Eternamente, tu revisitado...
Sinto-me envenenado... envenenado e a desfalecer sem encontrar remédio ou mesmo sedativo que me reavive ou mantenha na vontade de continuar no meu voo de sobrevivência.
Atravessei discretamente todo um Jurásico, convivi incógnito com seres cuja descrição levaria ao esgar trocista de qualquer ouvinte, recusei-me a partilhar da mesa farta com que a Mãe Natureza insistiu brindar esses gigantones que me cercam.
Preferi o bebericar dos pequenos prazeres da vida escolhendo, para isso, o tamanho ideal que evita a necessidade de grandes dispêndios de energia física e demasiado tempo na acumulação de bens de primeira necessidade.
Desenvolvi a visão de modo a espicaçar a curiosidade dos restantes sentidos e agucei os sentidos abdicando da realização efémera da grandeza das pequenas obras. Rio-me das grandes trombas, das grandes caudas folclóricas e atraentes, das cores garridas e traiçoeiras, dos olhos falsos e hipnotizantes, das bocas que balbuciam lindas frases com o fito de nos engolir mais facilmente.
Tudo o que peço é uma flor. Uma pequena flor que me alimente de perfume estonteante e de néctar embriagador. Em troca, unicamente a minha promessa de tentar fazer florir mil outras flores/sentimentos, numa progressão geométrica de promessas/recusas/anuências que alimentam o amor.
Mas, hoje, vejo-me roubado e violentado, frágil por entre gigantones acéfalos, envenenado por uma série infindável de insectos fúteis e sem noção do tempo necessário à construção de uma vida.
Sobreviver é tão fácil!
Mas, o que eu quero é viver...e, por isso, me sinto a mudar de horizonte, a deixar de voar...e a recusar-me, no entanto, a rastejar.
Hoje, sinto-me envenenado. Mas evito-me o antídoto da sobrevivência e encaro sorridente o finito da vida. Mudo de penas e a pena que atrás de mim se arrasta depressa se dilúi mas não desaparece.
Eu quero-a, a pena, como lembrança de que uma vez voei...
Eu quero-a, a pena, como prova da perenidade da sobrevivência...
Eu quero-a, a pena, apenas porque estou vivo...
Quid Novi Dom Jan 26, 2003
[Imagem]
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW