Vida/Morte
Julguei estar sentado à beira de um passeio,
Coberto de pó do verão,e uma grande corrente
De gente apressada circulava,
Numerosa quanto os mosquitos no crepúsculo,
Todos em frente se precipitavam, mas nenhum sabia
De onde vinha, para onde ia, ou por que razão
Fazia parte daquela multidão, e assim
Era lavado pela gente como pelo céu
Uma das mil folhas de um mundo estival.
Velhos e novos, homens e crianças,
Pareciam fundidos numa corrente poderosa
Alguns fugindo daquilo que temiam e outros
Perseguindo o objecto do medo alheio,
E outros como caminhando para o túmulo
Contemplavam os pisados vermes rastejantes
E outros tristemente na escuridão entravam
Da sua sombra, morte lhe chamando
e alguns dela fugiam pois um espectro nela viam,
E no tormento desse vão afano desfaleciam
Mas mais, enredando-se nos seus próprios movimentos
Sombras perseguiam ou evitavam que as nuvens
Ou pássaros perdidos no céu da tarde
Projectavam no caminho onde nada crescia
E exaustos do esforço vão e fracos de sede
Não ouviam as fontes de onde o orvalho melodioso
Para sempre corre de grutas de musgo
E não sentiam a brisa que do bosque contava
de caminhos de erva e de clareiras disseminadas
Com sábios ulmos e grutas frescas,
e campos de violetas onde os sonhos crescem, mas
Perseguiam a sua séria loucura como se desde sempre o fizessem...
Shelley
[Poema sugerido por Lobo das Estepes]
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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW
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