31/03/04

...ainda sobre Rui Knopfli...

"Ex cathedra ab abrubto"

«Eis que, chegado aqui, me resta o que resta...

Dois anos intensamente passados na Net, deram-me a oportunidade de discutir (discutir=troca de pontos de vista), de aprender (e apreender!) e de, acima de tudo, testar a humanidade do opinar.

Deste último, do testar a humanidade do opinar, e ressalvando na memória a força e oportunidade dos que passei a amar pelo que têm para partilhar e ensinar, levo, infelizmente, uma sensação de vazio. Levo esta sensação mas compreendo (porque disso dependia a "função") o receio com que a generalidade das pessoas se deparam ao terem que opinar por escrito:sentem-se definitivas, como se o amanhã lhes viesse pedir contas pela opinião que entretando terá deixado de estar conforme ao que o tempo dita.

Mas... eu digo ao que venho ! Calma!!
Nesta minha ÙLTIMA "conversa", "lição", "exaltação do absurdo", "opinião" ou "etc." (cada um fará o favor de se "sentar" na cadeira que lhe seja mais conveniente...), vou ser mais exigente e não pactuar com a facilidade de raciocínio de "clube do porreirismo".

A pretexto da homenagem que a Raquel aqui deixou expressa a Rui Knopfli, afirmei eu:
"O Rui Knopfli foi uma merda de poeta!!!".

Não cabe aqui saber, ou discutir sequer, se a Raquel "aceitou" o argumento pelo simples facto de não se dispôr a contra-argumentar, ou se o fez por o achar verdadeiro (o que não creio...).

Também não caberá, por deslocada, suscitar a discussão sobre se a técnica do versejar livre de Knopfli atinge a quadratura do círculo ("É o poema que faz o verso livre, e não o verso livre que faz o poema", diz Henri Meschonnic), ou se, pelo contrário, peca pela imperfeição na construção pelo excesso, entre outros, do recurso a cavalgamentos (teoriza Gustave Kahn: "a inversão e o cavalgamento são recursos que devem ser banidos do verso").

O que caberia aqui discutir, era: Quantos tiveram a curiosidade de saber QUEM FOI, O QUE FEZ e O QUE ESCREVEU Rui Knopfli?

E, desses quantos, o porquê?
Pela homenagem sincera e sentida da Raquel ?
Ou pela afirmação pura e simples de que "O Rui Knopfli foi uma merda de poeta!!!" ?

De "vampiros" de finados anda o mundo cheio e nada custa ser "solidário" perante a morte de uma qualquer pessoa: é "politica e socialmente correcto".
Enfim... modas a que não aderi.

E "advogados" e "diabos" há-os por tudo o que é sítio...E "aprendizes de feiticeiro" também os vai havendo, que a época é propícia...

É por demais evidente que as afirmações "merda de poeta", "não tem nada a dar" ou ainda "perde no peso da confrontação", só a mim vinculam, por muito que o uso de "nos faça" (resultante de "deformação" educacional) traga alguns engulhos compreensíveis a quem pretenda pôr a àrvore a tapar a floresta...(e aqui estava tentado a teclar ;-))) no final da frase para suavizar, mas sei que tal não é necessário).

Quanto ao "os que viveram a alma poeta", aí o caso muda de figura e é um "bico d'obra" tentar explicar... Enfim, coisas que a Esfinge e o Esquadro aconselham a recatar mas que eu, pobre Espírito, traduziria por "prosadores".
Porque, (e agora penitencio-me por não explicar...) a prosa é a forma suprema de poesia depois de esta se ter libertado das formas primárias da versificação.

E para rematar: "O Rui Knopfli foi uma merda de poeta!!!", mais não passa de um grito de revolta pelo que poderia ter sido.
Santayana dizia que o mundo é feito de essências: a forma de quanto é, quanto foi, quanto será e de quanto nunca será.

E a poesia de Knopfli foi "o que nunca será", isto é, como as flores nascidas para florescerem invisíveis e perderem a sua doçura no ar do deserto dos nossos sentidos mortais, ela, a poesia que não chegou à perfeição da prosa, só é acessível à eterna comtemplação.

In memoria aeterna erit justus.»


JR , 03/Jul/98
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NOTA da autora do blogue: este texto resultou da resposta a um outro texto, colocado num fórum, e que pretendia fazer uma homenagem a Rui Knopfli, por altura da sua morte:1998.

"Discussão"


- Desconfio que a democracia não resulta. Juntam-se astronautas, bodes,
camponeses, galinhas, matemáticos e virgens loucas e dão-se a todos os
mesmos direitos.
Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.

Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo mesmo, e ainda
com conversa fiada como brinde, isso sabia eu. Que mo viessem dizer,
era outra coisa.
Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos.
Acho um snobismo.

- Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. - Tenho amigos no exílio,
todos democráticos.
Foram para lá por serem democráticos. É um sacrifício que poucos fazem,
ir para o exílio e ser professor universitário exilado e democrático.
Eras capaz de fazer isso ?

- Não sou democrático.

Não havia resposta a dar. nenhuma. Ele não era democrático, não
sabia de democracia.

Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me afirmaram que
lá é que é a democracia.

Recusaram-me o visto no passaporte, disseram que eu era comunista!
Viram isto ?



Mário Henrique Leiria
Contos do Gin-Tonic


30/03/04

"Amigo"

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarca

Nem sei q título lhe dar...:->



«Não é preciso ter dinheiro para ter educação, nem é necessário ter estudos para se ter ideias próprias. Não, essa desculpa é apenas o pretexto dos preguiçosos para se acomodarem a viver na m.erda que tanto criticam.
E também falo por experiênia própria, com conhecimento de causa, se digo que as dificuldades viidas pelos pais não são justificação para a falta de educação dos filhos. Se há alguma miséria aqui em causa, é apenas a pobreza de espírito.»

...esta tem o selo da "Raquel(zinha)" ...no fórum do Sapo...
******
PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra


Mário Cesariny - Nobilíssima Visão (1945-1946), in burlescas, teóricas e sentimentais (1972)

29/03/04

"Tu a quem não digo..."

Tu, a quem não digo que acordado

fico à noite a chorar;

tu, cujo ser me faz cansado

como um berço a embalar;

tu, que me não dizes quando velas

por amor de mim;

diz-me: - Se pudéssemos aguentar

sem a acalmar

a pompa deste amor até ao fim?



