ouve falar, aos profs, eles são os mais desgraçados trabalhadores deste país!, os mais mal pagos, os mais maltratados!!!...pelo Estado, pelos pais/EE e, pior dos piores, pelos alunos, quais energúmenos a que eles, tadinhos dos profs, não têm a mínima possibilidade de escapar, indefesos que estão enjaulados dentro de quatro paredes com semelhantes monstros! ...escapando uns pouquíssimos "bons alunos"! ...que são os que já vêm ensinados de casa pelo que apenas se lhes - aos profs - exige a certificação da papinha já feita por pais/EE, ou explicadores a quem se paga, a hora, a peso de ouro.

...vem esta lenga-lenga a propósito de mais uma das reuniões de EE com DT do início do ano escolar...e com ela - a primeira reunião - voltam os lamentos, este ano ainda mais "lancinantes" e os avisos. Os lamentos pelo caos em que o Ministério se transformou com a colocação dos desgraçados, como se aquele Ministério não tivesse sido, sempre, um caos...e, depois, os avisos para que os EE se desloquem com frequência à escola...para quê?, pergunto eu!...e para quê, respondo eu: para emprestarem o "ombro amigo" ao DT quando ele precisa fazer queixinhas do aluno que não se portou como devia, dentro da escola!, e nada lhe sucedeu, claro, porque o energúmeno ainda podia virar-se ao prof!...devo referir que não estou a inventar nada!, ah e também não estou a referir-me a nenhuma escola de nenhum bairo de risco!:->...porque será que, o mesmo EE do mesmo aluno, numa reunião do colégio privado não ouve o mesmo tipo de "conversa"!?:->... não seria melhor os profs adequarem os seus discursos aos EE/alunos que têm pela frente; ou, no caso de estarem realmente a querer referir-se a algum caso mais "bicudo", não o generalizarem à turma toda!?!?...é que, realmente, haveria tanta coisa que se poderia fazer em conjunto por forma a motivar os alunos desmotivados por tanto caos e tanta falta de coerência dentro duma instituição que, se não existe para "educar os filhos dos outros", deveria existir para, além de instruir, participar na melhor formação possível dos cidadãos do futuro...enfim...

...pois, como todos os anos, cada DT tem as suas saidas menos airosas que se vão repetindo ao longo do ano e, quase sempre, fundamentadas pela convicção dos profs de que os EE não "pescam" nada do que se cozinha dentro das escolas, em particular nos Conselhos Pedagógicos e nas direcçôes escolares...não é em vão que as Associações de Pais são tão mal vistas dentro da escola...quando não é possível serem manipuladas pelos profs!:->...ora, este ano começamos "bem"!, deixando de lado o tal caos da colocação dos profs que ainda ninguém sabe como e quando vai acabar, temos um belíssimo horário em perspectiva!...confesso que nestes anos todos de estudo (meus e de 2 filhos!), por mais esburacado que fosse o horário, nunca vi um com uma cratera como esta!... assim o global do horário tem as aulas a começarem às 8h e alguns dias com aulas de tarde quase logo a seguir ao almoço, no máximo com uma hora de furo, mas...e eis que chegamos à 6ªfª(!) que vai das 8h às 13 e picos e depois...das 17,45h às 18,30h!...e não estou a falar de ensino secundário, entenda-se!!!

...quando levanto a questão do horário recebo como resposta que "sim senhora, tinha toda a razão!, mas...não havia outra forma de fazer o horário!...os coitados dos profs bem se "esmifraram", mas nem profs, nem salas de aula!, não havia outra alternativa!!"...isto acompanhado dumas "boquinhas" para serem entendidas nas entrelinhas por forma a cortar rente qualquer ideia que outro EE tivesse de insistir no assunto e para rematar - e aqui lá vem a tal saida airosa!:-> - "pois, as coisas estão de tal forma que os profs só têm as 5ªsfªs às 8h para se reunirem para tratar dos assuntos de interesse dos "meninos" - refira-se que "esta" 5ªfª é o único dia em que os ditos "meninos" não entram às 8h...claro!:-> - mas, então porque raio não se reunem, os profs, às 6ªsfªs das 17h às 18h, caramba!???!

...é claro que sai da reunião com o firme propósito de voltar a "enfiar o menino" no privado!!!

