"O DESENCANTO DO MUNDO"
por Pablo Capistrano (*)
Fotograma de Que Viva México! (1932), de Serguei Eisenstein
«Hoje, a ciência positiva reconheceu seus limites e o orgulho inicial que tomou conta da civilização tecnológica retrocedeu. Hoje, a civilização parece ansiar, letargicamente, pelo reencontro com a poesia. Mesmo que não haja uma consciência clara dessa ansiedade, ela se manifesta na microfísica de nossas relações cotidianas. O poder que a literatura tem de recriar o mundo, de “recolar” os fragmentos partidos de nossa vida pós-moderna, nunca foi tão urgente, nunca foi tão necessário. O poder que a palavra poética (o mythos presente na musikhé dos antigos) tem de reencantar o mundo pode ser um pharmakon bem mais instigante do que aqueles vendidos nos balcões de nossas farmácias. Sempre que o 14 de Março se aproxima eu penso nesse poder, vou a minha estante de livros e pego as palavras de Friedrich Hölderlin que sempre insiste em me lembrar que: “Poeticamente o homem habita esta terra”. Desencantar o mundo, esvaziar as coisas do fundamento poético que as constituí pode até ter nos dado belos e funcionais fornos de microondas, mas comprometeu os alicerces de nossa morada. Agora, que estamos sem assoalho e sem teto, lançados no amplo espaço entre as profundezas subterrâneas e o vazio das estrelas, precisamos reencontrar o caminho que nos leva à poesia que se esconde em cada pedaço do mundo.
(*) Escritor e Professor de Filosofia.»
in NO SILÊNCIO DA NOITE, de antonio júnior e a não deixar de visitar!!!
...soube-me bem conhecer este blog hoje e ler este texto...porque hoje estou desencantada!...vivemos num país de merda!!!:-(