Macroscopio: Pensamento do dia: a morte por Vergílio Ferreira: (...)Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não.(...)Vergílio Ferreira, Escrever"
Confesso que me choca esta forma de pensar, sentir...numa personalidade com o peso dum Vergílio Ferreira, mas...apesar da envergadura intelectual, ele era humano, não?! E depois tenho sempre alguns escrúpulos em interpretar pequenas citações deslocadas do contexto. Ao reler o total desta citação, acho que reduzi-la naquele pedacinho do Macro, retirando-lhe a contextualização do Universo, faz parecer que sim...que é uma visão demasiado amarga da nossa componente humana. Acho que o pensamento de Vergílio Ferreira ia muito mais além do que a simples constatação do que é o apagar da chama da vida...individual. Apesar disto permito-me recortar um pedacinho (não citado pelo Macro...), contestando-o por si só, abstraindo-me do tal contexto da ideia da morte face ao Universo.
«Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu.»
Misturar 'um amigo ou conhecido' como se um e outro nos pesasse igual na morte é, realmente, absurdo. Há mortes que nos pesam de tal modo que a vida nunca mais terá o mesmo sentido de antes. É lugar comum dizer-se que o tempo tudo cura e com ele a memória se esbate, a saudade esmorece e a vida continua. Não sei se a vida continua, ou se antes nos limitamos a deixar que a vida escorra, simplesmente. Acho que acaba por ser mais um sobreviver que um viver e o caricato de tudo isto é que, em vida, quase toda a gente acaba por pensar (num misto de medo e lamento) como Vergílio Ferreira. Que pena que nunca os nossos mortos tenham percebido em vida o que iríamos sentir após a sua morte...
Confesso que me choca esta forma de pensar, sentir...numa personalidade com o peso dum Vergílio Ferreira, mas...apesar da envergadura intelectual, ele era humano, não?! E depois tenho sempre alguns escrúpulos em interpretar pequenas citações deslocadas do contexto. Ao reler o total desta citação, acho que reduzi-la naquele pedacinho do Macro, retirando-lhe a contextualização do Universo, faz parecer que sim...que é uma visão demasiado amarga da nossa componente humana. Acho que o pensamento de Vergílio Ferreira ia muito mais além do que a simples constatação do que é o apagar da chama da vida...individual. Apesar disto permito-me recortar um pedacinho (não citado pelo Macro...), contestando-o por si só, abstraindo-me do tal contexto da ideia da morte face ao Universo.
«Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu.»
Misturar 'um amigo ou conhecido' como se um e outro nos pesasse igual na morte é, realmente, absurdo. Há mortes que nos pesam de tal modo que a vida nunca mais terá o mesmo sentido de antes. É lugar comum dizer-se que o tempo tudo cura e com ele a memória se esbate, a saudade esmorece e a vida continua. Não sei se a vida continua, ou se antes nos limitamos a deixar que a vida escorra, simplesmente. Acho que acaba por ser mais um sobreviver que um viver e o caricato de tudo isto é que, em vida, quase toda a gente acaba por pensar (num misto de medo e lamento) como Vergílio Ferreira. Que pena que nunca os nossos mortos tenham percebido em vida o que iríamos sentir após a sua morte...
4 comentários:
«Que pena que nunca os nossos mortos tenham percebido em vida o que iríamos sentir após a sua morte...»
E que tal: Que pena que nunca os nossos vivos tenham percebido o que iríamos sentir após a morte dos nossos mortos...
Mas quer numa, quer noutra frase posso questionar a força desse implacável «nunca». Será que é «nunca» mesmo?...
E que tal...nada!, desculpa lá mas desta vez, neste caso, não posso ceder nem um milímetro! A frase foi escrita daquele modo pq foi assim q entendi passar a força da expressão: nunca os nossos mortos...dito de outro modo, mesmo se à revelia do purismo gramatical q ñ me importo de subverter se assim o entender exprimir melhor os meus sentimentos, ñ teria a mesma força...para mim!
A questão não está em fazer 'os nossos vivos' perceberem o q quer q seja acerca do q iremos sentir após a sua morte, até pq ninguém sabe, em vida, quem vai primeiro...são coisas q ñ são passíveis de 'convencimentos'...e depois eu ñ me refiro à dor da ausência por uma questão de necessidade de quem fica...
A tónica da minha frase prende-se mais com o facto de algumas pessoas terem muita dificuldade em aceitar/acreditar o quanto são importantes (duma forma dramaticamente premente) na vida de alguém... por falta de auto-confiança, por demasiadas desilusões sofridas, por dificuldade nossa em o exprimir, por demasiado desalento da vida em geral...
Qualquer pessoa q nos seja querida nos deixa a dor da sua ausência, mas...tb se pode sentir, juntamente com esta dor, a dor das coisas q ficaram por fazer e, essencialmente, por dizer...
A força do implacável 'nunca' - e é nunca, mesmo!, e implacável tb! - é, exactamente, pq perante os mortos não nos é dado o poder do arrependimento...o arrependimento de ñ ter sabido exprimir melhor o q se sentia, o arrependimento de se ter proferido, pouco antes da morte, palavras implacáveis(!) q nem correspondiam a sentimentos reais, o arrependimento de não ter vivido a vida como se ela fosse acabar (assim tão) cedo...
Fiz-me entender...?;-)
Claramente! Aliás, desta vez!, eu já tinha percebido ;)
O que eu disse acima não era qualquer forma de correcção gramatical :) E foi, precisamente, por achar ter já percebido que escrevi aquilo...
«perante os mortos não nos é dado o poder do arrependimento...o arrependimento de ñ ter sabido exprimir melhor o q se sentia»
Exactamente! «exprimir melhor o que sentia»... EM VIDA!!! Daí a importância de que os «nossos vivos» percebam aquilo que sentimos por eles, a importância que eles têm... É que, muitas vezes, só nos damos conta dessa falha após a sua morte, quando o «nunca» é mesmo implacável...
A tua frase, quando é verdade, é uma inevitabilidade... A minha - que é o que dá origem à tua - ainda pode ser reversível...
Foi apenas uma tentativa de olhar para a mesma coisa de um outro ponto de vista...
Eu percebo - ou não!... não tenho argumentos para discutir isso... - o que custa essa impotência perante a implacabilidade do nunca... E é por isso que acho importante pôr a tónica naquilo que se aprende com aquilo que se lamenta...
É exactamente a mesma coisa, mas do ponto de vista que quem ainda cá está...
Sim?...
Nim!
Nem sempre depende de nós...por razões várias, por vezes, é 'o outro' q descrê...e depois nunca se pensa q o fim pode estar ao virar da esquina, a qq momento...
E é claro q aquela minha frase só tem sentido...depois!, mas tb te digo q nada altera saber-se q é assim...vai sempre acontecer 'os momentos perdidos', 'as oportunidades falhadas', 'as vidas por viver'...por mais q se tente, acho q é a invitabilidade da vida e da morte, como faces duma mesma moeda...
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