29/03/04

"Tu a quem não digo..."

Tu, a quem não digo que acordado

fico à noite a chorar;

tu, cujo ser me faz cansado

como um berço a embalar;

tu, que me não dizes quando velas

por amor de mim;

diz-me: - Se pudéssemos aguentar

sem a acalmar

a pompa deste amor até ao fim?



Ora olha os amantes e o que eles sentem:

mal vêm as confissões,

quão breve mentem!



Só tu me fazes só. Só tu posso trocar.

Um momento és bem tu, depois é o sussurar

ou um perfume sem traços.

Ai! a todas eu perdi entre os meus braços!

Só tu em mim renasces, sempre e a toda a hora:

Por nunca te abraçar é que te tenho agora.

RAINER MARIA RILKE


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