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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

21/09/04

"REQUIEM LUSITANO"

Sempre a mesma vertigem. Sempre o mesmo vómito. Insustentável, inevitável. Apesar de não se darem conta disso, não deixo de gostar de vós, ó paisagem humana a brincar ao poder e às coisas sérias! Mas já não me seduzem muito, por tudo o que causam e arrastam. Estamos finalmente saldados. E eu, esgotado até para o silêncio. A vossa inutilidade como fonte de inspiração, a minha inapetência como forma de impotência. Originalidade no ser humano? A vida de quem arrisca tudo todos os dias. E, pontificadamente, a morte de cada um! Em frente, marche!
Moral turva, ó Alberto De Tão Pouca Pimenta? Gostaria de te oferecer quota de dez por cento da minha alma e alguns hectares dos seus arredores.
Disseram-me um dia que não se pode querer nada. Mas querer nada é já ter tudo. Além disso, nasci umbilical até aos píncaros mais profundos da essência do que me constitui! Quis sempre, e apenas, bater palmas. Fosseis vós um grande espectáculo... Fosse a palhaçada politicamente correcta! Ah! tédio a ranger-me nos dentes, com raiva mastigada e salivada a paciência.
“Entre dos tierras estas”? Fraco! Ó heróes del silencio! Vá lá um gajo comprar música ibérica. Resistir, conho... Inventar muito e sempre, até à exaustão. Repetir a ladainha interna da sobrevivência para complementar a mecânica biológica. Não é isso acordar todos os dias? Descobrir propósitos, passear ideias, arrancar emoções do vazio, musicar os sonhos a preto e branco, ludibriar destinos e catapultar futuros. Amar à ganância e duma maneira egoísta. Esmifrar, com toda a vida possível, a “coisa suprema”, para que a morte não se ria de nós.
O que fazes longe da pátria Saramago? Dói-te o mesmo que doeu ao Jorge de Sena? Duvido. E porque raio não sabes para onde o mundo vai? Esclerose de visionário? E, já agora, o que é isso de encontrar o outro? Não há outro: só há Eu a pensar o outro! Deixamos de os pensar num instante e desaparecem no momento seguinte.
Quando era criança, tinha o terrível hábito de destruir tudo o que não gostava. Criteriosamente selectivo no entanto. Agora, na impossibilidade de ser Rei, gostaria de ser inimputável. Compreenda Sr. Dr. Juiz: duvido que alguma vez entendesse os meus motivos reais - simultaneamente de realidade e realeza, quando já tivesse perpetrado (adoro este palavrão) tudo aquilo que me ocorre fazer de impulso intuitivo, para repor a ordem pura, estética e límpida das coisas. A democracia é uma merda. Um justiceiro já não se pode divertir.
Ser um clandestino cultural no meu próprio país, incomodou-te, não foi, ó Vergílio Ferreira? Descansa em paz, que eu também não!
Estou saturado de tantos recados inconsequentes. Nunca fui adepto daquela treta do ditado: para bom entendedor... Porra! Táctica própria de quem não sabe discursar ou se refugia atrás da ausência de sujeito. Não senhor! Bojarda com pés e cabeça, tem de ser devidamente endereçada, e, se possível, enviada com aviso de recepção.
Lisboa foi linda no ano da graça do Senhor de 1994. Tivemos moscatel a rodos e foi um laréu rodopiante. Não concordas companheiro Lud? Já teria bastado toda a vida, só por essas refrescantes futilidades, como cocktails no deserto do tempo.
Ao que a Esquerda chegou em Portugal, com os seus épicos Manueis a fabricarem hinos para bola. Pois é, meus senhores, vós criais e clonais os carneiros e depois ficais indignados pelo uso e abuso que os capitalistas lhes dão. Seria mais coerente incitar à lobotomia alargada e colectiva. Todo este processo, depois da morte do comunismo, é um despautério social, possivelmente criado com sofisma.
E vocês, geração rasca-do-erro-ortográfico, tropeçando gramatical e matematicamente em bué de “naices” coisas novas. Tordos engasgados com coca-cola, regurgitando mac-donalds e vibrando com a mais reles taralhouquice que se inventa quotidianamente, com o intuito meramente comercial. Futurologia? Se criasse um hino à estupidez humana, uns sonetos à grunhice social e umas odes à pequenez desalmada, ainda seria moderno daqui a quinhentos anos. Mais vale criar um ultimatum a todas as gerações futuras, com o pseudónimo de Vetérrimo de Buéréré.
E para terminar; perguntam-me, o que quero eu? Eventualmente, que você, caro leitor, nem sequer existisse, para eu não ter o raio desta função – que também não sei bem qual seja. Adiante. E como não sou de rancores, mais ainda, sendo eu um fervoroso adepto da coexistência pacífica, tenho apenas a declarar: bem-hajam todos, sim, que todos merecem!

