11/12/05

Vodka e Valium 10 disse...

CÁRCERE

As noites de solidão sob as estrelas
No vazio do teu quarto
A casa encaixotada
O soalho
E as horríveis linhas paralelas até à parede
O nada absoluto
Que te faz vomitar e te tortura
Nessa letargia de junkie sem tempo
Fora do tempo
Tudo por um grama de pó
Não era isto a revolução
Não era esta a liberdade lisérgica que te estava prometida
E as cinzas vermelhas dos teus olhos
Em contrabando de afectos
Sentindo o vácuo
E o medo de não ter a merda do pó
De acordar sem a merda do pó
Os músculos rígidos
O poderoso nó no estômago
Que te faz saltar as tripas
O medo de não poderes fugir de ti
De não conseguires esquecer esse corpo
Tudo por um grama de pó
Não era isto a revolução
Não era esta a liberdade lisérgica que te estava prometida
Esse corpo que já não serve para nada
Retalhado na sua cosmogonia
Que te tortura na sua inactividade
Que te prende agora ao quotidiano metálico da prisão
Morto nos odores da humidade
Dejecto pútrido
Esperma
Em valsas sonhadas no ressonar da noite de cimento que te envolve

[Adolfo Luxúria Canibal ]

"Cárcere" é rock'n'roll embriagado, jogo de guitarras rock-blues a relembrar "Latrina", potencial single se palavras como "merda", "dejecto pútrido" e "espermas" não assustassem os autómatos programadores das nossas rádios. Está nesta canção a chave do conceito do disco. Na afirmação "não era esta a liberdade lisérgica que te estava prometida", Adolfo sintetiza o sentimento de uma geração que foi a sua, mas que facilmente se transporta para outras gerações e outros sonhos por completar. "Cárcere" é a "casa encaixotada", a "letargia de junkie sem tempo", "o medo de não poderes fugir de ti".



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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW

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