...ainda sobre Rui Knopfli...
"Ex cathedra ab abrubto"
«Eis que, chegado aqui, me resta o que resta...
Dois anos intensamente passados na Net, deram-me a oportunidade de discutir (discutir=troca de pontos de vista), de aprender (e apreender!) e de, acima de tudo, testar a humanidade do opinar.
Deste último, do testar a humanidade do opinar, e ressalvando na memória a força e oportunidade dos que passei a amar pelo que têm para partilhar e ensinar, levo, infelizmente, uma sensação de vazio. Levo esta sensação mas compreendo (porque disso dependia a "função") o receio com que a generalidade das pessoas se deparam ao terem que opinar por escrito:sentem-se definitivas, como se o amanhã lhes viesse pedir contas pela opinião que entretando terá deixado de estar conforme ao que o tempo dita.
Mas... eu digo ao que venho ! Calma!!
Nesta minha ÙLTIMA "conversa", "lição", "exaltação do absurdo", "opinião" ou "etc." (cada um fará o favor de se "sentar" na cadeira que lhe seja mais conveniente...), vou ser mais exigente e não pactuar com a facilidade de raciocínio de "clube do porreirismo".
A pretexto da homenagem que a Raquel aqui deixou expressa a Rui Knopfli, afirmei eu:
"O Rui Knopfli foi uma merda de poeta!!!".
Não cabe aqui saber, ou discutir sequer, se a Raquel "aceitou" o argumento pelo simples facto de não se dispôr a contra-argumentar, ou se o fez por o achar verdadeiro (o que não creio...).
Também não caberá, por deslocada, suscitar a discussão sobre se a técnica do versejar livre de Knopfli atinge a quadratura do círculo ("É o poema que faz o verso livre, e não o verso livre que faz o poema", diz Henri Meschonnic), ou se, pelo contrário, peca pela imperfeição na construção pelo excesso, entre outros, do recurso a cavalgamentos (teoriza Gustave Kahn: "a inversão e o cavalgamento são recursos que devem ser banidos do verso").
O que caberia aqui discutir, era: Quantos tiveram a curiosidade de saber QUEM FOI, O QUE FEZ e O QUE ESCREVEU Rui Knopfli?
E, desses quantos, o porquê?
Pela homenagem sincera e sentida da Raquel ?
Ou pela afirmação pura e simples de que "O Rui Knopfli foi uma merda de poeta!!!" ?
De "vampiros" de finados anda o mundo cheio e nada custa ser "solidário" perante a morte de uma qualquer pessoa: é "politica e socialmente correcto".
Enfim... modas a que não aderi.
E "advogados" e "diabos" há-os por tudo o que é sítio...E "aprendizes de feiticeiro" também os vai havendo, que a época é propícia...
É por demais evidente que as afirmações "merda de poeta", "não tem nada a dar" ou ainda "perde no peso da confrontação", só a mim vinculam, por muito que o uso de "nos faça" (resultante de "deformação" educacional) traga alguns engulhos compreensíveis a quem pretenda pôr a àrvore a tapar a floresta...(e aqui estava tentado a teclar ;-))) no final da frase para suavizar, mas sei que tal não é necessário).
Quanto ao "os que viveram a alma poeta", aí o caso muda de figura e é um "bico d'obra" tentar explicar... Enfim, coisas que a Esfinge e o Esquadro aconselham a recatar mas que eu, pobre Espírito, traduziria por "prosadores".
Porque, (e agora penitencio-me por não explicar...) a prosa é a forma suprema de poesia depois de esta se ter libertado das formas primárias da versificação.
E para rematar: "O Rui Knopfli foi uma merda de poeta!!!", mais não passa de um grito de revolta pelo que poderia ter sido.
Santayana dizia que o mundo é feito de essências: a forma de quanto é, quanto foi, quanto será e de quanto nunca será.
E a poesia de Knopfli foi "o que nunca será", isto é, como as flores nascidas para florescerem invisíveis e perderem a sua doçura no ar do deserto dos nossos sentidos mortais, ela, a poesia que não chegou à perfeição da prosa, só é acessível à eterna comtemplação.
In memoria aeterna erit justus.»
JR , 03/Jul/98
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NOTA da autora do blogue: este texto resultou da resposta a um outro texto, colocado num fórum, e que pretendia fazer uma homenagem a Rui Knopfli, por altura da sua morte:1998.