Ora olha os amantes e o que eles sentem:

mal vêm as confissões,

quão breve mentem!



Só tu me fazes só. Só tu posso trocar.

Um momento és bem tu, depois é o sussurar

ou um perfume sem traços.

Ai! a todas eu perdi entre os meus braços!

Só tu em mim renasces, sempre e a toda a hora:

Por nunca te abraçar é que te tenho agora.

RAINER MARIA RILKE


...uma pequena "homenagem", a ti...Vasco!;-)

A Liberdade

E um orador disse:


- Fala-nos da Liberdade.


E ele respondeu:


- Às portas da cidade,

e nos vossos lares,

dei convosco prostrados

em adoração

da vossa própria liberdade,



Como escravos que se humilham

diante dum tirano

e que o glorificam

enquanto ele os destrói.



Sim, no bosque do templo

e na sombra da cidadela

vi os mais livres que vós

usar a sua liberdade

como jugo e como algemas.



Meu coração sangrou dentro de mim;

pois não sabereis ser livres

senão quando o próprio desejo

de chegar à liberdade

se tornar para vós um arnês

e quando deixardes de falar da liberdade

como dum fim e duma conclusão.



Sereis livres de facto

não quando os vossos dias

decorrerem sem cuidados

e as vossas noites sem desejos

e sem fadigas,



Mas antes quando todas estas coisas

cercarem a vossa vida

e vos elevardes acima delas,

nus e libertos.



Mas como podereis estar acima

de vossos dias e vossas noites,

se não quebrardes as cadeias

que na alvorada do vosso uso da razão

fizeste pesar

sobre a vossa hora do meio dia?



De facto, o que chamais liberdade

é a mais forte destas cadeias,

ainda que os seus anéis

vos deslumbrem brilhando ao sol.



E tudo o que quereis afastar

para ficardes livres,

que é, senão fragmentos de vós mesmos?



Se é uma lei injusta que quereis abolir,

tal lei foi escrita pela vossa mão

na própria testa.



Não podereis apagá-la

queimando os vossos livros de leis

nem lavando as frontes dos vossos juízes,

ainda que entorneis todo o mar

em cima deles.



E se é um déspota

que quereis destronar,

vede, antes de mais, se o seu trono em vós

está bem destruído.



Porque, como pode um tirano

dominar os livres e altivos,

se não houver tirania

na liberdade deles

e vergonha na sua própria altivez?



E se é a inquietação que quereis expulsar,

tal inquietação foi escolhida por vós

e não tanto imposta de fora.



E se quereis dissipar o medo,

a sede desse medo é o vosso coração

e não a mão que vos assusta.



De facto, todas as coisas se movem

no mais íntimo do vosso ser

num constante semi-abraço,

tanto as desejadas como as temidas,

as repugnantes e as tentadoras,

as que procurais

como aquelas de que fugis.



Tais coisas movem-se dentro de vós

como luzes e sombras

em pares estreitamente unidos.



E quando a sombra

se debilita e desaparece,

a luz que demora,

torna-se sombra duma outra luz.



E assim a vossa liberdade,

desembaraçada de estorvos,

torna-se ela própria embaraço

duma liberdade maior.

Khalil Gibran nasceu em Becharre, no Líbano, em 1883 e faleceu em Nova Iorque em 1931. O seu corpo, levado para o Líbano, repousa na cripta do Mosteiro de Mar Sarkis, em Becharre.

, DI CAVALCANTI

«(...)Nada a fazer, há que fingir que é fingimento a não existência da dor, nada a fazer, mais nada a fazer.(...)»
disakala

***
Ciumento, Terno



Ciumento, terno, inquieto,

como um sol divino amava.

Matou-se o pássaro branco,

porque ao passado cantava.



Entrava ao poente em meu quarto:

"Ama-me e ri, escreve versos!"

Enterrei o alegre pássaro

além da fonte, ao pé do tronco antigo.



Prometi-lhe não chorar.

Tenho em pedra o coração.

E é como se em toda a parte

ouvisse a doce canção.


Ana Akhmátova...
...pseudónimo de Ana Andreievna Gorenki nasceu nos arredores de Odessa em 1889 e faleceu nos arredores de Moscovo em 1966

27/03/04

Algumas questões sobre...os amores...

...recordando uma velha discussão do Sapo...;-)

«Mas...renunciar ao prazer(físico) não transforma, necessáriamente, o amor...em amizade. (pq essa do amor-amizade...é o quê???)

Depois...essa renúncia é-o, quase sempre, força de circunstâncias...opções momentâneas...formas de lutar pela sobrevivência...preservação duma certa sanidade mental...

No entanto é uma renúncia q exige muito dos amantes... raramente se sobrevive a ela. E as promessas de renúncia tb raramente são cumpridas...

MaiTai

******

qual é o limite da dor?...quando é que se põe um ponto final no que nos dilacera e nos lança neste estado de quase esquizofrenia?

lac

*****

Como se sobrevive? Recorrendo à ilusão de q o tempo td apaga...ou a evasões mais ou menos anestesiantes...ou vivendo, definitivamente, até o afim...esse tal amor.
Acho q alguns amores impossíveis acabam por se transformar em eternos precisamente pela falta de concretização...e a fuga a essa concretização...o refúgio no ´"só espiritual" é, por vezes, uma (vã) tentativa de eternizar um amor...impossível!?...sei lá!, ainda ando em busca de respostas...

Qt a amores sublimes...acho q só conheço um: o de mãe!, mas até esse pode ser posto em causa...

E qt a limites de dor...e como colocar pontos finais...o tempo e nós mesmos acabamos por encontrar sempre as nossas próprias respostas...no devido momento. Nem sempre as melhores, nem sempre as mais adequadas, mas o se humano tem recursos infindáveis para fazer face à dor...talvez seja por isso q, todos os anos, temos sempre uma Primavera a seguir a um Inverno...na vida tb.!

MaiTai»

******

A contabilidade da vida..

A vida devia ser como uma empresa com contabilidade organizada. Deviamos elaborar relatórios mensais, balanços trimestrais e apresentação de contas anuais. Talvez assim não ficassemos agarrados, nos últimos momentos da nossa vida (ou, pelo menos, sempre que achamos que esses momentos estão a chegar), a fazer o filme andar para trás...

