06/04/04

...memorizando...

...não, meu caro... (imaginando-te um outro diria, antes, "não, meu amor...") ...não é possível dizer-te o que (me) surpreende!...deixaria de ser surpresa, né!?!...não estás dentro do meu ser e, se estivesses, nunca me surpreenderias porque, então, saberias TUDO de mim...e aí, nada haveria para descobrir...surpreender! ...como se isso fosse possível!?!...nem eu sei tudo de mim e dou comigo, tantas vezes, a surpreender-me...

«...o "divino" está, exactamente, quando me adivinhas o que não vês e eu não te disse!...o "divino" está quando, por uma palavra, me adivinhas o pensamento...ou o q vou dizer/fazer a seguir!...»

...mas estar dentro - naquela medida que nos dá a cumplicidade vivida intensamente - pode dar-te a possibilidade de surpreender...o importante não é a surpresa em si...é aquele momento fugaz em que a mesma nos atinge...por vezes com uma violência tal que nos deixa marcas para sempre...não surpreende quem quer, mas quem pode...;-)

«...e sim, continuas a surpreender-me!...se bem que, na maior parte das vezes, duma forma negativa...mas, se isso me "provar" que estás vivo, perdoa-se o mal que faz, pelo bem que me traz à alma...»


...esperando que me perdoem o duplo plágio...deixo-te aqui algo que considero divinamente perfeito no momento presente...


«Disse para comigo
que se continuava a escrever sobre
o corpo morto do mundo e,

do mesmo modo
sobre o corpo morto do amor.


Que era nos estados de ausência
que o escrito se engolfava
para não substituir nada do que
tinha sido vivido
ou suposto tê-lo sido,

mas para ali consignar
o deserto por ele deixado.»



(Marguerite Duras, Verão 80)


in
vbm
21.11.2003 13:10
Re: Ninguém morrera hoje também [re: DeusExMachina]


(...obrigada, Inde...por me trazeres memórias à memória...)

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