10/03/04

Abaixo o dia da mulher! Viva a luta pela humanidade...

Uma Luta Que Vem de Longe
Por BÁRBARA WONG
Segunda-feira, 08 de Março de 2004, in Público

Ao contrário do que muitos pensam, o feminismo não nasceu com as sufragistas, que lutaram pelo direito ao voto, no fim do século XIX; nem com as manifestantes da década de 60, caricaturadas nas queimas de "soutiens". O feminismo surgiu muito antes, com indivíduos, homens e mulheres que lutaram pela igualdade de oportunidades, no século XVIII.
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Quanto às fundadoras do feminismo, contemporâneas da Revolução Francesa, a sua luta não é contra os homens, mas contra a sociedade patriarcal, contra a democracia que não assenta na igualdade entre os dois géneros.

Todas elas estiveram ligadas ao movimento operário. De um modo geral, eram mulheres do povo, trabalhadoras, e algumas morreram pela causa - como Olympe de Gouges, que entrega na comuna de Paris, em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e é guilhotinada na sequência da defesa desses mesmos direitos.
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Por que se batem as mulheres?

O dia de hoje é comemorado porque em 1859, em Chicago, na luta pela redução do horário de trabalho para dez horas, mais de uma centena de operárias foram mortas pela entidade patronal. No século XIX, as mulheres lutam pelo direito ao sufrágio. Na década de 60, discute-se a conquista do espaço público. E hoje, por que se batem as mulheres? Continua a fazer sentido falar em feminismo?

Sem dúvida, respondem as autoras de "Vozes Insubmissas" e também Alfreda Cruz e Manuela Carvalho, que escreveram "Mulheres em Movimento - O Feminismo no Questionamento Actual", editado pela Ela por Ela e que é hoje lançado, em Lisboa.

"Não podemos esquecer que práticas mencionadas no Antigo Testamento continuam a existir em determinadas zonas da Terra, como mulheres serem apedrejadas até à morte. Por cá, a igualdade está longe de ser um dado adquirido", afirma Isabel do Carmo.

Actualmente, as mulheres portuguesas lutam pela paridade de direitos e deveres dos dois géneros, dizem Lígia Amâncio, Manuela Carvalho e Alfreda Cruz.

"Não deve haver uma sobreposição de um género sobre o outro", aponta Alfreda Cruz, que constata que existem cada vez mais homens que pensam o feminismo, porque "perceberam que esta é uma causa da humanidade". Uma causa que não pode continuar escondida, menosprezada, mas que tem de ser discutida e também estudada. Lígia Amâncio lamenta que os manuais escolares negligenciem este tema. "Vivemos efeitos perversos do défice de feminismo", conclui.

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