Recordando Rui Knopfli...

*

Naturalidade

Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
européias
e europeu me chamam.

Não sei se o que escrevo tem raiz a raiz de algum
pensamento europeu.
É provável ... Não. É certo,
mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão
de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada,
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.


Chamais-me europeu? Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.

21/03/04

"Sem que duma falácia se faça um apogeu"

«...Dá-me uma mentira, desde que seja verdade. Por todas as falácias ouvidas, e algumas desejadas, nem por isso sentidas, ou confirmadas. Por todos os desejados, sem possuír, e possuídos sem desejar. Por todos os apogeus imaginados.»

demim

Nesta minha casa entra toda a gente, mas...

...fica quem eu quero!

E tu, Raquel, não tens qualquer direito para cá permanecer... porque eu não gosto de ti!, tão simples como isto!

Nesta minha casa entra toda a gente, mas...fica quem eu quero!... entendes? Duvido!, mas mesmo assim aqui fica o recado.

Isto não é um fórum! Eu não sou tua amiga! Nem te conheço, sequer! Nem me interessa conhecer pessoas que fazem das suas patologias armas de arremesso contra "o outro"! Não me interessam as tuas dores; não me interessa se precisas de ajuda; não me interessa, sequer, se tentas suicidar-te, ou não, tantas vezes quantas sejam possíveis ao longo duma vida...vazia e sem sentido!, mas...a culpa não é minha. Desta culpa estou inocente!

Também não me interessa a tua opinião sobre a minha pessoa! Já bastas vezes to afirmei: a mim, só me toca quem eu deixo!...porque quero. De ti não me chega nada, a não ser que deves ser alguém com problemas graves, mas...pelos quais não consegui, nem consigo, interessar-me...de todo! Por isso, vais ver todas as tuas mensagens, aqui colocadas, apagadas! Porque... nesta minha casa entra toda a gente, mas só fica quem eu quero! Deixarei, no entanto, todas as mensagens que eu considere terem como intenção participar em qualquer discussão; ou manifestar alguma ideia; ou partilhar qualquer coisa...fora disso apagarei todas!

Agora...a escolha é tua!

18/03/04

«Necramor»

Egon Schiele, Embrace
I


Meu amor, verdadeiro apenas o mal dito,
Desde sempre impossível, sempre preterido,
Meu amor verdadeiro, em penas e maldito,
Desde sempre possível, sempre preferido.

Do veludo das rosas teremos espinhos,
Do espinho da rosa o veludo do sangue,
Quero-te sem que saibas, inalo-te em vinhos,
Sugo-te no cigarro : tombarás exangue!

Derradeira esperança, que da vida farta,
Capitules nos braços da morte, nos meus,
E que então eu te abrace, te estreite, te parta,
Homem em ti me finde e ressuscite deus!

A morte não separa, dir-te-ei que une,
Se não te tenho em vida quero-te na morte,
Que o teu corpo gelado aos terrores imune
Possa enfim me acolher como digno consorte.

Mas que nuvem te tolda? Fere-te a visão?
Pois bem, amor jamais meu, acaso observaste
A mulher excitada, o homem com tesão?
Duas mortes tentando, que isso te baste,
Preencher seus vazios com uma ilusão.

Meu amor é mais puro, mais digno e mais nobre,
Da morte que vivemos nada espero já,
Na morte que morremos não mais serei pobre,
Comigo levarei, qual um louco rajá,
Amor que nunca tive, amor que tudo encobre.

Não sabes que te amo e que não posso amar-te,
Não me amas nem sabes, nem sonhas sequer
Que em guerras que me travo és o meu estandarte,
Que o sol para brilhar teu semblante requer.

II

Não quero possuir-te mas tão-só tocar-te
E sentir o teu corpo responder ao meu,
Mas não quero sentir-te sem que seja arte,
Sem que duma falácia faça um apogeu.

DeusExMachina, in Bibliotecl@ do Sapo

16/03/04

By Eu(zinho)

Entretanto, o grande educador Pacheco Pereira acorda hoje com uma revelação extraordinária e escreve no seu blog:

(...)
08:48 (JPP)
EM DEMOCRACIA


o povo é quem mais ordena. É tão simples como isto e, antes de ficar complicado, deve continuar assim simples.
(...)


Ó Pacheco! Se é assim tão simples, para que foi que complicaste tudo durante os dias anteriores?
15/03/2004 • 08:57:37

"Aonde é que tudo isto vai parar?"

"(...)
Cada vez mais penso naquela que é, por essência, a questão derradeira da filosofia:
(...) não há senão um único problema filosófico verdadeiramente sério: o problema do suicídio. Julgar que a vida vale ou não vale a pena ser vivida, é responder à questão fundamental da filosofia. (Albert Camus, Le Mythe de Sisyphe, Paris, Galimard, 1942)”(...)"

(Ivo Monteiro)
17:30 (JPP)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ESPANHA E O TERROR 2

15/03/04

"Se não foi a ETA, podia ter sido"...????? (3):->

"(...)Mas há outros olhos a ver o que aconteceu, e esses olhos não vêem o mesmo que eu vejo. Esses olhos são os da Al Qaida, quer tenham sido eles a fazer o atentado ou não. E o que eles vêem é inquietante e perigoso. Vêem a bomba ter resultados que lhes convêm, vêem o terror a dar resultados políticos. Eles não vão fazer a distinção entre as culpas do PP e os méritos da bomba. Eles são gente mais pragmática do que parece, ponderam as vantagens e inconvenientes de repetir a bomba, onde e como. É só uma questão de tempo."

ABRUPTO
10:55 (JPP)


Este Gajo está a passar-se!?!...a Al Qaida quer lá saber do PP, do PSOE, das eleições onde quer que seja e, menos ainda, dos efeitos eleitorais das suas acções terroristas!...terrorista quer dizer isso mesmo: espalhar o terror!, e é só isso que lhes interessa...a nível mundial!...ganhe o PP, ou o PSOE, onde quer que seja, para eles vai dar no mesmo: o mundo fica aterrorizado porque aquela causa está sem rei, nem roque...com a grande ajuda dos justiceiros deste mundo...Aznar/PP incluido!

...dever servir de muito, agora, andarem a atirar-nos areia para os olhos...


...agora que isto - «...ponderam as vantagens e inconvenientes de repetir a bomba, onde e como. É só uma questão de tempo...» - é uma grande verdade, lá isso é...

14/03/04

Virgínia Woolf # T.S. Eliot

“O que é que acontece com as amizades iniciadas aos quarenta anos? Será que se desenvolvem e duram? “

ABRUPTO
14.3.04
09:47 (JPP)


...sempre quero ver no que isto vai dar...?!?:->

13/03/04

"Contemple o fogo, fite as nuvens e, mal surja qualquer intuição ou, na sua alma, comecem a brotar inspirações, abandone-se a elas e não se ponha , antecipadamente, a considerar se isso apraz ao senhor professor ou ao senhor papá, ou a qualquer venerando Deus! Desse modo, a pessoa destrói-se. É um costume que nos deixará agarrados ao passeio e nos transformará em fósseis.(...)o nosso Deus chama-se Abraxas. Ele é Deus e Satanás: abarca em si próprio tanto o mundo límpido como o obscuro. Abraxas não tem nada a objectar a qualquer dos seus pensamentos ou sonhos. Nunca esqueça isto. Ele abandoná-lo-á, porém, se alguma vez se tornar irrepreensível e normal: repudiá-lo-á e procurará outra caldeira onde cozinhe os seus pensamentos."

Demian, Herman Hess

*************
"Quanto ao Sonho...

Uma vírgula no ponto errado da frase altera completamente o seu sentido. Grande parte das nossas falhas de comunicação partem de erros tão simples quanto este."

disakala

12/03/04

“Preciso de ti mas já não to sei dizer”

ORAZIO, Male Nude

«(...)é inútil foges de uma forma absurda das tentativas de afecto dos corpos que passam sonhas com punhais e navalhas procuras nos livros a definição de loucura mas não chega nem nunca vai chegar(...)»

disakala
Ricardo
Março 12, 2004

(Helmut Newton * David Lynch and Isabella Rossellini)


"Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos."

Quero...

ORAZIO,Lou
...que um Anjo me caia aos pés


«Há alguns anos atrás, num dia qualquer de chuva, ainda as gotas começavam a cair e eu caminhava sem chapéu. Há uns anos atrás, as gotas começavam a cair, eu caminhava sem chapéu e ia para a Baixa. Alucinado, ou talvez não, lembro-me de na minha alucinação de então ter olhado para o céu como se existisse algo ou alguém
que de lá me respondesse e disse-lhe: "Quero que um Anjo me caia aos pés, que um Anjo me caia e eu...segurando-o pelos colarinhos, pelo seu fato de Anjo sujo e roto, caído para o meio da lama, lhe faça, então a pergunta... a pergunta que eu não sei qual seja, para algo que eu não sei o que é... mas não, não quero saber, só quero que o Anjo me surja." Há alguns anos atrás eu caminhava para a Baixa e chovia como se alguém nos cuspisse em cima, anos e anos atrás eu caminhei até à Baixa. Já estava lá perto, sempre com aquela ideia do Anjo quando nisto... olho para a parede do meu lado direito e adivinha o que lá estava? O Anjo!! O Anjo desenhado e pintado a grafitti, parado, a olhar para mim, a olhar para mim da parede! O Anjo!!!Anos e anos atrás, chovia, eu entrei no café Santa Cruz e um grupo de uns quantos de seres poéticos (algo que não sou e que nunca fui, sempre que declamei poesia foi com a boca cheia de sangue) declamavam poemas atrás de poemas para uns quantos de intelectuais e de cromos que bebiam cafés e finos enquanto chovia lá fora. Anos e anos atrás, sentei-me para ler à frente de uma tipa de quem andei atrás devido a um mau gosto acentuado da minha parte... sem que isso me tenha levado a lado algum. Anos e anos atrás, sentei-me para ler, escrevinhar, matar o tempo e a loucura que me matava no meio daquele cenário. Chovia lá fora, estranhamente estavam sempre a cair mosquitos na minha mesa, por cima do meu café, por cima do meu fino, por cima das palavras dos poetas que me surgiam como sons descompassados, vagos e torpes. Eram as suas asas que tombavam. Perguntas se eram as asas dos mosquitos? Não, não eram. Eram as asas do Anjo. Que eu vira desenhado na parede. Desenhado a grafitti. Anos e anos atrás. Quando chovia.»


Ricardo M.,30 Jun 2003

"Sem excepção, um eco rude e inconfudível de «Viva la Muerte!»"

«Mas também nas bombas ocidentais sobre Bagdad, nos tanques israelitas em solo palestiniano, na carnificina de Ariel Sharon em Sabra e Chatila, na guerra como continuação da política, no terror pelo terror, no sangue pelo sangue. Sem excepção, um eco rude e inconfudível de «Viva la Muerte!». Sempre essa celebração da monstruosidade humana, quando algo de essencial e necessário é violentamente usurpado: sem pré-aviso e sem retorno. Foi este grito, tragicamente familiar, fatalmente claro, que hoje soou em Madrid. Um «Viva la Muerte!» partilhado também por uma direita canalha e imoral que explora os cadáveres como munição política de legitimação ou ofensa. O «Viva la Muerte!» como paroxismo daqueles que sentirão o sabor do sangue seco dos mortos quando a poeira das bombas assentar em Madrid. Apenas e só até ao «Viva la Muerte!» que se segue

Sous Les Paves, La Plage
sexta-feira, 12 de março de 2004
Por TBR às 20:44

O mundo lá fora fede...e eu aqui tão feliz...:->

...o JPP irá morder a língua, mas...e nós!?...como ficamos a ver "o monstro" a bater-nos à porta, aqui tão perto...quando sempre se imaginou (esperou!?!) que "só aos outros..."???

...depois ainda se espera que eu(!) comemore "dias de..." no recato da minha felicidade!?! bahhhhhh...o mundo lá fora...fede!!!...e eu não vou (continuar a) deixar que me envolvam nesta redoma que de tudo me protege...curioso que, antes, a crítica pretendia "empurrar-me" para o oposto: eu não vivia a vida (real!, pungente!sofredora!) porque preferia deixar-me guardar pela redoma...curioso!:->... assim, optei por "trasformar" a redoma em porto de abrigo...ao porto de abrigo retorna-se (sempre!) para descansar das agruras do mundo fe(o)dido!... e sabe tão bem!!!;-)

"Se não foi a ETA, podia ter sido"...????? (2)

“É importante saber se foi a ETA ou a Al-Qaeda. É evidente que ambas são coisas abomináveis – todo o terrorismo deve ser implacavelmente perseguido, sem tréguas nem cedências. Contudo, para a eficácia dessa luta e defesa é fundamental compreender o que move cada tipo concreto de irracionalidade terrorista, o que pretende estrategicamente. É certo que há, cada vez mais, uma espécie de nebulosa global de terrorismo à escala planetária que partilha métodos e técnicas, directa e indirectamente, quanto mais não seja por emulação de efeitos de magnitude (inflação da escala de danos), Contudo, essa nebulosa compõe-se de gente que, por diferentes razões e motivações, chegaram até lá. É crucial entender essas razões e motivações. Não é indiferente saber se as bombas foram levados por:
- a) alguém que se dispôs a morrer como mártir, depois de ter ouvido, com a necessário espírito piedoso, citações do Corão numa cassette :
- b) alguém que deixou uma bomba nos carris e um dia destes, numa aldeia do País Basco francês, se refastelará pantagruelicamente entre copos de “txacoli” e “bacalao al pil pil”.

(Edmundo Tavares)

12.3.04
07:55 (JPP)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES



11/03/04

Demian...

"Sobre uma folha de papel escrevi: «Um guia acaba de deixar-me. Estou mergulhado em plena escuridão. Não posso avançar sozinho. Auxilia-me!»"

"Se não foi a ETA, podia ter sido"...?????

Picasso, Guernica, 1937

«COMEÇOU

A discussão sobre se foi ou não a ETA tem dois aspectos: um operacional, muito importante, mas que não penso ser o que preocupa os que dizem que não foi a ETA; e um político. O político é muito simples. Se não foi a ETA, podia ter sido. (...)»

11.3.04, 16:17 (JPP)
ABRUPTO


...o bold é meu...e acho esta afirmação do mais estúpido que há!...nada condizente com o nível intelectual do autor...já do nível politico, apesar de certas rebeldias (que talvez não passem, afinal, do reflexo do espelho veneziano :->), não se pode dizer o mesmo, mas...a cegueira partidária tem destas coisas: até consegue transformar pessoas inteligentíssimas em asnos...

...não defendo a violência em geral, menos ainda a da ETA em particular...entendo que por vezes não resta outra solução...apesar de não ser solução!...a questão da Palestina/Israel confirma...mas isso não pode desviar as atenções do essencial: porquê esta violência, tão bárbara, neste momento!???? ...eu confesso que não entendo...de todo!

...mas, e se o atentado não foi mesmo da ETA!?, como parece não ter sido...o JPP vai morder a língua!?!:->

10/03/04

"O teatro de marionetas só interessa a quem segura as cordas"

A. Modigliani Reclining Nude, 1919


Uma Paixão

Visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
vem ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
vem antes que desperte em mim o grito
de alguma terna Jeanne Hébuterne

a paixão derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro
perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
vem com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te.

Al Berto


(grata, Ricardo, por mo recordares...), disakala

Porque damos aos outros as armas com que nos ferem?

Já, por diversas vezes, me questionei da razão porque algumas pessoas têm o condão de nos magoar e outras, que tantas vezes cometem actos bem mais gravosos, nem nos atingem de raspão!? Porque razão algumas pessoas nos ferem com a facilidade de quem rasga pedacinhos da nossa alma - com pequenos gestos, atitudes, palavras - e outras nem com um murro na cara nos fazem, sequer, vacilar!? Que poder têm uns que aos outros falta?

Seja qual fôr esse poder...somos nós que o damos! Só nós permitimos - nesse gesto estúpido de dar ao "inimigo" a arma que nos "mata" - essa suprema exposição que nos permite ser "agredidos" sem defesa, num misto de "masoquismo" e completa ausência de qualquer vestígio de auto-defesa que nos valha.

Porquê? Porque nos expômos assim? Repare-se que não são os outros que nos agridem! Somos nós que nos deixamos agredir e, tantas vezes, facilitando com a oferta da melhor "arma", daquela que nos atinge mais certeiramente!

Somos estúpidos...ou quê!?

Abaixo o dia da mulher! Viva a luta pela humanidade...

Uma Luta Que Vem de Longe
Por BÁRBARA WONG
Segunda-feira, 08 de Março de 2004, in Público

Ao contrário do que muitos pensam, o feminismo não nasceu com as sufragistas, que lutaram pelo direito ao voto, no fim do século XIX; nem com as manifestantes da década de 60, caricaturadas nas queimas de "soutiens". O feminismo surgiu muito antes, com indivíduos, homens e mulheres que lutaram pela igualdade de oportunidades, no século XVIII.
(...)
Quanto às fundadoras do feminismo, contemporâneas da Revolução Francesa, a sua luta não é contra os homens, mas contra a sociedade patriarcal, contra a democracia que não assenta na igualdade entre os dois géneros.

Todas elas estiveram ligadas ao movimento operário. De um modo geral, eram mulheres do povo, trabalhadoras, e algumas morreram pela causa - como Olympe de Gouges, que entrega na comuna de Paris, em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e é guilhotinada na sequência da defesa desses mesmos direitos.
(...)
Por que se batem as mulheres?

O dia de hoje é comemorado porque em 1859, em Chicago, na luta pela redução do horário de trabalho para dez horas, mais de uma centena de operárias foram mortas pela entidade patronal. No século XIX, as mulheres lutam pelo direito ao sufrágio. Na década de 60, discute-se a conquista do espaço público. E hoje, por que se batem as mulheres? Continua a fazer sentido falar em feminismo?

Sem dúvida, respondem as autoras de "Vozes Insubmissas" e também Alfreda Cruz e Manuela Carvalho, que escreveram "Mulheres em Movimento - O Feminismo no Questionamento Actual", editado pela Ela por Ela e que é hoje lançado, em Lisboa.

"Não podemos esquecer que práticas mencionadas no Antigo Testamento continuam a existir em determinadas zonas da Terra, como mulheres serem apedrejadas até à morte. Por cá, a igualdade está longe de ser um dado adquirido", afirma Isabel do Carmo.

Actualmente, as mulheres portuguesas lutam pela paridade de direitos e deveres dos dois géneros, dizem Lígia Amâncio, Manuela Carvalho e Alfreda Cruz.