# posted by elmano @ 9/20/2004 05:23:56 PM, in SULturas

(os bolds são da minha inteira responsabilidade...amok)


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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

19/09/04



How to make a amok
Ingredients:

3 parts success

3 parts self-sufficiency

5 parts leadership
Method:
Stir together in a glass tumbler with a salted rim. Top it off with a sprinkle of sadness and enjoy!


Username:


Personality cocktail
From Go-Quiz.com



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POEMA


o tempo não sabe nada

o tempo não sabe nada

o tempo não tem razão

o tempo nunca existiu

é da nossa invenção



se abandonarmos as horas para nos sentirmos sós

meu amor o tempo somos nós



o espaço tem o volume

da imaginação

além do nosso horizonte

existe outra dimensão



o espaço foi construído sem princípio nem fim

meu amor tu cabes dentro de mim



o meu tesouro és tu

eternamente tu

não há passos divergentes para quem se quer encontrar



a nossa história começa

na total escuridão

onde o mistério ultrapassa

a nossa compreensão



a nossa história é o esforço para alcançar a luz

meu amor o impossível seduz



o meu tesouro és tu

eternamente tu

não há passos divergentes para quem se quer encontrar

Jorge Palma




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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

Há coisas que só se devia fazer no seu tempo certo...

...sob pena de, ao serem feitas fora do (seu) tempo, saberem a...desilusão! A "Madame" foi uma desilusão...não completa por circunstâncias acessórias, só por isso.



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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

18/09/04

18.09.2004...

Entre nós e as palavras brotou o rio tumultuoso do silêncio...feito de dúvida e insegurança. Vejo esse rio avolumar-se cada dia que passa mais que o anterior e pergunto-me: como chegámos aqui? Como se chega aqui?

Tanto tempo passado!...mas, se ele não nos serve para olhar "o outro" com a limpidez que ao amor se deve, de que nos servem as palavras? Entre nós e as palavras já pouco mais nos resta que não seja os corpos que nos empurram para memórias que ainda nos unem...iremos continuar a envenenar-nos de memórias?

Tenho saudades das palavras, mas...a minha garganta secou. Tenho saudades, mas também tenho esperança que ainda poderemos encontrar um elixir qualquer que nos devolva a frescura das palavras...Entre nós e as palavras corre, ainda, um mundo de sentimentos, emoções e paixões, mas de tal modo sufocado que o meu medo é um dia acordarmos e apenas nos restar o cemitério do nosso amor...onde iremos, em dias festivos, deixar as flores que não soubemos cheirar em vida, para rememorar o que não soubemos salvaguardar ...

Entre nós e as palavras...fico eu impotente e infeliz, sem saber como te dar os parabéns...por tudo o que já me deste!...e um dia, quem sabe, talvez te deixe estas palavras... quando os silêncios já nem se sentirem... , Magritte


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Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?,WW

17/09/04

«Oh yes, the world will always welcome lovers. As time goes by»