"Não deve haver uma sobreposição de um género sobre o outro", aponta Alfreda Cruz, que constata que existem cada vez mais homens que pensam o feminismo, porque "perceberam que esta é uma causa da humanidade". Uma causa que não pode continuar escondida, menosprezada, mas que tem de ser discutida e também estudada. Lígia Amâncio lamenta que os manuais escolares negligenciem este tema. "Vivemos efeitos perversos do défice de feminismo", conclui.

09/03/04


"Solos en la madrugada"

Balada para un loco
Vals - Voz Femenina
Lyric: Horacio Ferrer
Music: Astor Piazzolla )

A vaidade, ah vã vaidade...:->

«(...) vaidade moderna, diz o Realista Antigo, surgida no romantismo, é outra coisa. É a crença na omnisciência do eu, na intangibilidade da vontade individual, dos seus desejos , apetites e pulsões. É uma vaidade sem Deus. Está cheia de metáforas prometaicas - e como o Realista Antigo abominava as metáforas prometaicas! É mais uma massagem do eu, ou um conforto quente.

- "Quentinho", dizia com desprezo o Realista.

- "Mas, o que é que tu queres? A vida é só uma. Carpe diem. Também vem nos clássicos..."

-" Mas eu não falo sobre os clássicos. Tudo o que eu digo é ficção. Antiga."»


09:56 (JPP)
in ABRUPTO


(...curioso, este homem!...que pouco, ou nada!, me diz em geral...e em especial, politicamente falando, não diz mesmo nada!...e quando escreve, assim!, lhe encontro sempre qualquer coisa que me prende...)

Se o outro era o muro da vergonha...

«(...)
O muro em questão vem reforçar a ocupação e a colonização israelita nos territórios palestinianos em clara violação da lei internacional e resoluções das Nações Unidas que não permitem a anexação de território pela força.

O muro facilita a prática de uma limpeza étnica e sujeita toda uma população palestiniana a um tenebroso castigo colectivo separando camponeses, estudantes, trabalhadores e doentes das suas terras, escolas, locais de trabalho, postos de saúde, hospitais, etc.

O muro divide cada cidade e cada aldeia em enclaves, separando e dispersando membros da mesma família o que, de acordo coma IV Convenção de Genebra, vai contra a lei internacional e direitos humanos. O muro restabelece a cultura do "ghetto" e impõe um regime de "apartheid" encorajando a discriminação na era da globalização e abertura do mundo. O muro destrói todas as esperanças de paz, todas as iniciativas políticas, e impõe a todo o Médio Oriente uma atmosfera de guerra e ódio.
(...)»

in Público,
O Muro da Vergonha em Pleno Século XXI
Por ISSAM BESEISSO
Terça-feira, 09 de Março de 2004



Se o outro era o muro da vergonha este, nos dias de hoje, é o muro da vergonha???? E ainda querem que eu comemore o dia da mulher???bahhhhh

"Um beijo meu à mulher que possa ainda existir em ti..."

Curioso como, nesta frase, posso ver confirmado todo o meu odio aos dias de...! Toda ela me permite as mil e uma leituras que me fazem detestar quem só se lembra de datas e esquece o ser humano. Toda ela me permite apreender que o mundo se confina, cada vez mais, aos mundinhos individuais (e individualistas) e a humanidade se dilui nessa busca de felicidades pessoais em detrimento da partilha alargada... aos outros.

Manias minhas (que também as tenho!) , mas (ainda!) sou mulher virada para o mundo...dos outros! Manias minhas, mas (ainda!) preciso (como sempre precisei!) dos outros para a construção do meu mundo. Manias minhas, mas (ainda!) preciso dos outros (como sempre precisei!) para aprender, para partilhar, para dar e receber...mesmo se não numa relação directa...às vezes dou e não recebo, tantas outras recebo sem ter dado...Manias minhas mas, não me basta (nunca me bastou) o muito que possa ter...se ao meu lado os outros não tiverem, pelo menos, o mesmo que eu tenho.

Assim, por muito que me encha o ego e a minha necessidade de carinho, afecto, amor, compreensão, cumplicidade...por muito que me sinta satisfeita a nível pessoal com a comemoração, deste e de todos os dias que comemoro porque eu vou a todas!;-)...por muito que me sinta preenchida porque sei(sinto!) que não sou comemorada só neste dia por quem me ameniza as agruras e me facilita as felicidades do dia a dia ...por muito que assim seja, não posso sentir-me feliz, a comemorar dias destes, quando ao meu lado tenho(!) mulheres que não sabem o que quer dizer ser valorizado como ser humano, quanto mais como mulher...nem num dia!...quando o que eu quero (exijo!) é que se seja reconhecido o ano inteiro...pelos anos fora da nossa vida!...pois, eu sei!, sempre pedi demais, sempre pedi tudo!...mas a minha capacidade de compreensão ainda não se alargou a esse nível...quem sabe, ao contrário, eu tenha o meu lado masculino demasiado desenvolvido...:->

Ao certo, ao certo...para os dias da mulher...ou do homem...ou dos namorados...ou da criança...eu digo: tretas!!!!...que se lixem os hipócritas que correm às lojas de flores e as esgotam...para quê!?...dias que só servem para governar o comércio!... porque o que me dá verdadeiro prazer receber do homem/do amigo/do colega (d'o outro!) é a sinceridade do afecto...seja ele amoroso, seja ele de amizade, seja ele de companheirismo...seja ele de solidariedade...dá-me gozo receber, de quem partilha comigo as tais agruras e felicidades da vida, aquele gesto que me diz "amo as tuas rugas, amo as tuas imperfeições, amo os teus amoks...porque te amo, simplesmente", isto todos os dias!...dá-me gozo receber, de quem partilha comigo as tais hipocrisias da nossa vidinha laboral, aquele gesto que me diz "estou aqui se precisares de ajuda!" ,isto todos os dias!...dá-me gozo aquele gesto que me diz "toma o meu ombro e já agora o pacote de lenços e chora até te fartares porque, depois das lágrimas, verás que a vida nunca é tão negra como tu a pintas quando estás com os amoks", isto todos os dias!...isso sim!, isso eu agradeço!!!...e recebo tentando retribuir tanto quanto o meu egoísmo mo permita.

Por tudo isto não deixo de comemorar os dias de por qualquer tipo de sentido de diminuição!...aliás, eu comemoro (sempre!) todos os dias comemorativos! ...mas, reclamando (sempre!) para que se deixe de lado a hipócrisia de quem só lembra o outro uma vez por ano! Reclamando, sempre, porque cada vez mais as pessoas se fecham nos seus mundinhos unipessoais!...É que em mim ainda(!) existe a mulher que sempre fui...:->

Quanto à falta de sensibilidade demonstrada pelo número de comentários neste local, não vejo o que haja para compreender!?! Este espaço não foi criado com a intenção de gerar debates e/ou discussões. Não me passou pela cabeça transformar isto num qualquer tipo de fórum. Inicialmente era, apenas, o meu canavial privativo onde vinha gritar as minhas mágoas, feita princesa das orelhas de burro! Apenas comuniquei a duas ou três pessoas o url...da maior parte que aqui vem nem sei como o obteve...em todo o caso, claro, não me furto a polémicas se elas surgirem...aqui ou onde quer que seja e me apeteça. Pelo que não me espanta (nada!) a pouca frequência deste espaço, ou a pouca participação activa no mesmo. As pessoas, cada vez mais, preferem andar pr'aqui (na net) a dizer palavras bonitas (adocicadas, melosas...e ocas!) que nada têm a ver nem com as suas próprias realidades, nem com a realidade da vida do dia a dia. E eu sempre tive muita dificuldade em me relacionar com essas incoerências. Incoerências por incoerências prefiro outras!:->

Em todo o caso e para finalizar o meu discurso anti-dia da mulher!:-> sempre direi que ainda bem que algumas pessoas, neste mundo, conseguem tudo entender e, melhor ainda, sentir-se bem com e no mundo em que vivem...eu não me sinto nada bem neste mundo!!!!...e ter alguém que me estende a passadeira vermelha para eu passar e não sujar os pés, não me faz mais feliz, quando à minha volta (mais perto, ou mais longe, não importa) a lama sufoca tanta gente...é claro que eu é que estou errada, é claro!...e, ainda por cima, serei uma mal agradecida, eu sei!...e um dia deus nosso senhor até me pode castigar, eu sei!!!:->...mas porra!!!...eu vivo dentro do mundo e o (meu!) mundo é também lá fora!!!

Meu querido Ricardo, vou pedir-te emprestada a tua frase do dia da mulher... “Se os vivos não te ouvem escreve para os mortos” [se não me emprestares eu retiro, juro!...;-) :*]

08/03/04

Odeio dias...

...internacionais!...e nacionais também!...e pessoais também!!!...odeio dias de fingir q tudo é bonito!...quero lá saber do dia da mulher!, mas de qual mulher!?????
The Scream, 1893, Edvard Munch

...este mundo está, cada vez, mais fantoche!...e as pessoas...e as palavras...e os sentimentos...afinal o que é que andamos cá a fazer, porra!?

07/03/04


Helmut Newton, Jodie Foster

Gato, deus gato...

LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE ÁLVARO DE CAMPOS
(Fragmento)

Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
E vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto
Penso que a questão é esta: a gente—certa gente—sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar—
vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a ...
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato
mas de gato para cima—nem pensar nisso é bom!
Propalam não sei que náusea, revira-se-me o estômago só de olhar para eles!
São criaturas, é verdade, calcule-se,
gente sensível e às vezes boa
mas tão recomplicada, tão bielo-cosida, tão ininteligível
que já conseguem chorar, com certa sinceridade,
lágrimas cem por cento hipócritas.


Mário Cesariny, NOBILÍSSIMA VISÃO (1945-1946)


"Sonhos"

(Caetano Veloso)

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim completamente seu.
Vi a minha força amarrada no seu passo,
Vi que sem você não há caminho, eu não me acho,
Vi um grande amor gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia.

Quando o meu mundo era mais mundo e todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha, mais pureza, mais carinho,
Mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar,
Quando a canção se fez mais clara e mais sentida,
Quando a poesia realmente fez folia em minha vida,
Você veio me falar dessa paixão inesperada por outra pessoa.

Mas não tem revolta não,
Eu só quero que você se encontre.
Ter saudade até que é bom,
É melhor que caminhar vazio.
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim, eu tenho sim.

Não tem desespero não,
Você me ensinou milhões de coisas.
Tenho um sonho em minhas mãos,
Amanhã será um novo dia,
Certamente eu vou ser mais feliz..

"É nas noites que eu passo sem sono"

É nas noites que eu passo sem sono
Entre o copo, a vitrola e a fumaça
Que é com a torre do meu abandono
E que caio em desgraca
É nas horas em que a noite faz frio
E a lembrançaa, o castigo me arrasta
Solidão é o carrasco sombrio
E a saudade vergasta
Se eu cantar, a alegria sai falsa
Se eu calar, a tristeza começa
E eu prefiro dançar uma valsa
Que ouvir uma peca
E eu recuo, eu prossigo, eu me agito
E eu me omito, eu me envolvo, eu me abalo
E eu me irrito, eu odeio, eu hesito
Eu reflito... e me calo

Elis Regina - Cão sem dono

06/03/04

***
...o q magoa é o tempo desperdiçado...

"Ô malheureux esprit des hommes! ô coeurs aveugles! En quelles ténèbres de la vie, et dans quels grands périls s'écoule ce tout petit peu de temps que nous avons!", M

«Reunificar o divino e o demoníaco»

«O pássaro liberta-se do ovo. O ovo é o mundo. Quem desejar nascer terá de destruir um mundo. O pássaro voa para Deus. Deus chama-se Abraxas.
(...)
O amor deixara de ser um instinto animalesco e obscuro (...); também não consistia em devota e espiritualizada adoração(...). Era uma e outra coisa, as duas e muito mais: era angélica e Satã, homem e mulher num só, pessoa e animal, supremo bem e extremo mal.»

05/03/04

"... qual é o teu preço?"

Sempre que olho para um Homem imagino sempre o seu cadáver.

Qualquer pessoa era capaz de matar pelo preço certo. Todas as pessoas o têm. Esconde-se dentro da máscara de cera a que dão o nome de sanidade mental ou ética, mas lá no fundo, no fundo... qual é o teu preço?»

disakala

"Noite Dos Mascarados"

[Chico]
Quem é você?