"Acordei com um contentamento tão estranho que, de imediato, me lembrei de ti. Mecanicamente, desatei a rir e a declamar parte da Balada da Neve e a recriá-la no que me contaste. Não, não a parte em que levemente batem, pois nem sequer é um chamamento. E bem que poderia ser...mas, não é. Passo os olhos pelo espelho e pergunto-me do porquê daquele riso. Rir-me-ia assim contigo aqui? Rir-me-ia contigo (que não de ti)? Quanto mais penso nisso, mais me rio e me contagio a mim mesmo com o riso do sorriso que em ti diviso.
Eu rio-me! E tu, espantas-te! Espantas-te pelo ridículo do riso e acabas também à gargalhada, apesar de ambos sabermos que debaixo da carapaça o coração goteja e que não vai ser fácil deixá-lo à solta sem que uma nova unha o não ponha de novo a arfar e assustado.
Irei como um cavalo louco!... (apetecia-me rever...). Despejo, do meu imaginário, o tambor do “colt” e também me apetecia ser um dos cavalos que se abatem, esgotado, a escorar-me num corpo que se me oferece cúmplice, que me atrai e que se me devolve cada vez mais alucinante e estrangulador.
Re-olho o espelho. O riso continua lá. Mas os olhos (que não mentem, mesmo quando tentam fugir), esses, fazem-me cantar uma outra melodia

You must remember this
A kiss is still a kiss
A sigh is just a sigh
The fundamental things apply
As time goes by


Mas...como é bom suspirar, flutuar e deixar os pés sem o peso do beijo... à maneira que o tempo flui. E eu, ali dependurado, a olhar os pés sem saberem o que fazer e a rir-me uma vez mais.
Riso ! Riso ! Riso! A minha maneira de esconjurar acaba sempre no riso. Afinal, quem tem coragem de interromper um riso? Um choro interrompe-se! Uma mão no ombro, uma mão na mão, uns olhos nos olhos, e o choro desfaz-se, desmorona-se e sentimo-nos invadidos no nosso super eu. Mas, um riso? Como se interrompe um riso? Como? Como nos poderemos intrometer no riso de alguém? O riso é algo de privado, não se partilha e é egoísta e solitário, não se deixa domar. Por isso desato em riso: para poder ter o meu tempo, o tempo que eu sei que ninguém consegue interromper.

And when two lovers woo
They still say “I love you”
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by


Sonho... Sonho? Desencontros...
Volto quase trinta anos atrás e à minha frente passam palavras como que num oráculo apreendido e escondido. Escondido dos olhos do riso, dos olhos do choro, no fundo de uma gaveta...

“Paris, le 3 Octobre 1972

Mon petit adoré

Je sais que tu ne leras pas cette lettre. Je l’écris à tout hasard, on ne sait jamais!
Je me suis recriéé ici, le monde des vacances avec “ton” galet, ton corail, tes photos merveilleuses.
(...)
Tu me manques beaucoup chaton chéri et je suis triste à mourrir. J’attends une lettre longue et tendre, une lettre qui ne finnit pas comme les journeés avec toi sur la plage.
Prouve-moi que “cela ne fait que commencer”.
Je t’embrasse follement

M(...) “

E.. o tempo ? O tempo....o tempo flui..flui...flui até que deixa de ser tempo para passar a ser verdade...para passar a ser uma eternidade que nos esmaga e liberta das justificações do momento...do tempo...do que perdemos e do que ganhamos...da vida...

Moonlight and love songs
Never out of date
Hearts full of passion
Jealousy and hate
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny

Tão simples... tão simples como olharmos um para o outro e vermos um estranho apoderar-se de nós. Apoderar-se da nossa vontade, do nosso desejo, da nossa inércia que era suposta ser inércia e acaba em revolta agitada, do nosso espaço que partilhamos e que acaba devassado, irremediável e definitivamente espezinhado como uva em fins de Setembro. Não, não me queixo do que deixei espezinhar... Queixo-me do que esses pés não conseguiram aprender enquanto espezinhavam. É só (?) disso que me queixo!!!.... Porque, afinal ... , eu continuo a amar esses pés!

It’s still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die!
The world will always welcome lovers
As time goes by


Descanso... Finalmente, descanso! Nos teus braços me entregarei e ambos dançaremos... cada um com o seu tempo...cada um com sua história, amor e glória...cada um sabendo que cada lágrima do outro é uma dádiva de raiva e um nó que cada vez mais faz de nós o tempo...o tempo que flui...

Como não rir ? Como não olhar o espelho sem que as lágrimas que imagino em ti, em mim me façam ter a certeza de que o tempo flui?

As time goes by..... "

JR... “as time goes by...” - in “Folhas Soltas” – 03.Nov.99




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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

Começo a sentir-me espreitada...

...é claro que as visitas me agradam e mais, trazem o raiozinho de sol que ajuda a iluminar caminhos, nem sempre suaves...uma luzinha ao fundo do túnel é sempre animador, no mínimo...mas, sentir-me "observada" em silêncio sempre me fez cócegas...e ao vivo faz-me corar, estupidamente!,até à raiz dos cabelos...

...não entendo!, não entendo!, não entendo!!!...e também, nem sei se quero entender!?!...tem de ser assim?, porquê?

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16/09/04

Guardando (boas) memórias...II

...este foi outro que me fez voar, perdida nos impossíveis...

tinta crua

TCA 2004


hoje escrevo eu por ti.
é minha a liberdade que não tens!
vou rasgar o papel e mostrar a fúria
a revolta sem resignação.
posso até revelar a ternura
e essa estúpida e ridícula honra
que defendes com tanta paixão.
hoje sou eu que mando aqui
nestas folhas que ora rasgas
ora transformas em luxúria.
vou revelar os teus segredos
esses que escondes nos riscos
ilusoriamente suaves e doces.
vou falar de medo e de loucura
e do passado que te assombra.
porque hoje sou eu e livre aqui
na palma indefesa da tua mão
vou é calar o medo que senti
quando inventaste tamanha cor
com a alma em carne viva
e um resto negro de carvão.
TCA 2004, in Abstracto Concreto



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Guardando (boas) memórias...I

...num misto de saudade e desejo de posse...

«raizes: as garras da vida


o que não me deixa cair
não é força física nem fé
mas há algo que me ampara
que me ajuda a resistir
e ser como as árvores
que morrem, sim, mas de pé
TCA», in Abstracto Concreto




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...os cantinhos únicos...

...apesar de não gostar (nada!) de citar Nietzsche descontextualizado...enfim, este pedacinho diz-me algo...


"O nosso novo «infinito». — Até aonde vai o carácter perspectivo da existência? possui ela mesmo outro carácter? uma existência sem explicação, sem «razão» não se torna precisamente uma «irrizão»? e, por outro lado, não é qualquer existência essencialmente «explicativa»? é isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito do homem, no decurso destas análises, não se pode impedir de se ver conforme a sua própria perspectiva e só pode ver de acordo com ela. Só podemos ver com os nossos olhos; é uma curiosidade sem esperança de êxito procurar saber que outras espécies de intelecto e de perspectivas podem existir; ( ) Espero contudo que estejamos hoje longe da ridícula pretensão de decretar que o nosso cantinho é o único de onde se tem o direito de possuir uma perspectiva. Muito pelo contrário o mundo, para nós, voltou a tornar-se infinito, no sentido em que não lhe podemos recusar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações.


(Gaia Ciência, Livro V, § 374)", in blog experimental



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15/09/04

"Play it again, Sam..."

...não!, não era "essa"!!!

...nem tão pouco esta...


...era o momento q antecedia este...

...ou será q a minha memória está a pregar-me partidas?...tenho uma ideia duma cena em q Sam toca, a pedido de Rick...e "ela"


...aparece e ouve...sem q eles a vejam logo...



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13/09/04

Pronto, Vasco...toma lá o desfraldar da bandeira branca...;-)





...gostaria de ter aquela em q Sam está ao piano, mas...;-)
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12/09/04

É espantoso...

.

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Parafraseando já não sei quem...II

Conversas de gajas e gajos...

- Ana, queres ir à ópera?
Euuuuu??? Eu não!, gosto lá de ópera...ainda se fossemos fazer um programinha, com a malta toda, no Hacienda...;-)
- Maria, queres ir à ópera?
À quê???? Ópera q ópera???
-Mulher, ópera!!!...ver a "Madame Buterfly"!
Ver quem??? Isso é aquela da "My Fair Lady"???
-Ai, o caraças! Qual myfairlady, qual carapuça!!!
- Raquel, queres ir à ópera?
Não! Quero ir ver o Cats!
- Ok, esse vamos depois...vou contigo se fores à ópera!?!
É pá, tu sabes que não aprecio ópera, faz-me sono!
- Caraças, Raquel, duvido que adormecesses com o Puccini...
Pois, mas prefiro ir ver o Cats...
- Tó, queres ir à ópera?
Rica, e se fossemos nós a fazer a ópera?;-)
- Parvo!, estou a falar a sério!
Eu também, querida...;-)
- Carlos, queres ir à ópera?
O quê?, tu ñ me digas q arranjaste bilhetes para a Madona?????...conseguiste, conseguiste???:-))))))
- Mafalda, queres ir à ópera?
É pá, eu até ia, nunca assisti a nenhuma, ainda mais ao vivo...tu sabes q eu adoro ir a essas coisas, uma pessoa parece q sai de lá com a alma lavada...lembras-te do Rui Veloso no CCB, pois...adorei!...mas, sabes?, este mês estou nas lonas!, depois da multa da falta da inspecção, de que ainda mal me recompus, levei outra hj por falta do cinto...ai a minha vida!, a minha vida é um melodrama!!!:-(((
-Ok...vamos, pró mês q vem, ver o Caetano Veloso!;-)
....
Amor, eu posso ir contigo à ópera!!!:-)
- Caraças!, e eu quero lá q alguém vá comigo à ópera!...quero q alguém vá à ópera, simplesmente, pela ópera!
'Tá bem, mas eu vou contigo...à ópera pela ópera... e prometo ouvir com atenção! ;-)
- Como se fosses capaz disso...ñ, ñ quero sacrifícios desses, até pq depois me sairia mt caro...


...raios parta a tanta ignorância junta....grrrrr



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"Acham que o Séneca era um filho da p.uta?"

«Sêneca não foi aquele sujeito que disse que os homens são iguais (contra a escravidão), os males são devidos às paixões humanas (ambição, crueldade, sede de glória, etc) e o papel do soberano é o de encarnar a sabedoria realizando a ordem?,
decasttro
***
Mesmo que o tivesse sido, que o seja ainda agora ao conhecermo-lo, e assim continue a ser no futuro perante todos os 'connoiseurs', não é notável que seja dos f.d.p. que a história reza!? De resto, não foi caso único, o seu condiscípulo Nero seguiu-lhe de perto as peugadas. Admirável é a sucessão que se sucede sem cessar das civilizações, umas seguidas de outras, onde só os f.d.p. deixam as marcas imerredoiras da diferença irredimível entre ser-se besta ou bestial. O mundo político está nos antípodas de todo o jornalismo dos eventos diários, da totalidade dos blogs sofridos da população culta 'en miettes', dos telejornais, religiões, maçonarias e 'wishful thinkings' das almas gentis. A política singra na pura estética da acção possível no concerto das multidões, de molde a outorgar ao homem o máximo da liberdade, segundo o seu poder. Com Séneca e com todos os f.d.p. havemos de explorar e colonizar todo o espaço entre as estrelas.
Sic Itur Ad Astra !, vbm»


...gosto desta (última) visão da humanidade...onde todos são bestas com excepção dum, o que escreve que todos são bestas, menos um...o bestial!!!:->

...em resumo: há que ser filho(a) da puta para se merecer um lugar na história...seja ela qual for!?!...e que aos outros fique reservada a chafurdice das bestas...:->


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Ah, caro Vasco... és teimoso, mesmo, heinnnn!?!:->

(...irás desculpar-me, mas achei melhor não continuar a fazer dos comentários do teu blog uma extensão dos fóruns...assim com'assim este blog já é um bom depósito de patetices...pelo que podemos continuar nessa onda...:->)

Compreender, ou não compreender, alguém não passa tanto por psicologismos, nem tão pouco por julgamentos de carácter, ou juizos de valor. Repara que estou a dizer compreender alguém!... é que compreender pressupõe, desde logo, desejo de aceitar esse alguém, ora ninguém aceita o que não entende, né!?...eu, pelo menos, tenho sérias dificuldades em aceitar o que não entendo, por isso sou tão "questionadora"!;-)

Dado que não tenho bases, nenhumas, do foro da psicologia e menos ainda me pretendo juiza do meu semelhante, pouco mais me resta senão interpretar pelos meios que tenho ao alcance e aqui pouco mais nos resta que interpretar leituras. Ora quando refiro "o que leio de ti" para basear a minha "incompreensão de ti" não estou, nem me passa pela ideia, ajuizar-te ou, sequer, avaliar-te...é tão só isto mesmo: não entendo!...não entendo a incongruência da tua postura em relação a determinado assunto e só nesse!...e se outros assuntos suscitam em mim incompreensão, aí manda a minha lucidez identificar essa incompreensão à luz da minha ignorância. Ora, nesses casos, nunca me viste "discutir" contigo, pois não?

É claro que, de há muito, interpretei essas incongruências e manifestos de injustiça como sendo resultado dos afectos que só a ti dizem respeito. Por mais que a tua teimosia seja irritante por insistires em que te sejam aceites essas posturas, quando mais lógico seria "calar o assunto e cada um ficar na sua", mas não!, queres apesar de tudo que te reconheçam a razão, a ti!, e aos outros seja reconhecida a inverdade e a injustiça. É contra isso que me bato e não contra ti, ou contra os teus afectos. Bato-me pelo direito de reconheceres aos outros - e, agora, em especial a mim! - o direito de estar a ver algo que tu não estás...por opção, ou incapacidade, é contigo! Se eu aceito o teu direito a defenderes o que para mim é indefensável, reconhece-me, ao menos, o direito de eu não reconhecer essa tua verdade...porque a não entendo!

E repara que, aqui, de nada (me) serve o conhecer (no sentido literal/físico) as pessoas. Ou para poder formar ideias sobre as mesmas teria que, não só lhes ler as palavras, mas também lhes ouvir os sons, lhes ver os olhares, lhes "espiar" os gestos. Ora, isso não é possível, nem me interessa, assim só por si...Da mesma forma que algo nos faz dar atenção a certas pessoas que nos passam pela frente e a outras não, também aqui só damos atenção ao que nos cativa a atenção/interesse. E se, aqui, o que temos é a escrita, como não formar ideias com base nessa escrita? Como não interpretar o autor pelo que escreve? Como imaginar alguém honesto, quando as palavras destilam má-fé, velhacaria, sacanice, cretinice, pulhice, e muita, mas mesmo muita, paranóia!? E se isso é feito e refeito e tornado a fazer...queres que eu dê o benefício da dúvida de que, quem assim escreve, é uma pessoa integra, para lá dessa escrita? Desculpa, mas...com psicologismos, ou não, a escrita por mais que se invente transmite sempre algo do seu autor...pela positiva, ou pela negativa!, é assim a modos como um espelho...é preciso, depois, é saber "ler"...e olha que eu, nos bons anos que levo destas leituras...pouco me tenho enganado quando passo ao olhos-nos-olhos!:->

É por tudo isto que eu preferia que não insistisses em me fazer ver uma verdade que é só tua...É por isso que eu lamento não conseguir concentrar a minha disponibilidade na tentativa de te entender, já que insistes em me desconcentrar...:->


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11/09/04


"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

NÃO SOLTAR OS CAVALOS
Como em tudo, no escrever também tenho uma espécie de receio de ir longe demais. Que será isso? Por que? Retenho-me, como se retivesse as rédeas de um cavalo que pudesse galopar e me levar Deus sabe onde. Eu me guardo. Por que e para quê? Para o que estou eu me poupando? Eu já tive clara consciência disso quando uma vez escrevi: "é preciso não ter medo de criar". Por que o medo? Medo de conhecer os limites de minha capacidade? Ou medo do aprendiz de feiticeiro que não sabia como parar? Quem sabe, assim como uma mulher que se guarda intocada para dar-se um dia ao amor, talvez eu queira morrer toda inteira para que Deus me tenha toda.

in "Para não esquecer" - 5ª ed. - Siciliano - São Paulo, 1992



MENTIR, PENSAR

O pior de mentir é que cria falsa verdade. (Não, não é tão óbvio como parece, não é truísmo; sei que estou dizendo uma coisa e que apenas não sei dizê-la do modo certo, aliás, o que me irrita é que tudo tem de ser "do modo certo", imposição muito limitadora.) O que é mesmo que eu estava tentando pensar? Talvez isso: se a mentira fosse apenas a negação da verdade, então este seria um dos modos (negativos) de dizer a verdade. Mas a mentira pior é a mentira "criadora". (Não há dúvida: pensar me irrita, pois antes de começar a pensar eu sabia muito bem o que eu sabia.)

in "Para não esquecer" - 5ª ed. - Siciliano - São Paulo, 1992





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Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?,WW