[Elis]
Adivinha se gosta de mim

[Coro]
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim

[Chico]
Quem é você?, diga logo

[Elis]
Que eu quero saber o seu jogo

[Chico]
Que eu quero morrer no seu bloco

[Elis]
Que eu quero me arder no seu fogo

[Chico]
Eu sou ceresteiro, poeta e cantor

[Elis]
O meu tempo inteiro só penso no amor

[Chico]
Eu tenho um pandeiro

[Elis]
Só quero um violão

[Chico]
Eu nado em dinheiro

[Elis]
Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte, não sei mais dançar

[Chico]
Eu, modéstia à parte, nasci para sambar

[Elis]
Eu sou tão menina

[Chico]
Meu tempo passou

[Elis]
Eu sou Colombina

[Chico]
Eu sou Pierrot

[Coro]
Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
Que você quiser
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

"O Bêbado e a Equilibrista"

(Compositores: João Bosco / Aldir Blanc.
Intérpretes: João Bosco/ Elis Regina).


Caía,
A tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos.

A lua,
Tal qual a dona dum bordel,
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel.

E nuvens,
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas,
Que sufoco!

Louco,
Um bêbado com chapéu coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil,
Meu Brasil.

Que sonha
Com a volta do irmão do Emfil,
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete.

Chora,
A nossa Pátria, a mãe gentil,
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil.

Mas eis,
Que um amor assim pungente
Não há de ser inutilmente,
Há esperança.

Dança,
Na corda bamba de sombrinha,
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar.

Asa,
Na esperança equilibrista,
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar.


"Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo."

"De que me servirão os meus talismãs: o exercício das letras, a vaga
erudição, a aprendizagem das palavras que usou o áspero Norte para cantar
os seus mares e as suas espadas, a serena amizade, as galerias da
Biblioteca, as coisas comuns, os hábitos, o jovem amor da minha mãe, a
sombra militar dos meus mortos, a noite intemporal, o sabor do sonho?

Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo.
Já o cântaro se quebra sobre a fonte, já o homem se levanta à voz da
ave, já se escureceram os que olham por detrás das janelas, mas a sombra
não trouxe a paz.

É, já sei, o amor: a ansiedade e o alívio de ouvir a tua voz, a espera
e a memória, o horror de viver no sucessivo.

É o amor com as suas mitologias, com as suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar.
Já os exércitos me cercam, as hordas.
(Esta habitação é irreal; ela não a viu.)
O nome de uma mulher me denuncia.
Dói-me por todo o corpo uma mulher."



Jorge Luis Borges

(Cat...in Bibliotcl@ do Sapo)

"que faço a todas estas coisas que tinha para ti ?"

«(...)não existe ninguém igual a ela ! o mais vagamente parecido, sou eu !»

Patético Poeta Palhaço

...quando leio "coisas" destas (em especial a segunda metade da frase... a "ideia" que ela exprime...) fico com imensa raiva por não saber escrever!...e uma pontinha de inveja, também...

03/03/04

"Ainda pensei que tivesses comprado um piano"

...não!, não comprei um piano...nem teria espaço onde colocar um piano!...nem saberia o q fazer com ele...sem pianista!;-)

Matisse, La leçon de musique, 1917
...em tempos tive esse sonho, sim!, de ter uma salinha, a q chamei a salinha do piano!, e qd vi aquela foto - com a disposição exacta onde eu tinha planeado colocar o piano, faltando-lhe apenas o espelho no lado oposto do quadro...para eu poder ver o rosto do pianista enquanto tocava e eu, no outro canto oposto... - mas, ia eu a dizer: um dia tive esse sonho e em dia(s) de aniversário há sempre uma certa tendência para os balanços de vida, né!?...foi o q me sucedeu!...e ao fazer esses balanços veio-me à memória...memórias perdidas!...como a desse sonho, por exemplo...

...pelo q, a colocação do piano aqui, ñ foi apenas uma questão de teste...de imagem!:->

Mais Cinema...ainda...


«(...)
Não há duvida de que "21 Gramas" demonstra que a percepção da realidade é feita de pequenos fragmentos, que a memória é selectiva e que, enquanto se pode morrer num instante, por outro lado viver exige muito trabalho. Sobretudo se ao dia-a-dia vem acoplada uma carga de solidão, culpa ou ressentimento, nem sempre suportável.
A informação acerca das 21 gramas que uma pessoa perde ao morrer é pseudo-científica, aqui utilizada como licença filosófica, provoca toneladas de sentimentos e grandes mudanças na vida daqueles que ficam mais próximos. Poucos filmes, nos últimos tempos, foram tão originais ao falar sobre perda, condicionamento, amor, culpa, coincidência, vingança, dever, fé, esperança, toda essa matéria prima dos impasses existenciais que constituem o léxico da nossa sobrevivência de cada dia.».

Mais Cinema...

..Outro belo filme!


Mulhollan Drive



"I just don’t know what am I supposed to be"

O Pianista

belo filme, sim!;-)

02/03/04

o piano com que tinha sonhado...

AMOR E SEXO

Amor é um livro,
Sexo é esporte,
Sexo é escolha,
Amor é sorte.

Amor é pensamento, teorema,
Amor é novela,
Sexo é cinema.

Sexo é imaginação, fantasia,
Amor é prosa,
Sexo é poesia.

O amor nos torna patéticos,
Sexo é uma selva de epiléticos.

Amor é cristão,
Sexo é pagão,
Amor é latifúndio,
Sexo é invasão.

Amor é divino,
Sexo é animal,
Amor é bossa nova,
Sexo é carnaval.

Amor é para sempre,
Sexo também,
Sexo é do bom...
Amor é do bem...

Amor sem sexo,
É amizade,
Sexo sem amor,
É vontade.

Amor é um,
Sexo é dois,
Sexo antes,
Amor depois.

Sexo vem dos outros,
E vai embora,
Amor vem de nós
E demora.

Amor é cristão,
Sexo é pagão,
Amor é latifúndio,
Sexo é invasão.

Amor é divino,
Sexo é animal,
Amor é bossa nova,
Sexo é carnaval.

Amor é isso,
Sexo é aquilo
E coisa e tal...
E tal e coisa...
Ai, o amor...
Hum, o sexo...

(Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor)